A Santa Aliança Americana

António Santos

O reconhecimento, por parte da Rússia, da independência das Repúblicas Populares do Donbass, foi o pretexto invocado por Biden para elevar ainda mais o risco de uma guerra, disparando um pesado pacote de sanções económicas cuja crítica uniu a chamada «esquerda progressista» do Partido Democrata à direita mais reaccionária do Partido Republicano. De Bernie Sanders a Donald Trump, todos acham que Joe Biden não está a fazer soar os tambores de guerra tão alto quanto devia.

Ted Cruz, do Partido Republicano, acusou Biden de «ser, em larga medida, culpado por esta crise» por ter uma «estratégia sem credibilidade baseada em fazer o que tem de ser feito». Já o congressista democrata Jim Jones, agoirava que «Putin está a invadir a Ucrânia, ponto final, parágrafo. Já o fez uma vez e vai fazê-lo novamente se não impusermos sanções absolutas». Também o democrata Bob Menendez pedia a Biden para «parar de se equivocar sobre se isto é ou não é uma invasão», acrescentando que «os EUA têm de tornar claro que as consequências começam já». Na mesma linha, a democrata Elissa Slotkin, da CIA, sintetizava: «Este é o momento de lhes mostrarmos [à Rússia e à China] quem vai escrever o próximo século.»

Acabados de regressar aos EUA, a delegação bipartidária de 21 quadros Republicanos e Democratas à Conferência de Segurança de Munique, subscreveu o mesmo texto em que se reclama que «o ditador Putin e os seus oligarcas corruptos paguem um preço devastador». Betty McCollum, em nome da delegação, resumiu a verve: «somos ambas as câmaras do Congresso, somos ambos os partidos, estamos unidos. A NATO está unida, a UE está unida e estamos dispostos a fazer tudo o que for preciso.»

Este consenso já se começou a traduzir em iniciativas legislativas nas duas câmaras do Congresso: na Câmara dos Representantes, os dois partidos uniram-se para aprovar o Support, um novo pacote de doação de armamento de guerra à Ucrânia; no Senado, 80% dos democratas aprovou outro pacote semelhante.

Nesta santa aliança contra a Rússia couberam os chamados «democratas progressistas» como Bernie Sanders. Conhecido por já ter apoiado as guerras na Jugoslávia e no Afeganistão, Sanders exige agora «sanções sérias» contra a Rússia. Também Jamaal Bowman, dos «Socialistas Democráticos da América», comparou Putin a Hitler e exigiu «agir agora, imediatamente».

Na verdade, a beligerante «Unidade Nacional» dos EUA é um consenso de classe que, para além de objectivos imperialistas comuns, permite esconder as suas profundas divisões e silenciar os graves problemas que o país atravessa.




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