O velho normal

Desde me­ados de Maio que, nesta co­luna, só por uma vez não re­fe­rimos a cam­panha me­diá­tica or­ques­trada contra a Festa do Avante! e contra o PCP. Foram mais de três meses em que, seja em peças «jor­na­lís­ticas» ou em co­men­tário e aná­lise, a Festa teve um es­paço nos meios de co­mu­ni­cação de massas como não há me­mória. Não pelo que esta sig­ni­fica, en­quanto Festa do Por­tugal de Abril – e neste ano com es­pe­cial sig­ni­fi­cado dados os ata­ques a di­reitos e as pul­sões fas­ci­zantes que se vêm ma­ni­fes­tando – mas onde so­bres­saiu a von­tade de, num pri­meiro mo­mento, travar a sua re­a­li­zação e, go­rada a in­tenção, de a es­va­ziar.

Para a Festa foram mo­bi­li­zados meios pelos prin­ci­pais ór­gãos de co­mu­ni­cação so­cial como nunca visto, por­ven­tura na ex­pec­ta­tiva de ver con­cre­ti­zadas as pro­fe­cias da des­graça a que foram dando eco, quando não as as­su­miram ex­pres­sa­mente. Mas a re­a­li­dade impôs-se e a exem­plar res­posta que as or­ga­ni­za­ções do PCP deram às exi­gên­cias desta Festa não deram qual­quer es­paço a de­sejos dessa na­tu­reza. Mesmo a SIC, que re­correu re­pe­tidas vezes à men­tira gros­seira para atacar a Festa e o PCP, se viu obri­gada a re­co­nhecer o cum­pri­mento das me­didas de pro­tecção sa­ni­tá­rias.

Mas a pressão me­diá­tica sumiu-se de sú­bito. Todo o ar­senal ar­gu­men­ta­tivo em torno de uma su­posta ex­cep­ci­o­na­li­dade da Festa es­fumou-se e os jor­nais do dia se­guinte re­gres­saram ao velho normal: apesar de terem so­mado cen­tenas ou mi­lhares de ima­gens aos seus ar­quivos, as únicas que che­garam às bancas da se­gunda-feira se­guinte nada ti­nham de di­fe­rente de anos an­te­ri­ores. De novo, es­co­lheram trans­formar o maior co­mício re­a­li­zado no País num acto de um homem só, com o Jornal de No­tí­cias e o Pú­blico a ilus­trarem as suas pri­meiras pá­ginas com ima­gens fe­chadas no Se­cre­tário-geral.

A estes po­demos ainda juntar o exemplo dos prin­ci­pais se­ma­ná­rios: as edi­ções em papel do Diário de No­tí­cias, do Ex­presso e do Sol do sá­bado se­guinte não ti­nham mais do que re­fe­rên­cias la­te­rais à Festa, também estas ex­clu­si­va­mente a partir de uma ou outra de­cla­ração do Se­cre­tário-geral.

Também os co­men­ta­dores e ana­listas que, de forma mais agres­siva, se de­di­caram ao ataque à Festa pas­saram por cima de tudo o que dis­seram ao longo de meses. Ve­jamos dois exem­plos: Mar­ques Mendes, de­pois de as­sumir a di­an­teira no ataque à Festa, veio dizer que as normas sa­ni­tá­rias foram cum­pridas («era de es­perar, porque o PCP é um par­tido cum­pridor», acres­centou); Mi­guel Sousa Ta­vares, já nesta se­mana, também es­queceu por com­pleto tudo o que disse e con­trapôs, pa­la­vras suas, o «mau exemplo» do úl­timo 13 de Se­tembro em Fá­tima com o «bom exemplo» da Festa do Avante!.

Mas não vale a pena ter qual­quer ex­pec­ta­tiva de que tudo isto sirva para que quem usou do seu poder me­diá­tico para elevar os seus de­sejos a linha edi­to­rial, fa­zendo-os passar por factos, deixe de o fazer. Basta dizer que a pri­meira per­gunta após o anúncio de João Fer­reira como can­di­dato do PCP a Pre­si­dente da Re­pú­blica tenha sido se era para ir a votos ou de­sistir antes das elei­ções.




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