PCP assinala em Lisboa os 90 anos do Avante! um percurso heróico, a que é preciso dar mais força
EXALTAÇÃO O salão do Centro de Trabalho Vitória, em Lisboa, acolheu na segunda-feira, 15, alguns dos que, no distrito, levam a cabo a imprescindível tarefa de distribuir a imprensa partidária, que ali debateram com o director do Avante! e o Secretário-geral do PCP a melhor forma de a levar mais longe.
O Avante! é a voz da causa da emancipação dos trabalhadores
Em 90 anos, o Avante! «desempenhou um papel ímpar no quadro da imprensa portuguesa», afirmou, a encerrar a sessão, Jerónimo de Sousa. O dirigente comunista acrescentou mesmo que aquele que desde 15 de Fevereiro de 1931 é o órgão central do PCP «honrou a função para que foi criado», sendo, «designadamente, a voz de uma causa: a causa da emancipação social e humana dos trabalhadores e do povo português».
Ao longo destes noventa anos, 43 dos quais na clandestinidade, o Avante! «cumpriu o seu papel de jornal de classe, arma insubstituível do PCP ao serviço dos trabalhadores e do povo, sem nunca se deixar submeter ou intimidar pelo terror da ditadura fascista ou pelas muitas tentativas de silenciamento por parte da ideologia e dos poderes dominantes», lembrou o Secretário-geral do Partido, acrescentando: o Avante! é um «jornal comunista onde se lê o que não pode ler-se em nenhum órgão da comunicação social dominante, onde se pode perceber o que propõe e o que defende o PCP, como se organiza, como leva a cabo o seu trabalho colectivo, como mobiliza os seus militantes, os trabalhadores e o povo para as batalhas de todos os dias».
Jerónimo de Sousa relevou ainda outras características do Avante!: é um jornal «livre e independente do poder dos grandes grupos económicos e financeiros que controlam a generalidade da comunicação social dominante» e, enquanto órgão central de um partido de classe como o PCP, dá simultaneamente «voz à luta organizada dos trabalhadores e das massas populares, não apenas pelos seus legítimos direitos, mas pela construção de uma sociedade de onde seja erradicada a exploração do homem pelo homem, a sociedade socialista do futuro».
Levar mais longe o Avante!
Sendo certo – e é a longa história que o mostra – que o reforço do Avante! «significará sempre reforço do Partido» e que «sem reforço do Partido é impensável o reforço do Avante!», o dirigente comunista colocou um conjunto de questões a que as organizações terão de respoder: «que fazer na nossa organização para fazer chegar o Avante! a muitos mais militantes? Como fazê-lo chegar, de modo particular, aos novos militantes? Como fazer chegar o Avante! aos trabalhadores e ao povo, nas empresas, locais de trabalho e nas ruas? Como promover a divulgação do Avante! aumentando o seu prestígio e influência social e política e o prestígio e influência social e política do Partido? Que fazer para melhorar o Avante! para o tornar mais acessível e atractivo (...)?»
Antes, alguns militantes tinham respondido já a alguns destes desafios (ver caixa). Mas este é um debate que inevitavelmente prosseguirá. Em traços gerais, as orientações estão bem definidas, e Jerónimo de Sousa enumerou-as: contactar os militantes e simpatizantes do Partido para que adquiram semanalmente o Avante!, alargar e rejuvenescer as equipas de distribuição, criar novas estruturas para a difusão editorial, organizar vendas públicas regulares e edições especiais, melhorar a presença na Internet e, nas suas páginas, alargar o tratamento temático e diversificar as formas de abordagem. Ao mesmo tempo, é preciso garantir o reforço da ligação da redacção com as organizações do Partido.
Diferente e único
A abrir a sessão, o director do Avante!, Manuel Rodrigues (que partilhou a mesa com o Secretário-geral, o membro da Comissão Política Ricardo Costa e Joana Flores, do Grupo de Trabalho Regional da imprensa) pegou na edição dessa semana para ilustrar como se está perante um jornal diferente, único: a jornada da CGTP-IN, marcada para 25 de Fevereiro, as comemorações do centenário do PCP, a necessária defesa do SNS, as 21 propostas para a sobrevivência das MPME, a defesa da liberdade na Ucrânia, o papel da China no mundo de hoje eram alguns dos temas em destaque nessa semana.
«Que outro jornal poderia trazer estas notícias, reportagens e artigos de opinião? Façamos a pergunta ao contrário: onde é que os trabalhadores podem encontrar essa informação? Esses trabalhadores, estas populações em luta, em que jornal podem ver expressas as suas motivações, as suas reivindicações, o seu combate?»
Saber de experiência feito
Para além de Jerónimo de Sousa e Manuel Rodrigues intervieram na sessão evocativa do aniversário do Avante! alguns daqueles que semanalmente o fazem chegar aos leitores, tanto na distribuição orgânica como em acções públicas de venda. Todos concordam que o Avante! tem muito por onde crescer, opinião que é sustentada na sua experiência concreta.
Lurdes Pinheiro, da freguesia lisboeta de Santa Maria Maior, contou como desde há três anos se mantém uma banca pública no Chiado. Nas primeiras semanas foi difícil, mas a persistência deu frutos: «começámos a vender nove, agora estamos nos 20», destacou. Mesmo na actual situação epidémica, a banca manteve-se, com resultados positivos.
De Cascais, José Carlos Silva apelou a que se use o Avante! diariamente, mostrando-o e afirmando-o em todo o lado: nos locais de trabalho, nas ruas, nos transportes públicos. Na freguesia de Carcavelos, onde está organizado, são distribuídos semanalmente mais de 20 exemplares do Avante!, a que acrescem os que são vendidos nas bancas de rua que regularmente se realizam.
Já Vítor Agostinho, da freguesia de São Vicente, em Lisboa, sugeriu que se difunda antecipadamente e por todos os meios, a começar pelos electrónicos, as edições especiais do Avante! – como a que terá lugar no próximo dia 4, evocativa dos 100 anos do PCP. Dina Góis contou como se «segurou» a distribuição da imprensa na freguesia de Santa Iria de Azóia (Loures) durante o primeiro confinamento, apesar de alguns dos que a distribuíram terem ficado por casa. Prontamente se encontrou outros para assumirem a tarefa, contou.
Por fim, Vítor Rodrigues propôs uma mais eficaz utilização dos meios electrónicos para difundir o jornal do Partido e os seus conteúdos. Em resposta, o director do Avante! revelou que está a ser preparada uma nova página de Internet, mais funcional e atractiva.
Dar resposta aos problemas
que se arrastam e agravam
Na sessão de segunda-feira, Jerónimo de Sousa referiu-se à necessidade de dar resposta urgente aos problemas que emergem da epidemia de COVID-19, que se agravam após cada período de confinamento: os «milhares de trabalhadores despedidos, os ritmos de trabalho intensificados, a precariedade promovida». Tudo isto, lembrou, ao mesmo tempo que «somas colossais de fundos públicos são entregues a grupos económicos e financeiros».
Sendo evidente que estes e outros problemas não encontram resposta nas opções políticas do Governo do PS» e são despudoradamente instrumentalizadas pelo «conjunto das forças reaccionárias e revanchistas», o Secretário-geral do Partido garantiu ser urgente «avançar com medidas e soluções que permitam acudir a esta situação de emergência social». É preciso, designadamente, garantir a saúde das populações, redinamizar a economia, garantir os salários e empregos, dinamizar o investimento público e alargar os apoios sociais a quem ficou privado de tudo.
Sobre o ensino à distância (ver páginas centrais), Jerónimo de Sousa considerou «inaceitável» a situação a que o Governo está a sujeitar as famílias, acusando-o de não ter corrigido os erros cometidos no ano passado: permanece o corte de um terço do salário a quem tem de ficar com as crianças em casa; quem está em teletrabalho continua impedido de recorrer à assistência à famíia; os adolescentes acima dos 12 anos mantêm-se privados do acompanhamento dos pais. Os resultados estão à vista: as famílias com crianças voltam a ser as mais expostas à pobreza e é cada vez mais evidente que o teletrabalho não é compatível com o acompanhamento de crianças e jovens.
Hoje, serão debatidas na Assembleia da República as propostas do PCP nesta matéria.
Emergência social
O dirigente comunista realçou ainda a necessidade de tomar medidas para «dotar o Serviço Nacional de Saúde da capacitação indispensável para responder às necessidades imediatas no plano sanitário e para reforçar o nível de resposta exigível à garantia dos cuidados de saúde em geral, nomeadamente a falta de médicos das várias especialidades, enfermeiros, técnicos e outros profissionais de saúde». Algumas destas medidas, lembrou, estão incluídas no Orçamento do Estado.
Sobre a vacinação, cujo avanço é necessário, impõe-se que o Governo «não se conforme com a posição de servilismo da União Europeia perante as imposições das grandes farmacêuticas multinacionais, exigindo o cumprimento dos prazos acordados dos fornecimentos das vacinas», insistiu Jerónimo de Sousa.
O PCP, afirmou o Secretário-geral, tem ainda propostas para responder «aos problemas que enfrentam as milhares de micro e pequenas empresas» e às dificuldades dos profissionais da cultura e dos espectáculos, a quem urge «garantir apoios de emergência e que estes tenham valores dignos».
Quanto aos lares de idosos, onde se têm verificado «situações gravíssimas» nos últimos meses, Jerónimo de Sousa apontou para a adopção de «soluções articuladas». A contratação de mais trabalhadores, com vínculos estáveis e direitos, e o alargamento e requalificação da rede de lares são medidas propostas pelo PCP.
Novas soluções
Para lá das medidas de emergência, o PCP defende a adopção de um «verdadeiro programa de desenvolvimento», que corrija «erros estratégicos» e rompa «com um rumo que é responsável pelos atrasos e dificuldades do País». Este é, pois, o «tempo de tirar lições da realidade que ficou exposta pela pandemia e assumi-las», adiantou Jerónimo de Sousa, identificando os défices estruturais do País, há muito identificados e à cabeça dos quais está o produtivo, incluindo alimentar.
Se, para o PCP, o País precisa de «novas soluções», capazes de «garantir o pleno emprego, promover o desenvolvimento das forças produtivas, reduzir as acentuadas desigualdades sociais, dar resposta plena às funções sociais do Estado e afirmar a soberania nacional». A resposta global aos problemas nacionais, conclui o dirigente do PCP, «só pode ganhar expressão com uma outra política, uma política alternativa patriótica e de esquerda».