O povo do Chade decidirá o seu futuro
Com a recente morte do presidente do Chade, Idriss Déby Itno, a França e os Estados Unidos da América perderam um dos seus principais aliados locais da estratégia imperialista de domínio militar e económico em África.
Há 30 anos no poder – onde chegou em 1990, através de um golpe de Estado apoiado por Paris e Washington –, Idriss Déby Itno, há pouco promovido a marechal, tinha sido reeleito em 11 de Abril para um sexto mandato presidencial.
Morreu dias depois em circunstâncias pouco claras: na versão oficial, foi ferido com gravidade quando se encontrava à frente das suas tropas, na zona montanhosa do Tibesti, no norte do Chade, a combater uma coluna de «rebeldes» da Frente para a Alternância e a Concórdia no Chade (FACT), fortemente armada, baseada na Líbia. Transportado para um hospital em N’Djamena, não resistiu aos ferimentos.
Após o inesperado desaparecimento do seu chefe, os militares tomaram de imediato o poder no país, provocando uma onda de rejeição popular. Formaram um Conselho Militar de Transição, constituído por 15 generais e chefiado por Mahamat Idriss Déby, de 37 anos, filho do presidente desaparecido. Revogaram a Constituição, dissolveram o parlamento e o governo, prometeram «eleições livres e democráticas» dentro de 18 meses.
Emmanuel Macron, o único presidente ocidental que se deslocou a N’Djamena para assistir às cerimónias fúnebres de Idriss Déby Itno, não teve pejo em manifestar apoio à junta militar. E ameaçou: «A França não deixará nunca, nem hoje nem amanhã, que alguém ponha em causa a estabilidade e a integridade do Chade».
Já a oposição interna chadiana denunciou o «golpe de institucional» e a «sucessão dinástica», promoveu manifestações, logo proibidas e fortemente reprimidas.
Tentando evitar o agravamento da situação, os militares escolheram rapidamente um primeiro-ministro de transição, Albert Pahimi Padacké, com anterior experiência no cargo, e nomearam um governo de «reconciliação nacional», com 40 membros, a maior parte deles do Movimento Patriótico de Salvação, o partido de Idriss Déby Itno, mas integrando também alguns dos seus opositores.
O Chade, país pouco desenvolvido apesar de produtor e exportador de petróleo, tem sido um dos principais aliados do Ocidente na luta contra os grupos jihadistas na faixa do Sahel e, noutra frente, contra os terroristas do Boko Haram que actuam na zona do lago Chade (Camarões, Nigéria e Níger).
Não por acaso, N’Djamena acolhe o quartel-general das tropas francesas da Operação Barkhane, que intervêm sobretudo no Mali, Níger e Burkina Faso. A capital chadiana alberga também uma base militar dos EUA e os norte-americanos fornecem apoio logístico e de informações às forças da Barkhane.
No quadro do G5 do Sahel (Chade, Mali, Níger, Burkina Faso e Mauritânia), e actuando de forma articulada com a Barkhane, as tropas chadianas, bem armadas, são das mais activas na guerra contra o jihadismo na região.
Por estas razões, em defesa dos seus interesses neo-colonialistas, a França e os EUA tentarão manter na sua órbita o Chade.
Em vão: mais cedo do que tarde, o povo chadiano assumirá as suas responsabilidades e tornar-se-á dono do seu futuro, optando pela paz contra a guerra, utilizando soberanamente os recursos nacionais para promover o desenvolvimento no país.