«Irrealistas e radicais»
Cerca de 600 operários da fábrica da Frito-Lay, em Topeka, no Kansas, começaram, na segunda-feira, uma greve de duração indeterminada pelo aumento dos salários e contra a gestão desumana da produção.
«O custo de vida aumenta enquanto o salário fica na mesma», podia ler-se num dos cartazes empunhados pelos trabalhadores no piquete de greve de segunda-feira. Recentemente, o patrão propôs um aumento de dois por cento, significativamente abaixo dos cinco por cento da actual taxa de inflação e em contraste com os 11,7 por cento de aumento em dividendos canalizados para os accionistas da empresa, que receberam este ano 7,5 mil milhões de dólares.
«Uma greve não devia ser a única razão pela qual temos uma folga», podia-se ler noutro cartaz. É uma referência ao trabalho extraordinário obrigatório, que afecta agora a maioria dos trabalhadores da fábrica e que significa turnos de 12 horas sobre turnos de 12 horas, a que os operários já chamam de «turno do suicídio». Os operários são taxativos a associar estes horários a uma vaga de suicídios na fábrica que já cobrou as vidas de três trabalhadores nos últimos dois anos. Os grevistas denunciam ainda uma gestão punitiva que frena a progressão na carreira e penaliza com os piores turnos e com cortes no seguro de saúde a recusa destes horários desumanos.
«Horas extra obrigatórias – onde está o tempo para a família» era a mensagem de outro cartaz. A fábrica da Topeka está bastante afastada da cidade e a maioria dos trabalhadores demora pelo menos uma hora a chegar a casa. Os turnos de 12 horas sete dias por semana, sem direito a qualquer folga, têm levado muitos trabalhadores a começar a dormir nos carros para poderem descansar mais horas. Para além do expectável corolário de problemas físicos e mentais, os grevistas denunciam ainda outra consequência: o aumento exponencial dos divórcios.
A Pepsi-co, que detém a Frito-Lay, registou no ano passado lucros de 7,5 mil milhões de dólares e o seu presidente executivo levou para casa 16 milhões de dólares. Em comunicado, a empresa respondeu às exigências dos grevistas classificando-as como «irrealistas» e «radicais».