Jerónimo de Sousa nas Jornadas Parlamentares do PCP

Jerónimo de Sousa exorta à elevação da luta e da intervenção

Je­ró­nimo de Sousa cri­ticou o Go­verno por não ter feito o que podia e devia fazer em ma­téria de apoios so­ciais e aos sec­tores afec­tados pela epi­demia, con­si­de­rando que não o fez por «falta de von­tade po­lí­tica» e por per­ma­necer «acor­ren­tado» às «teses es­sen­ciais da po­lí­tica de di­reita» e ao «pri­mado do dé­fice».

In­di­ca­tivo dessa pouca am­bição do Go­verno em ir mais longe nos apoios é, aliás, o facto de Por­tugal ter sido, de entre os países eu­ro­peus, «dos que menos meios or­ça­men­tais dis­po­ni­bi­lizou para en­frentar a epi­demia», sendo que muitos desses meios foram parar aos grupos eco­nó­micos e fi­nan­ceiros, cen­surou o Se­cre­tário-geral co­mu­nista, ao in­tervir na aber­tura das Jor­nadas Par­la­men­tares do PCP.

O mesmo se pode dizer no que toca aos pro­blemas en­fren­tados pelo SNS, onde, do seu ponto de vista, a res­posta «po­deria ser ainda mais eficaz» na re­cu­pe­ração de ou­tras pa­to­lo­gias e num re­gresso mais rá­pido à nor­ma­li­dade no fun­ci­o­na­mento das uni­dades do SNS, caso um con­junto sig­ni­fi­ca­tivo de pro­postas do PCP ti­vesse sido in­cre­men­tado, como o «re­forço do nú­mero de pro­fis­si­o­nais em falta», ou o «re­forço das equipas de saúde pú­blica».

O líder co­mu­nista mos­trou-se ainda muito crí­tico quanto à re­cente de­cisão de fe­char as en­tradas e saídas da Área Me­tro­po­li­tana de Lisboa, de­fen­dendo que a ac­tual si­tu­ação epi­de­mi­o­ló­gica o que re­clama é a adopção de «me­didas que per­mitam a va­ci­nação rá­pida de todos, a im­ple­men­tação da tes­tagem e o re­forço das equipas de saúde pú­blica, fun­da­men­tais ao ras­treio dos novos casos».

Ex­plo­ração de­sen­freada

Pas­sando em re­vista a evo­lução da si­tu­ação eco­nó­mica e so­cial, o líder co­mu­nista não es­condeu a sua pre­o­cu­pação pela forma como esta tem vindo a evo­luir e de onde so­bres­saem pro­blemas como o de­sem­prego, o re­tro­cesso nas con­di­ções de vida de mi­lhares de por­tu­gueses, o avo­lumar dos pro­blemas dos micro, pe­quenos e mé­dios em­pre­sá­rios, a pre­ca­ri­e­dade no tra­balho e o dis­se­minar da po­breza.

Um quadro que a epi­demia agravou mas que está muito para lá desta, ob­servou, lem­brando o «apro­vei­ta­mento que dela tira o ca­pital e os grandes in­te­resses que do­minam a eco­nomia por­tu­guesa para acen­tuar a ex­plo­ração», a juntar à pe­sada he­rança de dé­cadas de po­lí­tica de di­reita de go­vernos PS, PSD e CDS. Dessa re­a­li­dade so­cial falou de­ta­lha­da­mente Je­ró­nimo de Sousa, tra­zendo à co­lação a cir­cuns­tância de mais de me­tade dos re­centes de­sem­pre­gados na AML serem tra­ba­lha­dores com vín­culo pre­cário e com baixos sa­lá­rios e de a pre­ca­ri­e­dade atingir de forma ainda mais aguda os tra­ba­lha­dores da cul­tura e do sector da edu­cação.

Para a di­fícil si­tu­ação que en­frentam, nas suas vidas, os MPME chamou ainda a atenção o líder co­mu­nista, sa­li­en­tando que a si­tu­ação vi­vida no plano eco­nó­mico e sa­ni­tário «não atinge todos por igual e os im­pactos nas em­presas são muito di­fe­ren­ci­ados entre sec­tores de ac­ti­vi­dade».

La­mentou por isso que pe­rante este pa­no­rama, e quando se as­siste a um «au­mento sig­ni­fi­ca­tivo dos preços dos com­bus­tí­veis, da energia e de ou­tros fac­tores», em­presas como a GALP ou a EDP ga­rantam im­por­tantes lu­cros e dis­tri­buam di­vi­dendos, «à custa das res­tantes ac­ti­vi­dades e das con­di­ções de vida das po­pu­la­ções, com o Go­verno a as­sistir e a «as­so­biar para o lado».

Também as ques­tões da Jus­tiça e do com­bate à cor­rupção in­te­graram o dis­curso de Je­ró­nimo de Sousa e me­re­ceram uma abor­dagem par­ti­cular das Jor­nadas, com o re­a­firmar do em­penho do PCP na apro­vação de me­didas po­lí­tica e le­gis­la­tivas que efec­tivem esse com­bate.

Já em ma­téria de edu­cação, e re­fe­rindo-se à ne­ces­si­dade de re­cu­perar as apren­di­za­gens dos alunos for­çados ao con­fi­na­mento, o líder co­mu­nista de­fendeu a ur­gência de en­con­trar so­lu­ções, as quais, do seu ponto de vista, passam ne­ces­sa­ri­a­mente pelo «re­cru­ta­mento ime­diato de mais tra­ba­lha­dores da edu­cação, in­cluindo pro­fes­sores e as­sis­tentes ope­ra­ci­o­nais, pela re­dução do nú­mero de alunos por turma e pela ime­diata re­cu­pe­ração de es­colas».

De­fender di­reitos

Mas foi em torno da aná­lise e con­se­quente res­posta aos pro­blemas dos tra­ba­lha­dores que o Se­cre­tário-geral co­mu­nista se de­teve de forma mais de­ta­lhada, en­fa­ti­zando a po­sição de que esta é uma questão «ina­diável e cen­tral» e que o apro­fundar da ex­plo­ração e o ataque aos di­reitos têm de ser re­cha­çados.

«É ne­ces­sário avançar nos di­reitos e nas con­di­ções de vida dos tra­ba­lha­dores. É ne­ces­sário e é pos­sível com a sua luta que se in­ten­si­fica e que o PCP saúda», su­bli­nhou, ar­gu­men­tando que na si­tu­ação que vi­vemos «é ainda mais de­ci­sivo o au­mento dos sa­lá­rios e a con­quista de di­reitos para o de­sen­vol­vi­mento e o em­prego».

«Este é um tempo em que é pre­ciso con­frontar o Go­verno PS, que mul­ti­plica pa­la­vras e acenos mas que com as suas op­ções de classe con­tinua a co­locar-se contra os tra­ba­lha­dores», con­cluiu Je­ró­nimo de Sousa, antes de lem­brar como em ne­nhum mo­mento do úl­timo sé­culo o PCP deixou de estar onde era pre­ciso estar: «na de­fesa dos di­reitos dos tra­ba­lha­dores e do povo».



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