Estamos na meia dúzia de dias em que é costume trocarmos votos no sentido de que a próxima tricentena e meia de dias, números redondos, nos seja minimamente favorável. Em verdade não cremos muito em que os votos agora formulados venham a ter inteira concretização, mas pensamos, e bem, que desejar não nos fará dano. Entenda-se: desde que usemos alguns travões, pois até nisto convém não abandonar as razões e a razão. De qualquer modo, a convicção, ainda que frágil, de que o ano poderá transportar com ele algumas boas notícias e algumas circunstâncias favoráveis pode reforçar alentos. Porque lutar é sempre preciso, mas acreditar não é dispensável.

Podemos alinhar vários motivos para escorraçar os receios e acreditar nas boas eventualidades. Fixemo-nos designadamente na COVID-19, essa intrusa que veio infectar o nosso quotidiano e porventura algumas das nossas esperanças pelo menos a curto prazo. Porque não tem rosto talvez nos intimide mais, mas sabemo-la emboscada não tanto na próxima esquina como na próxima loja onde podemos ter de fazer uma compra ou no restaurante onde iremos almoçar. Estas dificuldades do quotidiano, aparentemente menores, são afinal capazes de nos infernizar a vida pelo menos um pouco, mas as grandes questões situam-se num outro plano: são os postos de trabalho que continuam insuficientes para reduzir substancialmente o desemprego, é a eficácia do SNS que se mantém abaixo do necessário, é a situação amarga de milhares de trabalhadores reformados. São muitos e graves os problemas, e olhando o calendário confirmamos que Abril aconteceu há quase meio século: é muito tempo, e embora valorizemos o percurso conseguido não é possível considerarmo-nos saciados. Porque ainda há muito por fazer; porque os que têm por tarefa a obstaculização de Abril têm trabalhado muito e têm tido muitas e eficazes ajudas. Enfim: porque cerrar os dentes e continuar a luta é preciso. Por isso bem se justificam os votos de um bom ano, mas é indispensável algo mais: dia após dia, lutar por ele.