Georgi Dimitrov: dois momentos da vida de um revolucionário

Gustavo Carneiro

«Trabalho de massas, luta de massas, resistência de massas, frente única, nenhumas aventuras»

Georgi Dimitrov foi um dos mais destacados dirigentes comunistas da primeira metade do século XX: o seu exemplo de revolucionário corajoso, lúcido e firme inspirou milhões de comunistas (e não só) nos duros tempos de combate ao nazi-fascismo; os seus relevantes contributos teóricos e práticos foram determinantes para a vitória nesse mesmo combate.

Nascido a 18 de Junho de 1882 numa aldeia a 60 quilómetros de Sófia, capital da Bulgária, Georgi Mikhailov Dimitrov foi operário tipógrafo, líder sindical, dirigente do Partido Comunista Búlgaro, Secretário-geral da Internacional Comunista e primeiro presidente da República Popular da Bulgária: organizou greves e insurreições, viveu clandestino, esteve preso e deportado, ajudou ao crescimento e afirmação de diversos partidos, elaborou documentos fundamentais do movimento comunista internacional, desbravou caminhos de edificação do socialismo.

Da sua intensa e valiosa vida de revolucionário, dois momentos elevam-se acima dos outros: a defesa perante o tribunal nazi, em 1933, e o relatório que dois anos depois apresentou ao VII Congresso da Internacional Comunista.

Das prisões do nazi-fascismo...

No início de 1933, Dimitrov foi preso na Alemanha, acusado do incêndio do parlamento alemão, que os nazis anunciaram como sendo o sinal para um levantamento comunista no país. Com ele, outros dois comunistas búlgaros, Vassili Tanev e Blagoi Popov, e o holandês Marinus Van der Lubbe, peão involuntário do que se viria a confirmar como um plano do partido de Hitler (e dos monopólios que o sustentavam) rumo à ditadura terrorista: a vaga repressiva que acompanhou o julgamento-espectáculo atingiu severamente o Partido Comunista Alemão, mas não poupou as restantes forças políticas.

Algemado, isolado, privado de advogado, Dimitrov assumiu a sua própria defesa. Desmascarando uma após outra as testemunhas de acusação, quase todas oriundas das fileiras do Partido Nacional-Socialista (incluindo os ministros do Reich Hermann Göering e Joseph Goebbels), o revolucionário búlgaro desvendou o tenebroso plano dos nazis, denunciando-os como os verdadeiros incendiários.

Não foi só a sua própria defesa, e a dos seus camaradas, que Dimitrov assumiu nos tribunais de Leipzig e Berlim, mas também do ideal a que dedicara a vida, da União Soviética, da Internacional Comunista: «Trabalho de massas, luta de massas, resistência de massas, frente única, nenhumas aventuras», afirmou na ocasião, numa magnífica síntese da táctica dos comunistas – ainda hoje tão acertada e mobilizadora.

A clareza dos argumentos, a sagacidade do raciocínio, a firmeza política e a coragem demonstrada não deixaram ao «tribunal» outra hipótese se não absolver os três comunistas búlgaros.

Dimitrov impôs ao nazi-fascismo a sua primeira derrota.

à Internacional

Dos cárceres nazis, Dimitrov rumou à União Soviética, onde cedo assumiu funções como Secretário-geral da Internacional Comunista, que manteve até à dissolução, em 1943. Nessa qualidade, assumiu um papel central na preparação e realização do histórico VII Congresso, de Agosto de 1935, cujas análises, conclusões e orientações tiveram um papel de primeiro plano na resistência e vitória sobre o nazi-fascismo.

Foi de Dimitrov o relatório principal do Congresso, intitulado A ofensiva do fascismo e as tarefas da Internacional Comunista na luta da classe operária contra o fascismo. Nele, entre outros relevantes aspectos, salienta-se a «necessidade de criação de uma larga frente das forças antifascistas, assente na unidade da classe operária», como resumiu Álvaro Cunhal em 1965. As novas orientações permitiram o desenvolvimento dos partidos comunistas e a criação de amplas frentes de resistência antifascista, determinantes para a vitória sobre o nazi-fascismo, para o derrube do colonialismo, para a conquista de amplos direitos democráticos.

E, de então para cá, para a luta dos comunistas pela liberdade, a democracia, a paz e o socialismo.




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