Manuel Pineda
Responsável das relações internacionais
do Partido Comunista de Espanha

«É fundamental criar mobilização social»

Responsável das relações internacionais do Partido Comunista de Espanha (PCE) e deputado no Parlamento Europeu, Manuel Pineda esteve na Festa do Avante!. Fala aqui da situação no seu país e das prioridades dos comunistas espanhóis.


Como caracteriza a situação em Espanha?

Estamos numa situação complicada, procurando dar uma resposta social à crise sanitária da COVID-19 e às suas consequências no âmbito económico e social. Tentamos travar uma saída conservadora à crise que traria mais sofrimento à classe trabalhadora e à maioria social. Não podem ser os sectores mais desfavorecidos da sociedade a pagar as consequências da crise e, nesse sentido, impulsionamos medidas e políticas de acordo com a correlação de forças existente. Procuramos para isso mobilizar aliados no âmbito institucional e mais apoios na sociedade. Estamos a enfrentar aqueles que estão habituados a dominar a política, a pôr a política ao serviço da economia. Há uma tentativa por parte da oligarquia e dos seus meios económicos de nos afastar do governo, porque consideram a presença dos comunistas uma «anomalia» que tem de ser resolvida.

Tem sido difícil construir alianças para a maioria governativa?

Conseguimos, num processo demorado, que incluiu a repetição de eleições legislativas, uma maioria heterogénea, constituída pelo Partido Socialista Operário Espanhol e por Unidas Podemos (UP), numa coligação de esquerda, a que se somaram apoios dos independentistas catalães, bascos e galegos e de outras forças. Foi essa maioria heterogénea que nos permitiu chegar ao governo. Mas, por exemplo, a situação na Catalunha é muito complexa, o que dificulta consolidar a maioria parlamentar indispensável. Nós, para a Catalunha, apostamos numa solução política, defendemos que se crie um quadro que permita ao povo catalão agregar-se a Espanha de forma voluntária e não de maneira imposta. Entendemos que, neste momento, a melhor solução para Espanha é uma República Federal. É um anacronismo ter um rei, um chefe do Estado não escolhido pelos espanhóis mas pela genética… A monarquia nunca teve legitimidade, é herdeira da ditadura franquista. Defendemos que se submeta a referendo a forma da chefia do Estado, estamos convencidos de que o povo espanhol votará maioritariamente pela República.

Para o PCE, quais as prioridades hoje?

Cremos que é fundamental criar suficiente mobilização social que nos dê força para poder levar a cabo as nossas propostas, agora que estamos no governo, depois de 61 anos. Estamos no governo mas não temos o poder e se não tivermos suficiente mobilização social, dos sindicatos, dos movimentos sociais, das organizações que defendem os direitos dos mais desfavorecidos, não teremos força, no quadro da UP, para levar a cabo as propostas com as quais nos comprometemos. No plano internacional, trabalhamos para encontrar alianças com diferentes sectores, sindicatos, movimentos sociais, para conseguir que o mundo pós-pandemia seja melhor. Necessitamos de gerar uma relação internacional que se baseie no benefício mútuo, que não seja uma imposição do Império sobre os povos mas que assente em acordos livres e voluntários entre os povos e seus governos, no respeito da soberania dos povos, dos direitos humanos, do direito internacional e da paz.




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