Desinformação viral

A televisão assume nos dias que correm um peso como já não tinha há décadas a julgar pelas audiências. Em poucas semanas, o número de telespectadores disparou: a 15 de Março, o domingo após o anúncio do fecho das escolas, as audiências globais bateram todos os recordes até então, noticiou o Público. Mas o que fizeram as principais estações com isto?

Os espaços de informação ganharam peso, ainda que, no essencial, dedicados à monotemática viral. Num momento em que o isolamento facilmente pode gerar medos injustificados, em que o ficar em casa dias a fio pode toldar a percepção da realidade, noticiários televisivos fiéis à realidade são essenciais para ajudar a compreender curvas, números e indicações que se multiplicam e são tantas vezes contraditórias.

Nada disto é compatível com abordagens sensacionalistas, exacerbando casos isolados de incumprimento das recomendações das autoridades sanitárias, exorbitando o ritmo de crescimento da epidemia ou evocando constantemente exemplos catastrofistas noutros países – que terão contribuído decisivamente para justificar o decreto do Estado de Emergência. Às imagens (falsas) de multidões no Cais do Sodré juntaram-se outras (também falsas) de confrontos no Reino Unido. Aos apelos ao endurecimento de medidas por parte de pivôs em entrevistas ao primeiro-ministro juntaram-se figuras dirigentes de estações privadas a avisar que «ninguém entenderá quem não votar pelo Estado de Emergência». Tudo pontuado com notícias como a da morte de um jovem de 14 anos com Covid-19, que afinal tinha meningite; ou de crescimentos exponenciais da epidemia, quando o ritmo está a desacelerar.

Em simultâneo, no mundo do trabalho, é desencadeado uma ofensiva sobre os direitos dos trabalhadores com uma agressividade brutal. Vagas de despedimentos, imposição de férias, processos de lay-off; ou o inverso, com trabalhadores de determinados sectores a serem obrigados a cumprir horários cada vez mais longos por patrões que não garantem as condições mínimas de saúde, higiene e segurança. Mas disto vemos pouco nos notíciários televisivos, não por falta de denúncia de estruturas representativas dos trabalhadores ou do PCP. É fácil reconhecer as dificuldades que também os profissionais da comunicação social enfrentam no seu trabalho, mas bastaria verificar uma pequena amostra das dezenas de denúncias que o PCP tem feito diariamente de casos destes por todo o País para, pelo menos, tirar jornalistas de ruas desertas a fazer directos em que relatam o nada que lá se passa e colocá-los a escrutinar os múltiplos atropelos aos direitos de centenas de milhares de trabalhadores.

Por fim, um alerta. Nos dias mais próximos têm-se multiplicado as notícias de que estarão a ser redigidos, por várias organizações, documentos para estabelecer prioridades no tratamento de doentes em caso de falência do sistema de saúde – ou seja, quem deixar morrer. Reconhecendo as diferenças, talvez algumas das sinistras declarações a este respeito, teorizando sobre o valor social da vida, ajudem a compreender os argumentos do PCP no debate sobre a legalização da eutanásia em Portugal.




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