O impacto das sanções nos povos mais vulneráveis
O Conselho de Assuntos Económicos e Financeiros da UE aprovou, na sua reunião de 12 de Julho, a mobilização de 600 milhões de euros resultantes da anulação de projectos dos 10.º e 11.º Fundo Europeu de Desenvolvimento, para “financiar acções que beneficiem a produção alimentar e a resiliência dos sistemas alimentares” nos países de África, das Caraíbas e do Pacífico.
No passado dia 10 de Junho, Macky Sall, Presidente do Senegal e da União Africana, reuniu-se com o presidente russo com o objectivo de “contribuir para uma trégua do conflito na Ucrânia e para a libertação das reservas de cereais e fertilizantes”, apesar das tentativas de pressão para que essa reunião não ocorresse. No final desta reunião Sall veio dizer o que tinha dito num encontro com líderes europeus e que as pressões tentavam evitar, ou seja, que as “sanções contra a Rússia agravaram a situação do abastecimento de cereais e fertilizantes aos países africanos”.
Após estas declarações, os líderes da UE, nomeadamente Borrell, vice-presidente da Comissão Europeia, têm-se dedicado a contrapor que os problemas de abastecimento alimentar e de aumento dos preços dos cereais (mais de 60% desde o início da guerra, segundo o Banco Africano de Desenvolvimento) não se deve às sanções mas ao facto de a guerra ter impedido a exportação dos cereais ucranianos; e em explicar os “benefícios” destas sanções, de que é elucidativo o artigo de Borrell para o diário espanhol ABC “Moscovo terá de escolher entre a manteiga e as armas”.
Cerca de 50% dos cereais importados para o continente africano são oriundos da Ucrânia e da Rússia, no entanto o valor das importações da Ucrânia ascende a 2,9 mil milhões de dólares, enquanto da Rússia se cifra em 4 mil milhões de dólares, ou seja, a dificuldade ou impossibilidade de importação de produtos agrícolas russos tem um impacto muito mais significativo no conjunto das importações. Se também é certo que as sanções não invalidam as relações comerciais entre os países africanos e a Rússia, que na sua maioria as mantêm, também é certo que as sanções, nomeadamente a exclusão da Rússia do sistema SWIFT, entre outras, têm praticamente impossibilitado o pagamento e fornecimento das mercadorias importadas.
Enquanto os líderes do “Ocidente” estão empenhados em que a Rússia se veja obrigada em escolher entre a manteiga e as armas, o povo russo, o povo ucraniano e os povos da Europa sofrem diariamente o impacto da guerra, das sanções e dos aproveitamentos que delas é feito, e há povos no mundo que terão ainda mais dificuldades em se alimentar.
Se não houvesse já evidências suficientes, esta seria mais uma de a quem servem a guerra e as sanções. E não é aos trabalhadores nem aos povos do mundo.