Em Portugal existem braços e vontades para produzir
AGRICULTURA Jerónimo de Sousa visitou, quinta-feira, 16 de Julho, uma exploração de tomate para indústria, em Caneiras, Santarém. Num ano com muitas adversidades, Vera Alagoa, agricultora, alertou para as imensas dificuldades em suportar os custos de produção. A campanha deste ano, confessou, não vai chegar para as despesas. O PCP exige um outro caminho e uma outra política, que garantam o escoamento de produtos com preços justos à produção.
É insustentável o custo dos factores de produção
Nos campos junto do rio Tejo, as plantações de tomate e milho predominam. Os cereais, como o arroz, cada vez menos, e a vinha dão também cor e textura à paisagem da Lezíria.
Na aldeia de Caneiras, o Secretário-geral do PCP foi recebido por Vera Alagoa, uma agricultora que, por amor à terra, prosseguiu o trabalho dos seus pais. Sem tempo a perder e com o sol ainda bem alto, pediu que a seguissem, na sua carrinha de caixa-aberta, até uma das parcelas que produz: cerca de 15 hectares, num total de 110.
Com uma vista privilegiada sobre a ponte Salgueiro Maia e a cidade de Santarém, confessou estar bastante preocupada com a campanha deste ano, devido ao facto de os custos de produção terem subido, atingindo os sete mil euros por hectare, e à necessidade de aplicar mais tratamentos nas terras, invadidas por plantas invasoras, por fungos e outras doenças. Se não fossem feitos (os tratamentos) a perda de produção poderia ser total.
Sem contar com as horas de trabalho, todos os dias das 7h00 às 21h00, para conseguir alguma produtividade teria que «retirar» cerca de 100 toneladas de tomate por hectare. A «seareira» prevê, no melhor dos cenários, 75 toneladas.
A esta equação somam-se os preços baixos pagos à produção. Neste quadro, «como é que vamos arranjar dinheiro para pagar os factores de produção? Andamos sempre com o coração nas mãos quando nos aparecem as facturas», relatou Vera Alagoa, acrescentando: «Produzir tomate neste momento é sobreviver, não é viver. Esperamos melhores dias.»
Amarga realidade
Jerónimo de Sousa destacou que com aquela visita – acompanhada por dirigentes locais e nacionais do Partido, mas também por alguns órgãos de comunicação social – o PCP quis dar visibilidade a uma «realidade onde somos excedentários, a produção de tomate para a indústria», mas que «corre o risco de definhar, tendo em conta os custos insuportáveis dos factores de produção, particularmente dos produtos fitofármacos» (para proteger as culturas).
Em 2019, Portugal, com uma produtividade por hectare das melhores da Europa, produziu tomate em cerca de um milhão e 400 mil hectares. «Estão a matar a galinha dos ovos de ouro» se o Governo não entender a «importância da continuação desta produção. Esta é uma batalha incansável que estamos a travar», para destacar a «importância das condições que Portugal tem para produzir» e, por outro lado, alertar para a «questão dos preços» pagos aos produtores, «razão do sentimento de não ser capaz de manter essa mesma produção», afirmou o Secretário-geral do PCP, dando como exemplo o tomate, mas também o trigo, o leite e a carne. Neste sentido, considerou a produção nacional «um elemento estratégico», num País com um «défice de quatro mil milhões de euros», onde «muito podia ser produzido».
Esta visita «não é um acto meramente simbólico», mas sim um «apelo gritante para que se encare a sério uma política alternativa que tenha como factor estratégico o aumento da produção nacional», reforçou Jerónimo de Sousa, afirmando que é «tempo» de «deixar de falar só no défice das contas públicas» e «olhar para a produção como uma opção de fundo», dando mais apoios «à agricultura e aos pequenos e médios agricultores» portugueses.
Em termos mais gerais, Portugal precisa de uma política que aposte na produção nacional, na indústria, na introdução e aproveitamento de novas tecnologias, que dirija os apoios para a pequena e média agricultura, dinamize os mercados de proximidade, fiscalize, de facto, a actividade da grande distribuição e reforce o investimento público para apoiar a produção. «Um país que não produz é um país condenado», concluiu o Secretário-geral do PCP.
Sabia que...
# O trigo que Portugal produz dá apenas para os primeiros 12 dias do ano e o milho para quatro meses;
# Entram no País mais de 100 mil toneladas de arroz;
# Consumimos mais de 300 mil toneladas de batata francesa ou espanhola. Produtores portugueses não conseguem vender a batata a 10 cêntimos;
# Nos últimos anos, foram eliminadas mais de 400 mil explorações agrícolas, particularmente pequenas e médias.