Sementes de futuro

Jorge Feliciano

A primeira edição do Sementes foi em 1996

Pelas mãos do Teatro Extremo, arrancou em Almada, no passado dia 21 de Maio, a 26.ª edição do Sementes – Mostra Internacional de Artes para o Pequeno Público, numa programação que se estendeu até 6 de Junho e aos concelhos de Loures, Moita, Montemor-o-Novo, Odivelas, Seixal e Sesimbra.

Muito se fala em formar públicos para as artes, expressão dita múltiplas vezes com boa vontade mas operacionalmente limitadora quando o que de facto devemos falar é da formação integral dos indivíduos e da necessária política que democratize, disponibilizando-as a todos, desde a infância, as ferramentas da criação e fruição cultural e artística.

Usando frequentemente a primeira expressão, mais limitadora, e não a segunda, mais libertadora, a verdade é que os sucessivos governos da política de direita pouco além vão das palavras que dizem ou colocam nos seus burocráticos formulários e regulamentos de apoio.

Muito boas práticas há e houve, não iremos listar, na sua maioria filhas da política de descentralização cultural posta a caminho após a Revolução de Abril. Mas certamente porque a contra-revolução entretanto também se fez ao caminho, estas práticas democratizadoras são pouco valorizadas e as que permanecem são fruto da resistência dos seus mentores e animadores, normalmente encontrando no Poder Local Democrático a cumplicidade e valorização sólida que dificilmente encontram junto do poder central.

 

Teatro Extremo, a semear desde 1994

Sediada em Almada desde 1994, a companhia Teatro Extremo logo escolheu a infância e a juventude enquanto camadas da população a quem preferencialmente dirigia o seu trabalho.

Em 1996 lança o Sementes – Mostra Internacional de Artes para o Pequeno Público, que nos anos seguintes rapidamente se afirmou como o festival de artes (com o teatro à cabeça) dedicado à infância e juventude de maior dimensão e importância do País.

São muitos os milhares de crianças e jovens que puderam ao longo destes anos assistir a espectáculos, animações, oficinas formativas, exposições e outras iniciativas multidisciplinares ou pouco enquadradas em géneros, preparadas especialmente para eles pelas melhores estruturas nacionais e internacionais.

Crescer assim é outra coisa, não por acaso os artistas e outros profissionais que se apresentam no Sementes sempre sublinham as características particulares do «pequeno público» deste festival, que, nas suas palavras, é um público muito desperto para as artes, interessado, que participa aprendendo e apreendendo a linguagem artística, multiplicando-a.

 

A programação deste ano

A 26.ª edição do Sementes – Mostra Internacional de Artes para o Pequeno Público contou com uma programação para toda a família, contemplando a comemoração do Dia Mundial da Criança.

Uma programação muito diversificada, com espectáculos de teatro, música, dança, circo, ópera, marionetas, sombras digitais, cinema de animação e ilustração ao vivo, num total de 53 actividades, 16 espectáculos de 16 companhias de Portugal, Espanha, Itália e Bélgica. Para o ano há mais, entretanto acompanhemos a programação regular do Teatro Extremo, seja em digressão, seja no Teatro Estúdio António Assunção.




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