Forças populares derrotam golpe à primeira volta das eleições na Bolívia
VITÓRIA O MAS e os seus candidatos venceram as eleições presidenciais e legislativas na Bolívia, abrindo caminho à reposição da legalidade democrática. O presidente eleito, Luís Arce, ratificou o compromisso de «construir a unidade nacional».
MAS venceu com ampla maioria eleições presidenciais e legislativas
O presidente eleito da Bolívia, Luís Arce, anunciou na segunda-feira, 19, que formará um governo de unidade nacional e reafirmou a promessa de retomar o processo de mudança interrompido há quase um ano pelo violento golpe de Estado da direita e do imperialismo. Num discurso em La Paz, após conhecer os primeiros resultados, que lhe atribuíam a maioria absoluta com mais de 52 por cento dos votos, nas eleições do dia 18, o candidato do Movimento para o Socialismo – Instrumento Político para a Soberania dos Povos (MAS-IPSP) afirmou que os bolivianos recuperaram a democracia e, sobretudo, a esperança.
Arce ratificou ainda o seu compromisso com as organizações sociais – sindicais, camponesas, indígenas – que o apoiaram e a quem garantiu que levará avante o seu programa de benefícios para o povo. «Vamos governar para todos os bolivianos, vamos construir um governo de unidade nacional, vamos construir a unidade nacional», insistiu o antigo ministro da Economia dos governos do ex-presidente Evo Morales, entre 2006 e 2019.
De 57 anos, economista e professor universitário, Luís Arce Catacora agradeceu a militância de Evo Morales, que «esteve sempre connosco», e elogiou o povo boliviano, «que demonstrou uma vez mais que é sábio». Assumiu a obrigação de corresponder às expectativas e às esperanças que o povo deposita no MAS. E agradeceu à «comunidade internacional» pelo seu apoio ao processo eleitoral.
Golpistas reconhecem
Mesmo antes dos resultados oficiais, a presidente do governo de facto da Bolívia, Jeanine Áñez, reconheceu na segunda-feira a vitória do MAS e seu candidato presidencial. Com enorme hipocrisia, Luís Almagro, secretário-geral da Organização de Estados Americanos (OEA) – um instrumento da política imperialista de Washington na América latina e Caraíbas –, felicitou Arce e Choquehuanca pela sua vitória nas eleições presidenciais bolivianas. «O povo expressou-se nas urnas», reconheceu Almagro, que desempenhou um papel fulcral na concretização do golpe de Estado do ano passado contra a vitória eleitoral de Evo Morales e do Mas na Bolívia. De igual modo, o governo dos EUA, através de um obscuro subsecretário interino do Gabinete para os Assuntos do Hemisfério Ocidental, Michael Kozak, felicitou os vencedores, e manifestou o desejo de Washington «trabalhar com recém-eleito governo».
De acordo com os resultados preliminares, o candidato presidencial do MAS venceu com mais de 52 por cento. Em segundo lugar, com 31,5 por cento, ficou o direitista Carlos Mesa – que também reconheceu a vitória de Arce – e, em terceiro, Luís Camacho, de extrema-direita, com 14,1 por cento.
Convocados para as eleições estavam mais de sete milhões de bolivianos. Votaram 87 por cento dos inscritos que elegeram, além do presidente e do vice-presidente, 36 membros do Senado e 130 deputados da Câmara da Assembleia Legislativa Plurinacional, para o mandato de 2020-2025.
Amigos saúdam MAS
O ex-presidente Evo Morales, do seu exílio forçado na Argentina, saudou o triunfo dos candidatos do seu movimento. «A vontade do povo impôs-se. Houve uma vitória contundente do MAS-IPSP. O nosso movimento político terá a maioria nas duas câmaras. Vamos agora devolver a dignidade e a liberdade ao povo. Jallalla [Viva!] Bolívia».
Em todo o mundo, numerosas personalidades e organizações progressistas manifestaram a sua satisfação pelo triunfo do MAS. Em Havana, o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel regozijou-se pela vitória das forças populares bolivianas, que recuperaram nas urnas «o poder que lhe foi usurpado pela oligarquia, com a cumplicidade da OEA e o mando imperial». O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, celebrou a vitória do MAS logo na primeira volta das eleições e a derrota nas urnas dos representantes do governo golpista.
Solidariedade do PCP
com forças populares bolivianas
Perante os resultados já conhecidos das eleições de 18 de Outubro, o PCP enviou ao MAS e ao Partido Comunista da Bolívia calorosas felicitações pela eleição de Luís Arce como presidente do Estado Plurinacional da Bolívia, assim como pela vitória do MAS nas eleições legislativas e a conquista da maioria em ambas as câmaras da Assembleia Legislativa Plurinacional.
Para o PCP, o expressivo triunfo agora alcançado nas urnas pelo MAS e seus aliados confirma a natureza antidemocrática e antipopular do golpe de Estado de Novembro de 2019, levado a cabo pelas forças reaccionárias, com o apoio do imperialismo, contra o legítimo governo de Evo Morales.
Trata-se de uma vitória que reafirma a vontade do povo boliviano em prosseguir o processo de afirmação soberana e de progresso social na Bolívia e que dá confiança à luta dos povos da América Latina e Caraíbas e do mundo – enfatizam os comunistas portugueses.
Na sua mensagem, o PCP reafirma a solidariedade com o MAS, com o Partido Comunista da Bolívia e com outras forças revolucionárias e progressistas bolivianas, e insta ao respeito da vontade popular expressa nas urnas pelo povo boliviano.
Já em vésperas das eleições do dia 18, o PCP tinha enviado uma carta a essas mesmas forças políticas, reafirmando a solidariedade dos comunistas portugueses para com a luta dos trabalhadores e povo bolivianos em defesa da soberania e independência, do direito inalienável que lhes assiste a determinar o seu futuro e vias de desenvolvimento livres da ingerência e pressões do imperialismo. O PCP transmitia igualmente a sua convicção de que através da resistência e capacidade de luta, os trabalhadores e massas populares bolivianas conseguirão, mais cedo do que tarde, derrotar a ofensiva reaccionária, restabelecer a democracia e fazer valer os direitos e interesses do povo boliviano.