Manifestação Nacional de Mulheres regressa em 2023
O Movimento Democrático de Mulheres (MDM) – que a 29 de Outubro deste ano vai realizar o seu 11.º Congresso – marcou para os dias 4 e 11 de Março de 2023, no Porto e em Lisboa, uma nova Manifestação Nacional de Mulheres.
Força e vontade das mulheres em defender e exercer os seus direitos
A chuva intensa e persistente que no sábado se abateu em Lisboa não impediu nem desmobilizou as pessoas – dos distritos de Beja, Castelo Branco, Évora, Leiria, Lisboa, Faro, Portalegre, Santarém e Setúbal – de participar na Manifestação Nacional de Mulheres, que se realizou entre os Restauradores e o Terreiro do Paço.
Ali estiveram mulheres, de diversas idades e profissões,em torno de um denominador comum: «Igualdade na vida. Os direitos das mulheres não podem esperar», lema da acção, promovida pelo MDM para comemorar o Dia Internacional da Mulher. Foi exactamente com essa mensagem que o desfile arrancou, ao som das percussões fortes dos Karma Drums e das palavras de ordem: «Pela paz, pelo pão, as mulheres cá estão», «o custo de vida a aumentar, o salário a não chegar», «só se avança de verdade, pondo fim à precariedade», que ecoaram por toda a Baixa.
As reivindicações sucediam-se: «Igualdade tem de existir para o País evoluir», mote da Comissão para a Igualdade entre Homens e Mulheres da CGTP-IN. «Sou cigana portuguesa há mais de 500 anos. Faço parte da história deste País. Viva a liberdade», lia-se num cartaz da Associação para o Desenvolvimento das Mulheres Ciganas Portuguesas (AMUCIP).
Igualdade é um direito
Também «A juventude não tem dúvidas: igualdade é um direito e lutamos por ela», afirmava-senuma outra faixa. «Queremos educação pública, gratuita e de qualidade», «Educação sexual nas escolas» e «Fim da precariedade! Queremos trabalho com direitos» foram mensagens trazidas e empunhadas bem alto por esta camada social, que participou em grande número. Entre outras, estiveram presentes as associações de estudantes da Escola Básica e Secundária Amélia Rey Colaço e da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, e a Associação Ruído.
Seguiram-se panos do MDM das mulheres do distrito de Setúbal, por «justiça social no presente e no futuro», «Pelo direito de nascer, viver e trabalhar no Alentejo», exigindo «serviços públicos de qualidade». «Dizem que o importante é a saúde, mas...», continuam a «nascer bebés em ambulâncias» e «faltam enfermeiros», denunciou quem veio de Portalegre. Do Ribatejo – onde existem 22 mil utentes sem médico de família – vieram «mulheres unidas pela paz», que lutam para que se cumpram «os valores de Abril».
Em destaque estiveram, igualmente, os problemas da interioridade (Castelo Branco) e laborais(Leiria), bem como a discriminação e a violência (Algarve). Lisboa testemunhava: «O corpo da mulher não é mercadoria» e reclamava «mais habitação pública», o «fim à violência obstétrica» e um «hospital público em Sintra».
Marcaram ainda presença a Confederação Nacional de Reformados, Pensionistas e Idosos – MURPI, a União de Resistentes Antifascistas Portugueses, o Conselho Português para a Paz e Cooperação, a Frente Anti-Racista, a Associação Portuguesa de Juristas Democratas, o Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal, o Sindicato da Hotelaria do Algarve e o Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Sul e Regiões Autónomas. A Confederação Nacional da Agricultura clamou por «apoios específicos à mulher agricultora no Estatuto da Agricultura Familiar».
Solidariedade com a luta
Na rua do Ouro, todos eles passaram por uma delegação do PCP, com Jerónimo de Sousa, Manuela Pinto Ângelo, Fernanda Mateus, Margarida Botelho, Armindo Miranda, Ricardo Costa, Paula Santos, Alma Rivera e João Pimenta Lopes. O Secretário-geral do Partido destacou a importância daquela iniciativa de mulheres, também em defesa da paz, em luta «por uma vida melhor» e contra a exploração laboral, os baixos salários e pensões, o aumento do custo de vida e as discriminações. «O direito a ter direitos continua a ser um problema na nossa sociedade», salientou o dirigente comunista, lamentando: «A igualdade é um objectivo, não é uma realidade, particularmente nas empresas e nos locais de trabalho». Direito ao trabalho com direitos; aumentar os salários para todos os trabalhadores e concretizar a igualdade salarial entre homens e mulheres; pôr fim ao aumento da idade de reforma, são algumas das exigências do PCP.
Uma delegação da CGTP-IN, com a sua Secretária-Geral, Isabel Camarinha, também saudou a Manifestação Nacional de Mulheres, que sucedeu à realizada no Porto, no dia 5 de Março, com as manifestantes vindas dos distritos do Porto, Braga, Viana do Castelo, Vila Real, Bragança, Aveiro, Coimbra, Guarda e Viseu.
Não pode haver desculpa!
«Viva a luta das mulheres em Portugal e no Mundo!», gritou-se no Terreiro que voltou a ser do povo. Num comício improvisado face à situação meteorológica que se agravava(que estava previsto terminar na Ribeira das Naus), Ana Souto, do Secretariado Nacional do MDM, começou por saudar «as muitas milhares de mulheres que aderiram com entusiasmo e alegria» à Manifestação Nacional de Mulheres.
Continuou a criticar o facto de as acções do MDM, incluindo a do passado dia 5 de Março, no Porto, terem sido «completamente silenciadas pelas televisões, incluindo a televisão pública e por outros órgãos de comunicação», que sonegam os «problemas e aspirações que este movimento projecta» na comemoração do Dia Internacional da Mulher.
Na intervenção que proferiu de megafone, Ana Souto valorizou, e muito, «os avanços conquistados com a luta de gerações de mulheres», destacando, ao mesmo tempo, «o papel do MDM na luta que é necessário continuar contra as desigualdades, discriminações e violências sobre as mulheres e que permanecem como uma realidade em Portugal e no mundo».
«Assumimos, hoje e sempre, a força da nossa solidariedade com as mulheres num mundo cada vez mais injusto, desigual, instável e violento, onde estão presentes vários cenários de guerra, inclusive na Europa», acentuou, valorizando a «luta das mulheres», em diferentes países, como em Portugal, «contra os retrocessos nas suas condições de vida e de trabalho», agradadas no contexto de COVID-19, e em «defesa dos seus direitos, contra a guerra e pela paz».
Sobre a manifestação que ali acabara de acontecer, a dirigente do MDM precisou ser «expressão da força da unidade das mulheres na denúncia dos seus problemas concretos, impeditivos de uma verdadeira igualdade na vida, e da vontade de lutar pela concretização das suas aspirações, enquanto trabalhadoras, cidadãs e mães a uma vida melhor, numa sociedade mais justa, sem discriminações, injustiças e violências», representando uma «afirmação da determinação, da força de vontade das mulheres, que não colide nem substitui outras formas de luta».
«Uma luta que vai continuar», assegurou Ana Souto, porque «não há desculpas para as mulheres continuarem a integrar o rol dos que empobrecem trabalhando, a serem fortemente penalizadas pelo desinvestimento ou privatização dos serviços públicos essenciais, a verem os seus rendimentos diminuírem, a serem sujeitas a várias discriminações no trabalho, na sociedade, nomeadamente em funções da maternidade».
A acção do MDM vai continuar
«É com esta determinação que o MDM irá continuar a intervir, com a renovada energia das suas aderentes, activistas e dirigentes em torno do conjunto de problemas e reivindicações que estiveram no centro destas comemorações do 8 de Março, rumo à realização do seu 11º Congresso que terá lugar a 29 de Outubro em Lisboa.
É com a certeza da luta que travamos todos os dias que faremos do dia 8 de Março de 2023 uma forte jornada de luta em defesa dos direitos das mulheres, um dia de forte ligação do MDM com as mulheres que estudam, trabalham e vivem nas diversas regiões do País e de novo realizaremos a Manifestação Nacional de Mulheres, a 4 e 11 de Março, no Porto e em Lisboa, momentos altos da projecção da força e vontade das mulheres em defender e exercer os seus direitos».
(da intervenção da dirigente do MDM, Ana Souto, no final da manifestação)