Annie Garcés canta e aclama Cuba

A missão da vida de Annie Garcés estava traçada no dia em que nasceu, na Isla de la Juventud, Cuba, a 26 de Julho de 1995, e só podia ser uma: tocar música. Para tal contribuíram três factores: a vontade e o talento natural, a família de artistas que a gerou, a formação e o ensino que recebeu em Havana.

Annie Garcés está à vontade numa notável polivalência de estilos

Mãe cantora e promotora cultural, tio escritor, irmão bailarino e actor, um pai que motivava os membros da família a seguirem as respetivas vocações permitiram a Annie sonhar ser cantora e é por isso que a família, depois de umas bem sucedidas primeiras apresentações públicas da criança e dos seus bons resultados na escola de arte local, a Leonardo Lube, decide enviá-la, aos 10 nos de idade, para Havana, onde foi fazer os estudos no Conservatório Guillermo Tomás Bouffartigue de Guanabacoa.

Sai de lá como professora-instrumentista com especialização superior em flauta e, depois de um ano a dar aulas no mesmo conservatório (uma forma habitual em Cuba de se concluir um curso universitário, retribuindo assim o investimento feito), atira-se ao trabalho de construir uma carreira e um repertório.

Numa entrevista dada em 2017 ao Juventud Rebelde, de Cuba, Annie Garcés explica como ter aprendido a tocar flauta influenciou a sua técnica vocal: «Lembro-me que no começo aquele esforço de soprar para criar um som até me deixava tonta. O desenvolvimento da respiração e a forma como ela pode ser aplicada na execução de música requer aprendizagem e prática especiais, pois é muito importante saber como controlar o ar. Sem dúvida, a qualidade e a quantidade da nossa respiração influenciam decisivamente no nível da técnica de execução. E esse domínio é essencial quando se trata de cantar. Mais do que cantora, sou instrumentista, música. Muitos cantam porque têm aquele dom natural, porque é uma condição com a qual nasceram. Mas se você também é músico, ou seja, se tem a capacidade de ler partituras, de entender a harmonia (…) então esse acto é encarado de forma mais consciente. (…) o Eduardo Sosa [outro excelente representante da actual música cubana] diz que canto como se estivesse tocando a flauta.»

 

Polivalência e empenho

O dom natural e a técnica apreendida de Annie Garcés permitem-lhe estar à vontade numa polivalência de estilos notável: ela já gravou discos, deu espectáculos, fez vídeos, liderou projectos, recebeu prémios e entrou em parcerias com outros artistas, cubanos e estrangeiros, em géneros tão diferentes como trova cubana, habaneras, bolero, chá chá chá, el changui e outros tradicionais, mas também nos sons menos regionalizados, mais universalizados e mais modernos do pop-rock, da fusão e do jazz, que constituem grande parte do seu repertório. Até já fez concertos com orquestras sinfónicas.

Sozinha, acompanhada apenas por uma guitarra, que também toca; com um grupo de músicos ou com uma orquestra completa, um espectáculo de Annie Garcés é sempre um acontecimento memorável – uma excelente oportunidade de a vermos em Portugal, proporcionada pela vinda de uma delegação cubana à Festa do Avante!, onde a artista se integra, que suscita assim a única excepção à regra da exclusividade da música portuguesa ou de artistas residentes em Portugal nesta 45.ª edição da Festa.

Annie Garcés canta em espanhol, inglês e português, e é politicamente empenhada na valorização da cultura e da sociedade cubana – em 2016 e 2017 foi, por exemplo, uma das artistas mais envolvidas em diversos eventos de homenagem realizados durante e após as cerimónias fúnebres de Fidel Castro.



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