Alqueva ao serviço das monoculturas não serve os interesses do Alentejo e do País
AGRICULTURA No distrito de Beja, João Ferreira defendeu a necessidade de investir na produção agrícola diversificada, em vez das monoculturas intensivas e superintensivas, na área de influência do Alqueva.
«Sim é possível abrirmos um horizonte de esperança neste País»
Na segunda-feira, 28, logo pela manhã, o candidato reuniu com a Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva (EDIA), em Beja. Esta sociedade anónima de capitais exclusivamente públicos, pertencente ao sector empresarial do Estado, sob a tutela do Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, tem uma orientação estratégica baseada nos eixos prioritários do aproveitamento do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva (EFMA) assente no recurso «Água» e no aumento da produção e rentabilização dos investimentos nas infra-estruturas criadas, visando o êxito do projecto.
Uma das ideias defendidas por João Ferreira é a da necessidade de colocar o Alqueva ao serviço dos interesses do Alentejo e do País, sobretudo na vertente agrícola e energética. Também o abastecimento de água às populações deve ser uma prioridade, tal como a intensificação do uso da terra.
«Sabemos que se operaram transformações muito significativas, velozes até, no que tem sido o uso da terra, da propriedade e do tipo de paisagem. Por outro lado, procurámos perceber as perspectivas em termos de desenvolvimento das infra-estruturas associadas ao Alqueva, que projectos existem», relatou o candidato à saída da reunião. Sobre a «evolução da realidade», João Ferreira – acompanhado por João Pauzinho e José Pós-de-Mina, ambos do Comité Central do PCP – defendeu que o aumento da produtividade verificado deve contribuir para a «elevação das condições de vida» daqueles que trabalham a terra, e não dos grandes grupos económicos e dos fundos de capital de risco.
Agrava-se a situação
Ao início da tarde, depois de uma entrevista à rádio Voz da Planície, de Beja, João Ferreira encontrou-se em Serpa, no Centro de Apoio ao Desenvolvimento Económico do concelho, com o Movimento «Chão Nosso», que tem como lema «Em defesa da cultura, património e biodiversidade do Alentejo».
Estes residentes alentejanos, de diversas áreas profissionais, sociais e económicas, estão preocupados com as alterações surgidas nas últimas décadas devido à agricultura intensiva e super-intensiva, que, como se comprova todos os dias,trava o desenvolvimento do território e não promove a fixação populacional. Por isso, deveriam ser estabelecidos limites a essas culturas e impostas áreas mínimas de superfície agrícola afectas a culturas extensivas, garantindo a biodiversidade.
Destruição de monumentos, particularmente de antas, inutilização de caminhos rurais e um modelo de baixos salários e exploração laboral, a lembrar as praças de jorna e a roçar a escravatura, foram situações dadas a conhecer ao candidato apoiado pelo PCP.«As condições de trabalho não acompanharam a evolução da maquinaria. A situação agravou-se mais com a COVID-19», alertou Helena Neves, Coordenadora da União de Sindicato do Norte Alentejano (USNA/CGTP-IN), descrevendo uma situação inimaginável nos dias de hoje: tráfico de seres humanos; trabalhadores largados à porta dos hospitais, por não terem seguro de trabalho; horários desregulados; ausência de condições de trabalho e de habitação, entre outras situações.
«O “Chão Nosso”, esta experiência tem que ser muito valorizada» e «cumpre um papel fundamental, de chamar a atenção para as mudanças muito significativas e rápidas que se estão a processar no território, com impactos variados, no plano ambiental, social, demográfico», mas também «numa perspectiva de desenvolvimento associado», valorizou João Ferreira.Além de João Pauzinho, a iniciativa contou também com a participação de Domingas Pereira, médica e mandatária da candidatura de João Ferreira no distrito de Beja.
Saúde em risco
O dia de campanha – em torno da «Promoção do Interior» –terminou em Pias, com um encontro com agricultores no Salão Polivalente. Testemunharam, por exemplo, que todos os dias são despejados nos solos toneladas de fitofármacos, grande parte vindos de Espanha, o que é ilegal. Aumentar a capacidade de fiscalizar a aplicação destes produto, minimizando o seu impacto no ambiente e na saúde humana, e prever faixas de segurança junto das habitações, foram reivindicações apresentadas.
Depois de várias intervenções, João Dias, deputado do PCP na Assembleia da República, eleito por aquele distrito, salientou que a mensagem de «coragem e confiança» que João Ferreira transporta consigo «diz muito aos alentejanos», tendo em conta que é o candidato que «melhor conhece o nosso Alentejo» e «as circunstâncias em que vivemos», fruto, também, do trabalho que tem desenvolvido enquanto deputado no Parlamento Europeu.
João Ferreira concluiu assegurando que «é possível abrirmos um horizonte de esperança neste País, voltando a trazer ao centro da acção política, também do Presidente da República (PR), a Constituição e aquilo que ela tem de fundamental para o nosso desenvolvimento, para abrirmos esse horizonte de esperança no País».
«É este o compromisso e é esta a luta desta candidatura, que, sendo para PR, um órgão unipessoal, não é de um homem só», mas «feita de muitos, da força de muitos, também daqueles que não desistem de querer trabalhar a terra». Por último, apelou à participação de todos, até 24 de Janeiro, no sentido de «ajudar a convencer mais um amigo, um familiar, um conhecido, um vizinho, sobre a importância destas eleições», para que «tenhamos como PR alguém que leve a sério o juramento de defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição».
A sessão terminou com a leitura, pela professora Maria João Frazão, de um excerto do romance «Levantados do Chão», de José Saramago.