Não foi o tornado, foi o capital

António Santos

Costuma-se dizer que não são os desastres naturais que matam, mas sim a pobreza. Mais acertado seria dizer que o que mata é o capitalismo. Os violentos tornados que têm sacudido o Midwest estado-unidense arrancaram os telhados e expuseram a podridão: na fábrica de velas da Mayfeld Consumer Products, no Kentucky, morreram oito pessoas e outras dez estão desaparecidas.

Apesar de todos os alertas, os patrões proibiram os trabalhadores de se refugiarem nas casas de banho e mantiveram a linha de montagem a funcionar até ao último momento. «Perguntámos se podíamos sair dali ou ir para casa. Disseram-nos que não. Que se saíssemos éramos despedidos», explicou o operário Elijah Johnson à NBC, em directo de uma cama de hospital. Nesta fábrica, o salário é o mínimo permitido à escala federal, excepto para os presidiários: esses trabalham por poucos cêntimos à hora. Quando a fábrica ruiu, estavam 110 trabalhadores no interior.

Não se trata de um caso isolado. Histórias semelhantes emergem agora um pouco pelos quatro Estados por onde os tornados passaram: Arkansas, Tennessee, Kentucky e Illinois. Foi neste último que morreram seis trabalhadores num armazém da Amazon. Nas instalações de Edwardsville, os quase duzentos trabalhadores foram obrigados a ignorar as sirenes que, trinta minutos antes da tragédia, sinalizavam a urgência de procurar refúgio.

Em declarações à CNN, Danny Stuart, operador de empilhadora, explicou que, nessa altura, os patrões proibiram as idas à casa de banho para evitar que os trabalhadores pudessem salvar-se. Nesse preciso momento, Jeff Bezos, dono da Amazon e o homem mais rico do mundo, estava na festa do lançamento de uma nave de turismo espacial. Cá em baixo, na Terra, morria a trabalhar quem lhe criou essa fabulosa riqueza. Não cabem dúvidas que para o capital o lucro vale mais do que a vida. Só não sabemos se lá de cima conseguem ver os tornados.




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