- Nº 2534 (2022/06/23)

Georgi Dimitrov: dois momentos da vida de um revolucionário

Argumentos

Georgi Dimitrov foi um dos mais destacados dirigentes comunistas da primeira metade do século XX: o seu exemplo de revolucionário corajoso, lúcido e firme inspirou milhões de comunistas (e não só) nos duros tempos de combate ao nazi-fascismo; os seus relevantes contributos teóricos e práticos foram determinantes para a vitória nesse mesmo combate.

Nascido a 18 de Junho de 1882 numa aldeia a 60 quilómetros de Sófia, capital da Bulgária, Georgi Mikhailov Dimitrov foi operário tipógrafo, líder sindical, dirigente do Partido Comunista Búlgaro, Secretário-geral da Internacional Comunista e primeiro presidente da República Popular da Bulgária: organizou greves e insurreições, viveu clandestino, esteve preso e deportado, ajudou ao crescimento e afirmação de diversos partidos, elaborou documentos fundamentais do movimento comunista internacional, desbravou caminhos de edificação do socialismo.

Da sua intensa e valiosa vida de revolucionário, dois momentos elevam-se acima dos outros: a defesa perante o tribunal nazi, em 1933, e o relatório que dois anos depois apresentou ao VII Congresso da Internacional Comunista.

Das prisões do nazi-fascismo...

No início de 1933, Dimitrov foi preso na Alemanha, acusado do incêndio do parlamento alemão, que os nazis anunciaram como sendo o sinal para um levantamento comunista no país. Com ele, outros dois comunistas búlgaros, Vassili Tanev e Blagoi Popov, e o holandês Marinus Van der Lubbe, peão involuntário do que se viria a confirmar como um plano do partido de Hitler (e dos monopólios que o sustentavam) rumo à ditadura terrorista: a vaga repressiva que acompanhou o julgamento-espectáculo atingiu severamente o Partido Comunista Alemão, mas não poupou as restantes forças políticas.

Algemado, isolado, privado de advogado, Dimitrov assumiu a sua própria defesa. Desmascarando uma após outra as testemunhas de acusação, quase todas oriundas das fileiras do Partido Nacional-Socialista (incluindo os ministros do Reich Hermann Göering e Joseph Goebbels), o revolucionário búlgaro desvendou o tenebroso plano dos nazis, denunciando-os como os verdadeiros incendiários.

Não foi só a sua própria defesa, e a dos seus camaradas, que Dimitrov assumiu nos tribunais de Leipzig e Berlim, mas também do ideal a que dedicara a vida, da União Soviética, da Internacional Comunista: «Trabalho de massas, luta de massas, resistência de massas, frente única, nenhumas aventuras», afirmou na ocasião, numa magnífica síntese da táctica dos comunistas – ainda hoje tão acertada e mobilizadora.

A clareza dos argumentos, a sagacidade do raciocínio, a firmeza política e a coragem demonstrada não deixaram ao «tribunal» outra hipótese se não absolver os três comunistas búlgaros.

Dimitrov impôs ao nazi-fascismo a sua primeira derrota.

à Internacional

Dos cárceres nazis, Dimitrov rumou à União Soviética, onde cedo assumiu funções como Secretário-geral da Internacional Comunista, que manteve até à dissolução, em 1943. Nessa qualidade, assumiu um papel central na preparação e realização do histórico VII Congresso, de Agosto de 1935, cujas análises, conclusões e orientações tiveram um papel de primeiro plano na resistência e vitória sobre o nazi-fascismo.

Foi de Dimitrov o relatório principal do Congresso, intitulado A ofensiva do fascismo e as tarefas da Internacional Comunista na luta da classe operária contra o fascismo. Nele, entre outros relevantes aspectos, salienta-se a «necessidade de criação de uma larga frente das forças antifascistas, assente na unidade da classe operária», como resumiu Álvaro Cunhal em 1965. As novas orientações permitiram o desenvolvimento dos partidos comunistas e a criação de amplas frentes de resistência antifascista, determinantes para a vitória sobre o nazi-fascismo, para o derrube do colonialismo, para a conquista de amplos direitos democráticos.

E, de então para cá, para a luta dos comunistas pela liberdade, a democracia, a paz e o socialismo.


Gustavo Carneiro