Sessão da JCP sobre lutas de 1962 realçou unidade dos estudantes
A JCP assinalou os 60 anos da «crise académica», numa iniciativa onde foram destacadas as características do movimento estudantil e o papel dos comunistas para preservar a unidade e a ligação ao povo.
A JCP apela ao aprofundamento da unidade e à mobilização para a acção
A sessão, no auditório do CT Vitória, em Lisboa, com intervenção de Albano Nunes, membro da Comissão Central de Controlo do PCP, teve lugar na sexta-feira, 25, um dia depois da grande manifestação estudantil (que noticiamos nas páginas seguintes). Teve por tema «60 anos da crise académica de 1962 – Pelo ensino público, gratuito, democrático e de qualidade» e conteve vários elementos de ligação à situação presente.
A dirigir a iniciativa, João Pereira lembrou que o orador convidado teve participação activa nos acontecimentos de 1962.
Enquanto Miguel Fitas, com a sua guitarra portuguesa, tocava temas de Carlos Paredes, foram chegando mais jovens e a plateia cresceu ainda mais alguns lugares.
«A partir da unidade na luta e da luta organizada, os estudantes alcançam as mais impressionantes vitórias», começou por assinalar Inês Guerreiro. Intervindo enquanto dirigente da Juventude Comunista Portuguesa (membro da sua Comissão Política), focou esta «lição que podemos retirar das crises académicas e de todos os combates que as precederam e que se seguiram».
«Para juntarem as suas forças numa grande manifestação», vieram, no dia 24, estudantes de todo o País. Mas este Dia do Estudante foi antecedido de lutas «ao longo dos últimos meses», que «assumiram diversas reivindicações».
A jovem dirigente deixou o apelo da JCP «ao aprofundamento da unidade e à mobilização para a intervenção nas universidades e politécnicos, consciencializando e alargando o caudal da luta», tanto pela resolução de problemas específicos, como por questões mais gerais.
Os estudantes comunistas, «herdeiros da luta do movimento estudantil e da história do Partido», tal como durante as crises académicas, «assumem o seu papel, que vem adquirindo uma importância redobrada», pois «onde estamos, fazemos a diferença, unificamos e agitamos».
Albano Nunes notou que «sucessivas gerações de estudantes apoiaram-se em anteriores experiências para o desenvolvimento da sua luta», o que foi «particularmente nítido durante o fascismo». Nesse período, o movimento estudantil «afirmou-se como uma importantíssima componente do movimento popular e democrático» e «o fascismo perdeu a batalha da fascização das universidades».
Considerou que a sessão «é tanto mais oportuna, quanto assistimos a interpretações que deformam a realidade histórica e a instrumentalizam, para objectivos que nada têm a ver com os generosos ideais que uniram os estudantes em poderosas jornadas de luta pela liberdade».
A chamada crise académica de 1962, sublinhou Albano Nunes, «constituiu uma das expressões mais massivas da resistência estudantil à ditadura fascista» e foi «a primeira das grandes lutas dos estudantes que, com o Maio de 1968 francês, varreram a Europa» naquela década.
«Com a ocupação da Cidade Universitária de Lisboa e a violenta carga da polícia de choque sobre os milhares de estudantes que desfilavam no Campo Grande, abriu-se um prolongado período de dura confrontação entre os estudantes e o Governo», marcado por «uma repressão violentíssima» mas também por «corajosas e espectaculares formas de luta».
A força do movimento
A força adquirida pelo movimento estudantil português, patente nas lutas da década de 1960, «assentou fundamentalmente» em quatro traços, observou Albano Nunes:
– a capacidade para «definir objectivos concretos e imediatos de luta»;
– os «métodos democráticos», expressos na eleição de dirigentes, nas assembleias e reuniões gerais e num «grande esforço de informação das massas estudantis»;
– «criatividade e maleabilidade táctica, combinando métodos de organização e de luta legais, semilegais e ilegais, articulando negociações com o Governo e “autoridades académicas” com mobilização estudantil, atraindo professores para o seu lado»;
– a capacidade para «combinar a acção em cada escola (e cursos) com a acção a nível de academia e nacional».
Albano Nunes realçou que «o papel dos comunistas, mesmo tendo em conta as vicissitudes ligadas com a repressão, foi sempre determinante» e, no movimento estudantil, «foi indispensável para garantir o seu carácter unitário, democrático e de massas e para assegurar a articulação com o movimento popular e antifascista».