Partido Comunista da Bolívia
«O povo boliviano ganhou consciência e resiste»
Sindicalista e comunista de longa data, Victoria Foronda combateu a violência fascista e a destruição social provocada pelo neoliberalismo e empenhou-se no processo anti-imperialista encabeçado por Evo Morales. Quase um ano após o golpe, garante que o povo boliviano «ganhou consciência» e voltará a vencer.
Passou-se quase um ano desde o golpe que depôs o presidente Evo Morales. Como se chegou a essa situação?
O golpe começou a ser preparado há muito, mal se deu a primeira eleição de Evo Morales. Os atentados iniciaram-se pouco depois e chegou a ser enviada para a Bolívia, por Hugo Chávez, uma equipa de segurança que impediu uma tentativa de assassinato do presidente. Mais recentemente, o imperialismo recheou de dinheiro a cúpula militar boliviana, deu-lhes casa e pensão nos EUA, para que entregassem o lítio. Este foi o golpe do lítio! Novamente, queriam assassinar Evo Morales e agora foi o presidente do México que o salvou, ao enviar um avião para o resgatar. Depois, começaram a perseguir membros do MAS [Movimento ao Socialismo] e líderes sociais e comunitários. Mas nestes anos o povo ganhou consciência e os golpistas não contaram com esse factor...
Como está a situação, passado quase um ano?
Os golpistas ainda não dominam completamente o país. Têm-se deparado com muita resistência. O Senado ainda tem maioria progressista, que resiste a ameaças de todo o tipo e não aprova as ilegalidades. A maioria mantém-se firme. Uma deputada, a quem assassinaram a família, diz: «já me mataram, mas continuo firme!». O povo está em luta em defesa da sua dignidade e condições de vida. E resiste.
Quanto ao Partido Comunista da Bolívia, a sua estrutura mantém-se intacta, assim como o trabalho entre as massas.
Que balanço se pode fazer destes anos de governo progressista?
Houve um avanço fenomenal! O exército foi mandado para o campo documentar a população rural, que na sua maioria não tinha identificação nem documentos. Os militares percorreram todas as comunidades, até as mais esquecidas e isoladas, com este objectivo. Jovens que nunca pensaram ir para a Universidade tiveram oportunidade de o fazer: centenas foram estudar Medicina para Cuba. Formou-se um exército de batas brancas na Bolívia. Construiu-se uma rede de estradas como nunca tínhamos tido. E até foi colocado um satélite em órbita. Mostrámos que com os nossos próprios recursos podemos viver bem, com saúde, educação e qualidade de vida. A Bolívia não é um país pobre!
Qual o papel do PCB em todo este processo?
Foi o Partido que, ainda na década de 90, indicou como candidatos a deputados Evo Morales e outros indígenas que estavam na luta camponesa. O MAS integrava a Esquerda Unida (EU), com o PCB. Era o modo de desenvolver a luta. Entretanto, a Esquerda Unida rompe-se e o MAS procurou gente de esquerda para ter sucesso nas eleições. Teve a sorte de encontrar Álvaro Linera, marxista-leninista assumido, teórico muito destacado e um vice-presidente muito leal.
Apesar das discordâncias entre o Partido e o MAS, devido à ruptura da EU, empenhámos-nos no processo anti-imperialista, porque nos importava essa trincheira e queríamos defender a unidade. Somos comunistas, sim, mas também anti-imperialistas.