Malianos manifestam-se contra presença francesa
Registaram-se novos protestos no Mali contra a permanência de tropas francesas no Sahel.
As autoridades malianas dispersaram, em Bamako, no dia 20, «várias centenas de pessoas» que, desafiando a proibição de ajuntamentos devido à crise sanitária, manifestaram a sua oposição à presença da força «anti-jihadista» enviada por Paris para o Sahel.
Segundo relatos da France Presse e de outras fontes, polícias e soldados «em grande número» utilizaram granadas de gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes, a pé e de motorizadas, concentrados na Praça da Independência, na capital maliana. Desfiles de motas partindo de diferentes bairros, para participar na manifestação na praça, local onde é habitual realizarem-se concentrações, foram travados por barragens policiais.
Face à acção das forças policiais, um porta-voz dos promotores do protesto declarou que o movimento tinha sido suspenso e vai «reorganizar-se». Denunciou a existência de três feridos ligeiros e de pelo menos três detenções.
A França, que intervém militarmente no Mali desde 2013, tem neste momento 5100 soldados no Sahel, no quadro da Operação Barkhane, que actua com meios terrestres e aéreos sobretudo nesse país mas também no Níger e Burkina Faso e cujo quartel-general se localiza em Djamena, capital do Chade.
No Mali, nota a RT France, a manutenção do corpo expedicionário francês na região suscita regularmente expressões de animosidade nas redes sociais, em declarações de personalidades e em manifestações em Bamako.
Vários apoiantes dos recentes protestos são membros do Conselho Nacional de Transição, órgão legislativo criado depois do golpe de Estado de 18 de Agosto de 2020, cujos dirigentes militares prometeram entregar o poder aos civis ao cabo de 18 meses. Os golpistas comprometeram-se a continuar a cooperação militar com a França, mas há notícia de que alguns sectores, incluindo nas forças armadas, são favoráveis à abertura de conversações com grupos jihadistas.
No terreno, entretanto, prosseguem os ataques terroristas contra as tropas malianas e francesas, provocando baixas entre militares e civis. Ainda nesta semana, o estado-maior do exército do Mali confirmou que um duplo ataque perpetrado por «extremistas», na região central do país, causou a morte de seis soldados e de uma trintena de insurgentes. As acções tiveram lugar, em simultâneo, nas localidades de Mondoro e Boulkessi, perto da fronteira com o Burkina Faso. Os alvos foram um quartel de tropas malianas, em Mondoro, e um quartel de tropas combinadas do G5-Sahel, com efectivos do Mali, Níger, Mauritânia, Burkina Faso e Chade, em Boulkessi.
Estes acontecimentos ocorrem numa altura em que o presidente francês, Emmanuel Macron, dá sinais de que Paris pretende em breve «ajustar» o seu «esforço militar» no Sahel, diminuindo os efectivos da Operação Barkhane – que conta com o apoio logístico e de informações dos Estados Unidos –, uma maneira de pressionar outros países europeus a enfronhar-se ainda mais na guerra do Mali. País onde, aliás, já estão envolvidos mais de um milhar de «instrutores» militares da União Europeia e está estacionada desde há anos a Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização do Mali (Minusma), com cerca de 14 mil soldados e polícias.