O legado histórico de Alexandra Kollontai e a sua importância hoje
Alexandra Kollontai foi Comissária do Povo para a Saúde e Bem-Estar Social do governo dos Sovietes
Alexandra Kollontai nasce a 31 de Março de 1872 em São Petersburgo. À época, mais de 70% da população russa era camponesa e 80% analfabeta, vivia-se em condições de extrema precariedade e o operariado batia-se contra a brutal repressão czarista. É neste contexto que Kollontai assume um papel determinante na luta pela emancipação da classe operária e, em especial, da mulher operária, passando a integrar, em 1905, o Partido Operário Social-Democrata da Rússia e, em seguida, após a constatação das inultrapassáveis diferenças ideológicas entre mencheviques e bolcheviques, no recém-formado Partido Bolchevique.
Participa intensamente na organização das mulheres trabalhadoras no seio partidário reconhecendo, de forma interdependente, a emancipação política, económica e sexual da mulher como condição essencial para o triunfo da Revolução de 1917, e a Revolução Socialista como condição absoluta para a emancipação real da mulher.
Olha desde cedo, e com profunda clareza, para a ineficácia de uma luta pelos direitos das mulheres desligada da luta de classes e da emancipação última de todos os trabalhadores; acusando, por conseguinte, de inocuidade a ideia de uma solidariedade entre mulheres, transversal a classes, que era defendida pelas suas contemporâneas burguesas. Estas, buscando igualdade no contexto da existente sociedade de classes, lutavam por prerrogativas individualistas e liberais, testemunho do antagonismo dos seus interesses e aspirações (reformistas) em relação aos interesses e aspirações (revolucionários) das mulheres proletárias.
É num sistema edificado sob a exploração dos trabalhadores, nos quais se inclui a mulher proletária, que as mulheres burguesas são capazes de avançar as suas reivindicações por direitos iguais.
Será necessário analisar a opressão específica da mulher, a sua subordinação no contexto laboral e familiar, reconhecendo, porém, não o sexo masculino mas o modo de produção capitalista como aquilo que dá base e perpetua essa opressão, definindo, assim, a luta pelos direitos das mulheres como parte integrante (e essencial) da luta de classes. A emancipação real da mulher só será concretizável numa sociedade organizada segundo lógicas produtivas e sociais distintas das capitalistas; e, neste sentido, somente o projecto comunista faz da emancipação das mulheres um aspecto programático sério dos seus objectivos políticos.
O profundo impacto da Revolução Russa na situação do proletariado feminino vem, pois, concretizar, num processo sem precedentes na história mundial, a participação da mulher em todos os sectores da vida pública, sócio-política, material e cultural do país, em condições de integral dignidade e igualdade com os seus pares masculinos, desestabilizando os enraizados pressupostos da sua condição de subalternidade.
Kollontai é, neste contexto, e enquanto Comissária do Povo para a Saúde e Bem-Estar Social do governo dos Sovietes, figura central na aprovação de medidas legislativas como a despenalização do aborto, o direito ao divórcio sem restrições, o combate à prostituição, a protecção legal e benefícios sociais para a maternidade, as creches infantis, as cantinas públicas, os livros escolares gratuitos e o enquadramento legal de novas formas de relacionamento entre homens e mulheres, que têm um impacto profundo nas condições de vida das mulheres trabalhadoras e que merecem a nossa atenção ainda hoje.