Mobilização notável pela Cultura e pelos seus trabalhadores

EMERGÊNCIA As respostas à epidemia criaram o cenário para se concretizarem os perigos da elevada precariedade que tem marcado o trabalho e a vida de quem da Cultura faz profissão e do drama faz luta.

São necessárias medidas urgentes e respostas estruturais

«É uma mobilização notável, que corresponde aos sentimentos gerais dos artistas, dos trabalhadores da Cultura», comentou Jerónimo de Sousa, no dia 4, em Lisboa. O Secretário-geral do PCP, numa delegação de que fizeram parte Jorge Pires, da Comissão Política do Comité Central, e a deputada Ana Mesquita, comentou assim a manifestação nacional «Parados, nunca calados», que nessa quinta-feira, ao final da tarde, reuniu milhares de pessoas no Rossio, na Avenida dos Aliados, no Porto, e frente ao Teatro Lethes em Faro.

A organização da jornada partiu do Sindicato dos Trabalhadores de Espectáculos, do Audiovisual e dos Músicos (CENA-STE), para dar expressão pública à situação social e exigir medidas de emergência e de fundo, face aos efeitos «catastróficos» que a COVID-19 desencadeou num sector em que domina a precariedade.

A esta acção, que obteve o apoio do Manifesto em Defesa da Cultura e de várias associações e colectivos, juntaram-se ainda várias dezenas de profissionais da Cultura, em Viana do Castelo, à mesma hora e assumindo os objectivos definidos pelo sindicato da CGTP-IN.

No Rossio esteve também uma delegação da confederação, com a sua Secretária-geral, Isabel Camarinha.

A participação nos protestos foi organizada de modo a respeitar as precauções requeridas pela prevenção da propagação da doença, nomeadamente o distanciamento e o uso de máscaras.

Tal como os promotores tinham pedido, muitos manifestantes levaram cartazes a assinalar a profissão e a área de actividade, outros simplesmente vestiram «farda de trabalho».

A forma como se foram desenrolando as intervenções, em nome próprio ou de organizações, seguindo a encenação de uma viagem, como sucedeu durante duas horas no Rossio, mostrou claramente que ali estavam trabalhadores da Cultura. A negra ironia das palavras dos oradores fez ecoar na praça o tom que muitos colocaram nos cartazes.

Desde Março, com o encerramento de teatros e outras salas e com o cancelamento generalizado de espectáculos, ficaram sem rendimentos milhares de trabalhadores de uma miríade de profissões. Actores, produtores, músicos, malabaristas, palhaços, contorcionistas, equilibristas, técnicos, agentes, encenadores, argumentistas – que em inúmeros casos trabalham com vínculos laborais extremamente precários, deixaram de ter trabalho e não tiveram acesso a protecção social.

 

Respostas urgentes

Aos jornalistas, Jerónimo de Sousa realçou que muitos destes trabalhadores«estão numa situação dramática», defendendo como«medida imediata» a «criação de um fundo de apoio social de emergência». «Simultaneamente, como ainda ontem colocámos na Assembleia da República», há que atender às«necessidades de todas as entidades que concorreram ao concurso da DGArtes, foram consideradas elegíveis e, no entanto, não tiveram qualquer possibilidade de ter esse apoio».

Por outro lado, «há uma medida de fundo que tem de ser resolvida e que já foi gritada aqui: “1% para a Cultura”». Para o PCP, esta seria«uma medida estruturante, necessária para dar resposta aos problemas de artistas, trabalhadores da Cultura, de cinemas, teatros, pequenas livrarias, bibliotecas e até do circo tradicional». Por outras palavras, seria «uma resposta de fundo, para acudir e para corresponder àquilo que a Constituição determina», quando trata a Cultura como«parte integrante do projecto democrático e da democracia portuguesa». Jerónimo de Sousa sublinhou que«qualquer Governo deve ter isso em conta», assegurando«que haja financiamento para a Cultura, como um bem da própria democracia e não como um favor que se dá a estes artistas e a estes trabalhadores».

Delegações do Partido estiveram, com mensagens de solidariedade activa, nas acções realizadas nas outras cidades, incluindo a participação de Sandra Pereira, deputada no Parlamento Europeu, na Avenida dos Aliados, e de Carina Infante do Carmo, da Comissão Concelhia de Faro, junto ao Teatro Lethes.




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