Governo da Colômbia avança na justiça fiscal

O pre­si­dente da Colômbia, Gus­tavo Petro, apre­sentou um plano para taxar a ri­queza e com­bater a po­breza na Colômbia. Es­timou que a me­dida pre­vista – terá de ser apro­vada pelo par­la­mento – po­derá ar­re­cadar cerca de 11,5 mil mi­lhões de dó­lares. A verba ser­virá para com­bater a po­breza, des­ti­nando-a a me­didas de apoio so­cial e de acesso ao en­sino pú­blico, ao en­sino su­pe­rior pú­blico e gra­tuito e a pro­gramas de as­sis­tência so­cial.

A pro­posta passa por au­mentar os im­postos aos dois por cento mais ricos, cortar-lhes os be­ne­fí­cios fis­cais e com­bater a evasão fiscal. Pre­tende-se também aplicar a pro­gres­si­vi­dade fiscal à me­dida que a ri­queza au­menta, cri­ando um im­posto sobre for­tunas que ul­tra­passem os 630 mil dó­lares, bem como um outro sobre as grandes ex­por­ta­ções do país, como o pe­tróleo e o carvão.

Face à opo­sição da di­reita a essas me­didas, Petro sus­tenta a pro­posta afir­mando que ela não deve ser vista como uma pu­nição ou sa­cri­fício, sendo «sim­ples­mente um pa­ga­mento so­li­dário que al­guém afor­tu­nado faz a uma so­ci­e­dade que lhe per­mitiu gerar ri­queza».

Com­pro­misso com re­forma agrária

En­tre­tanto, a vice-pre­si­dente do país, Francia Már­quez, afirmou que o go­verno avan­çará com a re­forma agrária para pro­curar equi­dade no acesso à terra, mas pediu à po­pu­lação que res­peite a posse e a pro­pri­e­dade. As de­cla­ra­ções surgem de­pois de no­tí­cias de ocu­pação de pro­pri­e­dades em al­gumas zonas do país, como Cauca, César e ou­tros de­par­ta­mentos.

Nesse sen­tido, as­se­gurou que o novo go­verno res­peita as leis do país e as ins­ti­tui­ções. «Quem pro­mover ocu­pa­ções di­fi­culta a gestão go­ver­na­mental e pode ser in­cul­pado pelas au­to­ri­dades», ex­plicou a vice-pre­si­dente.

As­se­gurou que a nova ad­mi­nis­tração está dis­posta a saldar a dí­vida his­tó­rica que existe na Colômbia com quem quiser aceder, me­di­ante diá­logo e não com vi­o­lência, a este pro­cesso de de­mo­cra­ti­zação da pro­pri­e­dade.

«Con­ti­nu­amos com o com­pro­misso da con­quista da paz para a Colômbia, da jus­tiça so­cial e da con­vi­vência pa­cí­fica», in­sistiu, des­ta­cando que o pro­grama de go­verno es­ta­be­lece a con­cre­ti­zação até à igual­dade dos di­reitos de todos os co­lom­bi­anos. Além disso, rei­terou o com­pro­misso de en­tregar ao par­la­mento um pro­jecto de lei para avançar com a re­forma agrária in­te­gral de que o país ne­ces­sita.

«Como go­verno, dis­semos que as pro­pri­e­dades que se en­con­tram em poder da So­ci­e­dade de Ac­tivos Es­pe­ciais des­tinar-se-ão às pes­soas mais vul­ne­rá­veis, aos que se en­con­tram nas zonas de alto risco, a co­o­pe­ra­tivas, mu­lheres e jo­vens», ex­plicou. Isso im­plica um pro­cesso que deve re­sultar, na me­dida em que muitas dessas pro­pri­e­dades estão em pro­cesso de ex­tinção de do­mínio, disse, acres­cen­tando que se deve fazer uma aná­lise para a en­trega destas pro­pri­e­dades a quem mais ne­ces­sitar delas.

A Colômbia, agora com um go­verno pro­gres­sista, so­freu vá­rios pe­ríodos de vi­o­lência, que ainda per­sistem, e a mai­oria desses con­flitos tem as suas raízes no pro­blema da posse da terra.

A in­justa dis­tri­buição da terra trouxe con­sigo po­breza do cam­pe­si­nato e vi­o­lência es­tatal, fac­tores que con­du­ziram a que em di­versas oca­siões os tra­ba­lha­dores do campo ti­vessem pe­gado em armas para de­fender as suas vidas e o bem-estar so­cial e eco­nó­mico.

O Acordo de Paz as­si­nado entre o go­verno do ex-pre­si­dente Juan Ma­nuel Santos e as então Forças Ar­madas Re­vo­lu­ci­o­ná­rias da Colômbia – Exér­cito do Povo es­ta­be­lece logo no seu pri­meiro ponto fazer uma re­forma agrária com o ob­jec­tivo de eli­minar as causas que ori­gi­naram a guerra. Con­tudo, no man­dato pre­si­den­cial de Iván Duque (2018-2022), não se tocou na questão e a re­forma agrária acor­dada nunca saiu do papel.

O pre­si­dente Gus­tavo Petro, du­rante a sua cam­panha elei­toral, pro­meteu cum­prir o es­ta­be­le­cido no acordo, o que agora foi rei­te­rado pela vice-pre­si­dente Francia Már­quez.




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