O direito à alegria é para todos

Manuel Pires da Rocha

O dilema «saúde pública ou Festa do Avante!» é uma falsidade e um discurso de classe

Os humanos não foram feitos para «confinamentos». E, pior ainda, quando uma emergência sanitária como a que está em curso acelera a vulnerabilização das condições de vida dos trabalhadores e do povo. No contexto actual, de luta pela valorização dos serviços públicos, de exigência de reforço da soberania nas suas diversas dimensões, acentua-se a importância da realização da Festa do Avante!, celebração política e cultural de grande alcance, portadora inquestionável dos valores da Revolução de Abril.

O ataque cerrado à Festa do Avante! e ao PCP não obedece, naturalmente, a qualquer razão de natureza sanitária. A ferocidade evidenciada pelos porta-vozes das forças anti-democráticas, usando todos os meios ao seu alcance, tem por objectivo o silenciamento da Festa enquanto grande realização política, elemento essencial da proposta de uma política patriótica e de esquerda, realização de um Partido organizado e comprometido com o seu povo.

A gritaria que saiu à rua, despudoradamente, visa o silenciamento da acção cultural e artística enquanto elemento central da construção de uma sociedade livre, em que a Cultura assume o papel de argumento civilizacional, avesso ao lugar ornamental que a classe dominante lhe atribui. O ódio à Festa é o ódio à Paz, ali celebrada num grande encontro internacionalista de partidos e movimentos de todo o mundo, que encontram na Festa do Avante! uma tribuna mais da sua luta pelo socialismo e pela cooperação entre povos.

Lugar de liberdade

A Festa do Avante! não é um «festival». A redução da sua expressão a um assunto de palco evidencia, desde logo, a profunda ignorância acerca do que é a Festa. A Festa do Avante! contém em si, de facto, um conjunto alargado de «festivais» – de cinema, de teatro, das tipologias musicais todas, de todo o mapa da gastronomia e do artesanato, das mais diversas formas de representar plasticamente a vida. E contém também uma Feira do Livro, com tudo o que de bom está relacionado com a actividade editorial (lançamento de livros, debates, sessões de autógrafos). A Festa é ainda uma importante celebração desportiva, desde os desportos federados aos jogos de terreiro, mobilizando milhares de atletas e um numeroso público. Na Festa do Avante! são abordados todos os temas da vida política e da vida económica de Portugal e do Mundo, tomando a palavra, em pé de igualdade, dirigentes políticos, activistas, jornalistas, académicos, cidadãos «comuns» que ali fazem ouvir a sua voz num grande e enriquecedor debate.

A Festa do Avante! não é um festival. É o ponto de encontro das dimensões todas da existência, de que a luta é alavanca essencial. Não é um «santuário de comunistas» – é o lugar em que todos os democratas se sentem bem, desde a implantação à vivência da Festa, também porque, ali, a política é um mecanismo civilizacional de valorização do trabalho e dos trabalhadores, desde a galeria mineira ao ensaio de orquestra.

A Festa do Avante! é um lugar da Saúde, território em que a alegria assume o seu papel fundamental na conquista do bem-estar. A Festa é um lugar irrepetível de fraternidade – a representação mesma da liberdade, da esperança, da urgência em marcar encontro com a humanidade das existências, individual e colectivamente.

A edição de 2020 da Festa do Avante! será inabitual apenas naquilo que tem de ser. No resto será a Festa do Avante! de sempre. Há, pois, razões – as do obscurantismo – para ser tão temida. E razões maiores – as da felicidade, tão preciosa nestes dias – para ser tão desejada.




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