Um abraço solidário à Palestina insubmissa

PALESTINA A solidariedade não pode estar confinada, assim como a luta dos povos pela sua libertação nacional e emancipação social. Em Lisboa, na passada segunda-feira, 6, disse-se não! aos planos sionistas de anexação da Cisjordânia, exigiu-se o fim dos crimes israelitas e reclamou-se do Governo português uma voz firme em defesa dos legítimos direitos do povo palestiniano.

Israel pretende anexar 30% da Cisjordânia, incluindo o Vale do Jordão e os colonatos ilegais

O CPPC, a CGTP-IN e o MPPM promoveram na segunda-feira ao final da tarde, na Praça do Martim Moniz, em Lisboa, uma acção de solidariedade com o povo palestiniano, intitulada Não à anexação! Fim aos crimes de Israel!. Na base da convocação da iniciativa esteve a intenção anunciada por Israel de anexação de 30% da Cisjordânia (que chegou a ser anunciada para 1 de Julho), mas foi o cumprimento integral dos direitos nacionais do povo palestiniano que ali se reivindicou: o fim da ocupação, o desmantelamento dos colonatos e do muro de separação, o levantamento do cerco a Gaza, a libertação dos presos palestinianos nas prisões israelitas e a criação do Estado da Palestina nas fronteiras anteriores a Junho de 1967, com capital em Jerusalém Oriental e a salvaguarda do direito ao regresso dos refugiados.

Afastados entre si cerca de dois metros e envergando máscaras, de modo a salvaguardar a necessária segurança sanitária, os presentes empunharam bandeiras das organizações promotoras e cartazes com o lema da iniciativa. Alguns, mais novos, recordavam os recentes assassinatos de jovens palestinianos pelas forças repressivas israelitas, inscrevendo os seus nomes e idades: Mohammad Hamayel, 15 anos; Zaid Qaisiya, 17 anos; Ahmed Ebekat, 27 anos; Lyad Al-Halak, 32 anos. Estes são «apenas» quatro de milhares vidas que a agressão israelita, ao longo de mais de sete décadas, ceifou cedo. Crimes quotidianos que permanecem sem castigo.

A comunidade palestiniana de Lisboa esteve representada, assim como o PCP.

Um povo sem Estado

A acção de solidariedade foi apresentada por Julie Neves, membro da direcção da Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, e contou com as intervenções de representantes das três entidades promotoras. Antes, o actor e director artístico do Teatro Extremo, Fernando Jorge Lopes, leu dois poemas dos autores palestinianos Fadwa Tuqan e Mahmud Darwich, cujas palavras desmentem um dos argumentos principais dos sionistas, o de que o povo palestiniano simplesmente não existe.

Ora, esse povo não só existe e tem uma cultura forte e enraizada milenar como demonstra todos os dias uma impressionante capacidade de resistência. Muitos milhares de palestinianos, nascidos já no exílio, nunca pisaram a terra do país que sentem como seu e ao qual sonham em voltar.

Mas deixemos falar os poetas: «Basta-me morrer na sua terra/ Ser sepultada nela/ Desfazer-me e desaparecer no seu solo/ E depois renascer como um rebento de erva/ Como uma flor na mão de uma criança que cresceu no meu país./ Basta-me permanecer/ No amplexo do meu país/ Como terra, rebento de erva e flor» (Tuqan).

«Tu saqueaste as vinhas dos meus pais/ E a terra que eu cultivava/ Eu e os meus filhos/ Levaste-nos tudo excepto/ Estas rochas/ Para a sobrevivência dos meus netos/ Mas o vosso governo também vai apoderar-se delas/ … ao que dizem!» (Darwich).

Romper as amarras
da opressão

Beatriz Goulart, vice-presidente da direcção do CPPC, lembrou que a ameça de anexação da Cisjordânia, que se poderá desencadear a qualquer momento, tem como consequência principal «tornar impossível a criação do Estado da Palestina», prometido há décadas através de sucessivas resoluções das Nações Unidas. Tem sido em frontal desrespeito destas, aliás, que nos últimos anos Israel tem intensificado a ocupação dos territórios palestinianos e a violência contra a sua população, contando com o apoio e mesmo com o estímulo de sucessivas administrações dos EUA, em especial a actual.

Particularmente grave é, para Beatriz Goulart, o facto de as atrocidades «não terem cessado em tempo de pandemia»: quando por todo o mundo se apelava à solidariedade e à defesa da saúde, «centenas de jovens palestinianos continuavam nas prisões israelitas, sem acesso a cuidados médicos», enquanto milhares de outros permaneciam «encerrados em Gaza, ou com recolher obrigatório imposto em vários locais, sem acesso a comida, médicos ou sequer água».

Do Conselho Nacional da CGTP-IN, João Barreiros também se referiu às consequências da pandemia: «Israel decidiu encerrar vários sectores de actividade, mas deixou bem patente o seu carácter terrorista e genocida ao colocar sem trabalho, sem direitos laborais e sem qualquer protecção social milhares de trabalhadores palestinianos».

A ocupação israelita é «marcada pela segregação e discriminação e tem um traço de classe», sublinhou o sindicalista, lembrando os palestinianos que não só são forçados a procurar trabalho nos territórios ocupados ou nos colonatos como são, aí, sujeitos a todo o tipo de discriminações e barbaridades: os salários são inferiores em 50%, a precariedade atinge-os de modo particular e ainda vêem parte dos seus rendimentos retirados pelos intermediários.

A última intervenção da tarde coube ao vice-presidente do MPPM, Carlos Almeida, que integrou a ameaça israelita de anexar a Cisjordânia numa ofensiva mais geral contra o povo palestiniano, e em geral contra os povos da região, protagonizada por Israel e pelos EUA. Integram-na o reconhecimento norte-americano de Jerusalém como capital de Israel e da soberania israelita sobre os Montes Golã sírios, o chamado «Acordo do Século», o encerramento dos escritórios da Missão Palestiniana em Washington ou o corte no financiamento da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos (UNRWA).

Para Carlos Almeida, há que não ter medo das palavras: na Palestina está em curso uma limpeza étnica e a anexação bem pode não ter avançado a 1 de Julho que não deixa por isso de avançar «todos os dias», em cada casa demolida, em cada oliveira queimada, em cada jovem preso, em cada criança impedida de ir à escola. O projecto do Grande Israel, do Mar Mediterrâneo ao Rio Jordão, pelo menos, continua bem vivo nos meios sionistas.

O caminho da vitória

Resistência e solidariedade continuam a ser, como sempre foram, os elementos essenciais para a vitória do povo palestiniano. Não sendo indiferente a natureza do poder político em Israel ou nos próprios EUA, não se vislumbra no imediato qualquer possibilidade de alteração favorável aos direitos do povo palestiniano.

Como lembrou Carlos Almeida, a principal «alternativa» a Netanyahu é, actualmente, Benny Gantz, ninguém menos do que o «carrasco de Gaza» de 2014, quando comandava o Exército. Já Joe Biden, dado como favorito nas presidenciais norte-americanas de Novembro, enquanto ocupou o cargo de vice-presidente assistiu de forma cúmplice a três brutais agressões contra a população da Faixa de Gaza.

As três organizações promotoras da acção de dia 6 convergem ainda na necessidade de reclamar, junto das autoridades portuguesas, a clara condenação da pretendida anexação da Cisjordânia e uma atitude firme de defesa dos direitos do povo palestiniano, ou seja, de respeito pelo direito internacional.

Beatriz Goulart, do CPPC, recordou a recente visita a Portugal de Mike Pompeo e Benjamin Netanyahu e a conivência então demonstrada pelo Governo português. João Barreiros também sublinhou essa «cumplicidade», patente desde logo na reiterada atitude de «ignorar as criminosas acções do regime sionista». Carlos Almeida, por seu lado, defendeu uma revisão das relações de Portugal com Israel, o cancelamento de contratos de fornecimento de material militar e o fim da cooperação económica e científica com esse país.

O que pretende Israel

«Em tempo de pandemia, um governo dito de “unidade e urgência” foi constituído em Israel com um propósito central: promover a anexação de jure de cerca de 30% dos territórios palestinos ocupados em 1967, incluindo todo o vale do rio Jordão e os colonatos instalados contra o direito internacional na Cisjordânia. Escudada no apoio da Administração Trump, uma tal decisão – que o governo de Israel pretende concretizar a partir do dia 1 de Julho próximo – viola e afronta décadas de resoluções das Nações Unidas e as normas mais elementares do direito e da legalidade internacional, desde logo, o princípio da inadmissibilidade da aquisição de território pela força estabelecido na Carta das Nações Unidas (art. 2.º) e reiterado na resolução n.º 242 do Conselho de Segurança da ONU. O mundo não pode aceitar que este projecto se concretize, nem pode continuar a assistir passivamente à contínua limpeza étnica do povo palestino.»

 

Excerto da petição lançada pelo MPPM a 26 de Junho


PCP sempre presente

O PCP fez-se representar na acção de dia 6 através de uma delegação da qual fazia parte Ângelo Alves, da Comissão Política, o deputado Bruno Dias, também membro do Comité Central, e Rita Janeiro da Secção Internacional. Em declarações prestadas no local, Bruno Dias realçou que o Partido «está presente e diz bem alto que está com a luta do povo palestino pela liberdade, pela independência e por uma paz justa e duradoura».
Alertando para as ameaças provadas pela anexação que, garante, «está preparada, está anunciada, que está a ser lançada em cada momento por parte do governo de Israel», Bruno Dias reafirmou ser «mais importante do que nunca dizer bem alto que é preciso denunciar os crimes do Estado de Israel» e, ao mesmo tempo, afirmar «a nossa solidariedade para com o povo heróico da Palestina».
Do Governo português, o deputado comunista exige o fim da «conivência» e do «silêncio cúmplice». Pelo contrário, realça, «tem que haver uma actuação firme, tem que haver uma actuação digna por parte do Estado Português, fazendo cumprir a Constituição da República, fazendo respeitar o direito internacional, assumindo uma posição justa do lado de quem luta por essa paz e por essa justiça».




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