Luta a crescer por salários e direitos
A acção de luta nacional convocada pela CGTP-IN, que culmina a 7 de Julho, está a ter forte repercussão em múltiplas empresas e sectores, com paralisações, plenários e concentrações.
Crescimento dos lucros não beneficiou trabalhadores
Num balanço ao primeiro de três dias de greve na Docapesca (convocada para 9, 11 e 13), o Sindicato dos Trabalhadores da Marinha Mercante, Agências de Viagens, Transitários e Pescas (Simamevip), garantia que a maioria das lotas esteve encerrada. Das principais, Sesimbra terá sido a excepção. Em declarações à Lusa, o dirigente sindical Frederico Pereira realçava que «numa ou em outra lota esteve apenas um trabalhador a fazer alguns serviços». A utilização ilegal de trabalhadores em algumas delas motivou já a apresentação de uma queixa formal por parte do sindicato.
Os trabalhadores reclamam sobretudo a valorização dos salários, numa empresa em que perto de 60 por cento aufere o salário mínimo. A proposta de 10 euros foi considerada «inaceitável» pelo sindicato. A empresa anunciou negociações para a revisão global das tabelas, caso a greve fosse suspensa. O sindicato, por seu lado, garante estar disponível para continuar a negociar após a paralisação.
Também no dia 9, os trabalhadores da Imprensa Nacional – Casa da Moeda manifestaram-se contra a intenção da empresa de retirar direitos há muito consagrados. O Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras do Centro, Sul e Regiões Autónomas (SITE-CRSA) acusa a administração de remeter para segundo plano as condições de vida e de trabalho. João Ferreira, da Comissão Política e vereador do PCP na Câmara Municipal de Lisboa, dirigiu-se ao piquete de greve.
No mesmo dia, registava-se às primeiras horas da manhã uma adesão de 90 por cento à greve na Empresa Municipal de Estacionamento de Lisboa (EMEL), garantia o CESP. Na base da paralisação estava a falta de resposta da Câmara Municipal e da empresa para encetar negociações salariais, explicou Orlando Gonçalves, dirigente do Sindicato do Comércio e Serviços, filiado na CGTP-IN.
O aumento proposto de 25 euros, aceite já pelo sindicato da UGT, é «insuficiente», até porque a empresa atingirá este ano, em termos de receitas, «valores pré-pandemia». O que está em causa, garantiu o sindicalista, é uma opção de não valorizar os trabalhadores.
Lucros disparam e salários perdem
Dois dias antes, a 7, realizou-se um conjunto de concentrações junto das associações patronais de vários sectores da indústria, centradas na exigência de aumentos salariais e outras matérias colocadas para negociação pela Fiequimetal. Num desfile entre Algés e Lisboa, cerca de duas centenas de representantes dos trabalhadores dos sectores farmacêutico, gráfico e de material eléctrico reclamaram aumentos de 90 euros para todos os trabalhadores, a valorização das carreiras profissionais e a melhoria das condições de trabalho, especialmente nos regimes de turnos.
Nos últimos anos, sustenta a federação sindical, os sectores em causa acumularam muitos milhões de euros de lucros e não poucos apoios públicos, o que não se reflectiu nos salários dos trabalhadores. Trata-se de sectores, denuncia a Fiequimetal, «em que, na generalidade das empresas, os salários-base ainda não atingiram, em média, os 900 euros».
No grupo Sonae, os trabalhadores entregaram à administração, no dia 8, um abaixo-assinado com 1300 assinaturas exigindo a revisão do modelo de avaliação, que dizem provocar «situações de discriminação». A Secretária-geral da CGTP-IN, Isabel Camarinha, esteve presente em solidariedade com os trabalhadores e suas reivindicações.
Como explicou no local o dirigente do CESP Luís Figueiredo, em causa estão situações como o horário flexível devido à parentalidade, com reflexos negativos na avaliação, e mesmo os «castigos» com um ou dois pontos na escala de avaliação daqueles que tenham alguma reivindicação específica no local de trabalho ou até mesmo questões familiares.
O sindicato acusa ainda a Sonae de, na qualidade de presidente da associação patronal APED, estar desde 2016 a bloquear a negociação do contrato colectivo. Apesar dos lucros de 268 milhões em 2021, os mais altos em oito anos, a Sonae rejeitou ainda «todos os pontos do caderno reivindicativo apresentados pelos trabalhadores».
Permanente e contínua
Para hoje, 15, está marcada uma greve na DHL Chain Supply com piquetes e concentrações nos armazéns da Azambuja (10h00) e de Vila Nova da Rainha (14h00). Os trabalhadores reclamam 90 euros de aumento, valorização do subsídio de alimentação em um euros por dia, o fim dos critérios discriminatórios na atribuição de prémios. O CESP realça que os trabalhadores da DHL «ganham salários de miséria, poucos euros acima do salário mínimo nacional».
No sector das telecomunicações, houve greve na Intelcia nos dias 11 e 13, estando previstas mais duas, a 24 e 29 deste mês. O Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações (SNTCP) entregou também às empresas de trabalho temporário Randstad, Manpower, Vertente Humana e RH+ um pré-aviso de greve para os trabalhadores dos centros de contacto para os dias 11, 13 e 24 de Junho.
«Pelo aumento dos salários e pensões, contra o aumento do custo de vida e ataque aos direitos» é o lema da acção de luta nacional da CGTP-IN, que enquadra as lutas que estão em curso por todo o País. A jornada prolonga-se até 7 de Julho, dia de luta no qual se integra uma manifestação nacional.