Imperialismo cultural
Há um caminho árduo a empreender pela libertação das grilhetas do imperialismo cultural
Nos tempos actuais a financeirização da economia e a adopção de políticas que visam reduzir os custos do factor trabalho, precarizam o trabalho, atacam os direitos dos trabalhadores, fragmentam e proletarizam a força de trabalho. Para impor essa nova ordem tornou-se tão importante a produção de bens de consumo e de instrumentos financeiros como o controlo dos meios de comunicação social que preparam e justificam as acções políticas e militares imperialistas através dos meios tradicionais, rádio, televisão, jornais e dos novos proporcionados pelas redes informáticas, e a construção de um imaginário global com os meios da cultura mediática de massas.
Desde há décadas que são muitos os sintomas de desordem mental e cultural, com a fragilização do pensamento crítico varrido pelos turbilhões das amálgamas informativas e culturais servidas em doses massivas onde se desagregaram todos os projectos humanistas do iluminismo, cujo ponto máximo é o marxismo, guilhotinando-os na fúria bárbara dessa nova ordem em que o imperialismo cultural é um pilar.
A educação, esse grande projecto iluminista, é pulverizada nas sabedorias dos algoritmos dos sites da Wikipédia, Facebook, Instragam, Twitter etc.,etc., que se colocam acima da inteligência e do conhecimento das pessoas esmagando a sua capacidade de julgamento. Em que quase deixa de haver lugar para a criação artística a não ser como forma de ganhar dinheiro, um caminho que Warhol, sem ironias nem sentimentalismos, percorreu com inquietante êxito. Tudo se normaliza num espectáculo contínuo e generalizado de mundanidades. Um estado de sítio em que o que sobrou para as artes foi regressar ao dadaísmo, não como protesto desesperado contra um mundo insuportável mas para uso publicitário. O destino histórico dos formalismos termina sempre na utilização publicitária do trabalho sobre a forma. É a porta grande por onde entra o conceptualismo, moda corrente porque é fácil, porque até pessoas sem conhecimentos o conseguem fazer, em que a única exigência é ter ideias a que não se exige que sejam boas ou brilhantes, em que a falta de rigor e o acaso são os valores dessas artes fraudulentas promovidas por vasto e diversificado grupo de intermediários culturais que estão sempre entre duas actividades promocionais onde a arte é sempre e só mercadoria e o público se alicia com mentiras ou melhor (pior) não verdades das emoções factícias de uma cultura que explora o empobrecimento intelectual e moral dos indivíduos.
Um tempo em que o bullying cultural disfarçado de política cultural explora política, económica e socialmente as pessoas com o objectivo de reordenar valores para promover a confusão ideológica e a desorientação política, para que as massas populares exploradas pelo imperialismo económico se conformem aos seus interesses perdendo identidade e a alienação global seja uma alienação consentida.
Um dos grandes e dos mais inquietantes êxitos do imperialismo cultural é a captura de intelectuais de esquerda, rendidos e deslumbrados com a velocidade de translação das modas e a artificialidade mundana dos eventos culturais, ficando incapazes de qualquer capacidade crítica contribuindo activamente para que esse estado de sítio estenda os seus tentáculos.
Há um caminho árduo a empreender pela libertação das grilhetas do imperialismo cultural recuperando o carácter transformador das artes, da cultura, inscrevendo-o no processo mais geral de lutas pela libertação de todas as formas de exploração do trabalho humano.