Homenagem a Ruben de Carvalho pelo seu contributo para a valorização da Cultura
Ao Auditório do Museu do Fado, em Lisboa, foi dado o nome de Ruben de Carvalho, num tributo ao intelectual comunista pelo importante contributo que deu, no quadro da sua intervenção multifacetada, para a valorização do fado enquanto património nacional.
O País precisa da acção e trabalho dos intelectuais
Realizada ao final da tarde de dia 21, a homenagem – promovida pela Câmara Municipal de Lisboa e pela direcção do Museu do Fado, a partir de uma proposta do vereador comunista João Ferreira -, contou com a participação do Secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa. À cerimónia assistiram familiares e amigos, eleitos autárquicos (incluindo o presidente da Câmara), o primeiro-ministro António Costa, bem como outras individualidades, nomeadamente com ligação à Cultura. O PCP esteve ainda representado por uma delegação dos seus organismos executivos integrada por Manuela Pinto Ângelo e Alexandre Araújo, do Secretariado, e Jorge Pires, da Comissão Política.
Descerrada que foi à entrada do auditório a placa com o nome gravado de Ruben de Carvalho, por Madalena Santos, sua companheira, acto que os presentes no pátio exterior adjacente ao Museu puderam acompanhar em directo por um circuito interno de televisão (pelo qual, aliás, passou também um vídeo com fragmentos da intervenção do militante comunista, falecido há dois anos), e antes do período de intervenções, tempo ainda para a audição de duas peças pelas mãos virtuosas de Ricardo Parreira na guitarra portuguesa e de Miguel Silva na viola de fado.
Em comum nas palavras dos oradores que intervieram a seguir ao momento musical, para além das qualidades humanas de Ruben de Carvalho, foram as referências ao notável contributo que deu para a divulgação da música popular e, em particular, para a valorização e promoção do Fado, nomeadamente para a sua elevação à categoria de Património Imaterial da Humanidade. Foi essa dimensão do trabalho do militante comunista que perpassou nas intervenções da professora catedrática Salva Castelo Branco, de Fernando Medina, de António Costa (que encerrou o acto) e de Jerónimo de Sousa.
Construtor de Abril
Valorização e promoção do Fado que foi uma preocupação sua, especialmente desde que teve a cargo tarefas de programador cultural, como realçou o Secretário-geral do PCP.
«Na Festa do Avante!, desde 1976 até à última que organizou em 2019, os espectáculos de fado estiveram sempre presentes nos elencos artísticos apresentados aos visitantes. Ao longo de 43 anos a longa listagem de espectáculos de fado realizados na Festa do Avante!, com a presença de artistas consagrados e a revelação de outros, foi por si só, um contributo significativo para a defesa da tradição popular de Lisboa e de Coimbra, dessa música urbana, para a recuperação da sua popularidade, para a modernização que os tempos entretanto impuseram», lembrou o líder do PCP
, depois de ter destacado etapas e projectos que marcaram o percurso daquele que foi também durante largos anos chefe de redacção do Avante!.
E que na sua intervenção política e institucional desde cedo assumiu uma acção destacada na luta estudantil e na luta de resistência antifascista, tendo, depois do 25 de Abril, sido funcionário do Partido, e, entre outras tarefas, eleito deputado na AR e vereador nas câmara de Setúbal e Lisboa. Por isso Jerónimo de Sousa sublinhou que «Ruben de Carvalho foi um construtor de Abril, do Avante! e da Festa do Avante!».
Uma caminhada que, ainda no que se refere à música, levou Ruben de Carvalho a envolver-se na Comissão Organizadora das Festas de Lisboa, a ser nomeado Comissário de Lisboa 94 – Capital Europeia da Cultura, a levar a cabo um aprofundado trabalho de investigação e a estimular o desenvolvimento de outros no mundo académico, assinalou o líder comunista, observando que foi nesta altura que ele publicou a importante obra «As Músicas do Fado».
Já perto do final da sua intervenção, aludindo ao papel dos intelectuais, o Secretário-geral do PCP evocou palavras de Álvaro Cunhal: «Portugal democrático precisa deles. Precisa da sua obra, como parte integrante da democracia. Como factor de elevação cultural do povo. Como elemento de formação do homem. Como motivo de alegria e felicidade».
Concluiu, por isso, ser «justa esta homenagem», não sem antes realçar que «no processo histórico português contemporâneo são muitos os momentos em que podemos destacar a importância da intervenção dos intelectuais comunistas, onde incluímos Ruben de Carvalho, na luta pelo progresso e a transformação social».