Prestar homenagem a Catarina Eufémia confirmar a luta pelos mesmos objectivos e ideais
Hoje como ontem, a luta de massas, a sua intensificação e ampliação, constitui o instrumento essencial da acção dos trabalhadores na resposta à exploração. Luta que, hoje como ontem, contará com o apoio do PCP e com o contributo dos comunistas – reafirmou Jerónimo de Sousa, ao intervir num comício de homenagem a Catarina Eufémia, em Baleizão.
PCP homenageou Catarina Eufémia, em Baleizão, no 68.º aniversário do seu assassinato
Ao evocar Catarina Eufémia, mulher trabalhadora e mãe, militante comunista, «homenageamos na sua pessoa todos os antifascistas que perderam a vida ou sofreram as consequências da sua opção de fazer frente ao odioso regime fascista – essa ditadura terrorista dos monopólios e dos latifundiários». E «evocamos todos aqueles que lutaram pela liberdade, pela dignidade de quem trabalha e todos aqueles que, nas mais diversas condições, não desistem da luta pela transformação social, pelo aprofundamento da democracia, por um Portugal de progresso e de justiça, por uma sociedade liberta da exploração».
Palavras do secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, no domingo, 22, em Baleizão (Beja), na homenagem anual que os comunistas prestam à camponesa alentejana, que «tombou às balas assassinas das forças fascistas, nesse trágico dia 19 de Maio de 1954, quando tomava a frente da luta do heróico povo trabalhador de Baleizão, em greve por melhores salários e contra a exploração».
No comício, com a praça cheia, Jerónimo de Sousa dedicou uma parte da intervenção à luta nos nossos dias, no País: «Tal como no passado, os trabalhadores e o nosso povo travam hoje uma batalha contra a desvalorização dos seus salários, das suas reformas e pela sua valorização, e em defesa das suas condições de vida e pelo direito ao trabalho com direitos. A pretexto da guerra e das sanções, assistimos ao crescente agravamento da situação económica e social, onde a salvaguarda dos lucros dos grupos monopolistas toma a dianteira, em detrimento da salvaguarda das condições de vida do povo, agora também a braços com um galopante aumento do custo de vida que “come” o valor dos salários e reformas».
Um autêntico assalto ao bolso de quem trabalha
Para o dirigente do PCP, «o que aí está é um autêntico assalto ao bolso de quem trabalha, da parte dos grupos económicos, com os seus aumentos especulativos dos bens essenciais, dos alimentares à energia, dos combustíveis aos transportes, à água e habitação, e com a perspectiva de tudo se agravar com o anunciado aumento das taxas de juros».
Criticou o Partido Socialista: «Dizia o PS, na campanha eleitoral, que os salários e as reformas eram para valorizar e reforçar o seu peso no PIB. Hoje, apanhado com a maioria absoluta que ambicionava e de mãos livres, o seu governo esqueceu a promessa e, perante a desvalorização acentuada dos salários e das reformas com a taxa da inflação no mês de Abril a chegar aos 7,2%, prepara-se e está já a fazer o contrário do que anunciou». Mais: «Em vez de agir e decidir para travar a escalada dos preços e promover o aumento dos salários e reformas, fica-se pela política das meias-tintas, deixando em roda livre a especulação e o acumular de lucros desmedidos pelo grande capital. Há dias foram anunciados os resultados do primeiro trimestre da Galp. Os seus lucros cresceram quase 500% em relação ao mesmo período do ano passado».
Segundo Jerónimo de Sousa, «o que se vê é a recusa por parte do Governo do aumento geral dos salários, de todos os salários, no sector público e no sector privado, quando ele é hoje ainda mais necessário para fazer face ao aumento do custo de vida». O mesmo acontece com os reformados e pensionistas, explicou: «O governo continua a recusar um aumento geral de todas as pensões que permita fazer face à inflação e recuperar poder de compra. E mesmo os reformados e pensionistas com pensões mais baixas que vão agora completar o recebimento, com retroactivos, do aumento de 10 euros que ficou instituído a partir de 2017 por iniciativa do PCP, vão ficar condenados a perder poder de compra. Os 10 euros já foram, entretanto, “comidos” pelo aumento dos preços e ainda estamos em Maio».
Para o secretário-geral do PCP, «este deixar andar e fechar os olhos à especulação e à exploração» está bem patente na proposta governamental do primeiro Orçamento do Estado para 2022 em discussão na Assembleia da República, proposta em que «não se vêem as soluções para estes e para outros problemas essenciais para o desenvolvimento do País».
Subir salários e pensões, descer preços da energia
Foi para dar resposta a esses problemas, que o PS não quer assumir, que o PCP apresentou para a discussão do Orçamento do Estado na especialidade cerca de 300 propostas, para fazer face aos múltiplos problemas com que os trabalhadores, o povo e o País estão confrontados, com prioridade à reposição e valorização dos rendimentos, dos salários e das pensões, à regulação e a descida dos preços da energia, ao reforço dos serviços públicos, com destaque para a valorização do Serviço Nacional de Saúde e da Escola Pública com medidas para reforçar o número de trabalhadores e a valorização dos seus direitos. Os comunistas dão particular atenção e destaque à questão do aumento geral dos salários para todos os trabalhadores, do sector privado e da Administração Pública, porque ele «é uma emergência nacional, tal como ao aumento das reformas».
Jerónimo de Sousa reafirmou que o aumento geral dos salários para todos os trabalhadores é possível e necessário, valoriza os trabalhadores, dinamiza a economia, dá sustentabilidade à Segurança Social, constrói reformas dignas no futuro de cada um. Num País confrontado com problemas demográficos, baixa natalidade, quando centenas de milhares de jovens foram empurrados para a emigração, quando precisamos de fixar no nosso País as novas gerações, é essencial o aumento geral dos salários e o emprego com direitos, reafirmou. E garantiu: «Nós não desistiremos. Nós não vamos cruzar os braços e assistir à degradação das condições de vida dos trabalhadores e do povo, como se projecta com as opções do novo governo do PS mas, hoje como ontem, a luta de massas, a sua intensificação e ampliação, constitui o instrumento essencial da acção dos trabalhadores na sua resposta à exploração. Luta que, hoje como ontem, contará com o apoio do PCP e com o contributo dos militantes comunistas».
O que é difícil e parece impossível pode ser alcançado com luta organizada
Na sua intervenção, evocando Catarina Eufémia, Jerónimo de Sousa citou palavras de Álvaro Cunhal, em Maio de 1974, em Baleizão: «Catarina tornou-se uma lendária heroína popular, orgulho do glorioso proletariado rural alentejano, orgulho de todos os trabalhadores portugueses, orgulho do Partido». O secretário-geral do PCP assegurou que «é com esse orgulho comunista que hoje prosseguimos a luta».
Na verdade, disse, o sacrifício de Catarina não foi em vão: o seu exemplo de luta ficou gravado na memória do proletariado rural da zona do latifúndio e foi bandeira das muitas lutas que se sucederam nos anos seguintes, que viriam a desaguar na maré alta da luta do proletariado rural do Alentejo e do Ribatejo.
Lembrou que, há seis décadas, em Maio de 1962, oito anos após o assassinato de Catarina, em Baleizão e em toda a zona do latifúndio, os assalariados rurais alcançaram a sua mais significativa vitória de sempre: a conquista do horário das oito horas, «pondo termo a essa forma de escravatura que era o trabalho de sol a sol e infligindo assim uma pesada derrota ao fascismo».
Para o secretário-geral do PCP, tratou-se de uma conquista indissociável quer da luta e da acção persistente e determinada dos muitos homens e mulheres que, como Catarina Eufémia, «não temeram, enfrentaram a besta fascista», quer da acção do Partido Comunista Português, que assumindo o seu papel de partido dos trabalhadores foi determinante na unidade do proletariado agrícola e na organização dessa luta heróica.
Os agrários de então, suporte do regime fascista, «não queriam abrir mão, usavam o aparelho repressivo, prendiam, torturavam e quando a luta se complicou, e tudo indicava que seria impossível alcançar essa histórica conquista, o Partido não desistiu, puxou pela luta, os trabalhadores lutaram e o que parecia impossível tornou-se realidade!»
Mais de 200 mil assalariados rurais, «fortalecidos por uma determinação inabalável, unidos como os dedos da mão», fizeram nesse Maio dos campos do Alentejo e do Ribatejo o cenário da «mais importante e significativa luta alguma vez levada a cabo no nosso País no tempo do fascismo».
Jerónimo de Sousa destacou que «apesar de enormes dificuldades e da repressão, a vida confirma que mesmo nas mais duras condições, com a luta, a unidade e a organização dos trabalhadores e do povo e a força do Partido, o que é difícil e parece impossível pode ser alcançado!»