Com a força do povo, Abril saiu de novo à rua

Mi­lhares de pes­soas, um pouco por todo o País, saíram à rua para as­si­nalar o 47.º ani­ver­sário da Re­vo­lução de Abril. As vá­rias co­me­mo­ra­ções po­pu­lares com­pro­varam, a quem ainda res­tava dú­vidas, que os va­lores de Abril não só não estão con­fi­nados como vivem – exu­be­rantes – no co­ração do povo.

«Po­demos acre­ditar que a de­mo­cracia tem fu­turo em Por­tugal»

Como acer­tava uma das pa­la­vras de ordem que ecoou, no do­mingo, pela Ave­nida da Li­ber­dade abaixo (e, cer­ta­mente, por vá­rios ou­tros lo­cais de Por­tugal), «muitos, muitos mil» foram os que par­ti­ci­param nas co­me­mo­ra­ções po­pu­lares do 25 de Abril: netos e avós, pais e fi­lhos, ir­mãos e amigos, uns que vi­veram os dias mais exal­tantes da re­vo­lução e ou­tros que nas­ceram muitos anos de­pois de 1974, mas que nem por isso deixam de sentir as mais pul­santes rei­vin­di­ca­ções da Re­vo­lução por­tu­guesa, que mantêm hoje a mais ou­sada ac­tu­a­li­dade.

Não foram apenas as cri­anças que so­nham poder ser efec­ti­va­mente cri­anças e os jo­vens que am­bi­ci­onam um posto de tra­balho livre da pre­ca­ri­e­dade ou um en­sino de­mo­crá­tico, de qua­li­dade, pú­blico e gra­tuito – numa pa­lavra, fu­turo! Foram também os ho­mens e as mu­lheres que lutam pelo tra­balho com di­reitos ou os que, tendo tra­ba­lhado uma vida in­teira, exigem agora ver va­lo­ri­zado o papel ac­tivo que de­sem­pe­nharam e de­sem­pe­nham na so­ci­e­dade. Foram co­mu­nistas, sim, mas muitos ou­tros de­mo­cratas, pa­tri­otas e pro­gres­sistas, an­ti­fas­cistas e anti-ra­cistas, eco­lo­gistas e de­fen­sores da paz, a com­pro­varem que os va­lores, as con­quistas e os ideais de Abril estão pre­sentes e bem vivos na so­ci­e­dade por­tu­guesa.

No Porto e em Lisboa, mas também em muitas ou­tras lo­ca­li­dades – dos prin­ci­pais cen­tros ur­banos aos lo­cais mais recôn­ditos –, re­alizou-se um sem nú­mero de ini­ci­a­tivas, com as mais va­ri­adas ca­rac­te­rís­ticas e formas: dos con­certos, fes­ti­vais e ses­sões pú­blicas às con­cen­tra­ções, des­files, de­bates, co­mí­cios, mu­rais e inau­gu­ra­ções de mo­nu­mentos e equi­pa­mentos. O traço comum foi a von­tade po­pular de as re­a­lizar.

 

«As portas que Abril abriu,
nunca mais nin­guém as cerra»


Se em 2020 as con­di­ções sa­ni­tá­rias não per­mi­tiram que as co­me­mo­ra­ções da Re­vo­lução ti­vessem sal­tado para a rua, em 2021 a gran­deza do des­file na Ave­nida da Li­ber­dade, em Lisboa, de­mons­trou que muitos es­pe­ravam an­si­o­sa­mente a opor­tu­ni­dade de voltar a de­fender Abril no sítio certo: as ruas!

O cor­tejo de gente que de­sa­guou na­quela ar­téria prin­cipal da ca­pital ia en­ca­be­çado, como já é cos­tume, por uma chai­mite, lem­brança sim­bó­lica dos carros blin­dados que saíram dos quar­téis com os ca­pi­tães. Logo atrás, se­guiam vá­rios di­ri­gentes das mais de 40 or­ga­ni­za­ções, par­tidos e as­so­ci­a­ções que in­te­gram a Co­missão Pro­mo­tora das co­me­mo­ra­ções po­pu­lares da Re­vo­lução.

Atrás, com o lema Que se cum­pram os nossos di­reitos, se­guiam as cri­anças da as­so­ci­ação Os Pi­o­neiros de Por­tugal. Logo de­pois, sob uma mancha de ban­deiras ver­me­lhas iam os jo­vens co­mu­nistas por­tu­gueses, agar­rando uma faixa em que se lia Mil Lutas no Ca­minho de Abril, em alusão ao seu 12.º Con­gresso, que se apro­xima a passos largos. Foi pela luta que lá fomos, é pela luta que lá vamos, dizia ainda outra faixa le­vada pela JCP.

«Sinto uma ale­gria imensa ao ver que, pas­sados 47 anos, o povo e a ju­ven­tude saíram à rua», afirmou Je­ró­nimo de Sousa em de­cla­ra­ções, en­quanto des­fi­lava ao lado de João Fer­reira, can­di­dato a pre­si­dente da Câ­mara Mu­ni­cipal de Lisboa nas pró­ximas elei­ções au­tár­quicas, de Isabel Ca­ma­rinha, Se­cre­tária-geral da CGTP-IN e Ma­riana Silva, de­pu­tada do PEV, entre ou­tros di­ri­gentes. «Esta pre­sença de muitos jo­vens que não ti­nham nas­cido e de muitos jo­vens que eram bem pe­quenos [no 25 de Abril de 1974] tem um grande sig­ni­fi­cado», con­ti­nuou, sa­li­en­tando a im­por­tância de ver tanta gente jovem a de­fender os va­lores de Abril.

«Po­demos acre­ditar que a de­mo­cracia tem fu­turo em Por­tugal», afi­ançou o Se­cre­tário-geral do PCP de­pois de re­parar nos muitos que saíram à rua para de­fender o di­reito ao en­sino, à se­gu­rança so­cial, o di­reito a não ter um vín­culo pre­cário, a ter li­ber­dade, so­nhos e es­pe­ranças e que pro­varam que «Abril está bem vivo».

 

Para lá das po­lé­micas


No dia 22, o PCP apelou à par­ti­ci­pação nas co­me­mo­ra­ções,, su­bli­nhando que «Abril co­me­mora-se e de­fende-se com os que com ele estão iden­ti­fi­cados e não com os que o pre­tendem des­truir». Nas co­me­mo­ra­ções do 25 de Abril, o povo por­tu­guês soube res­ponder ao de­safio que lhe es­tava co­lo­cado e o que foi capaz de con­cretizar, foi muito «além de qual­quer po­lé­mica es­téril», como afir­mava o Se­cre­tário-geral do PCP nas de­cla­ra­ções pres­tadas no do­mingo.


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