O Cinema Web

Marta Pinho Alves

O desenvolvimento tecnológico cria novas formas de fazer e ver cinema

Na década de 1990, à margem do domínio industrial, uma experiência (entre múltiplas outras em curso) teve lugar no campo do cinema. As suas manifestações foram agregadas sob a designação Cinema Web. Nora Barry, uma das primeiras autoras a propor a teorização sobre esta então nova modalidade cinemática, situou o seu nascimento em torno de 1997.

Esta é a data tornada consensual para a génese do Cinema Web, embora sejam conhecidas as experiências pioneiras desenvolvidas por Lev Manovich, no âmbito do seu projeto intitulado Little Movies, iniciado em 1995. Barry justifica a periodização proposta com o momento em que ficaram disponíveis as ferramentas necessárias à criação e difusão de vídeo na Internet, entre as quais se destacava uma versão do software QuickTime compatível com aquele ambiente e o aumento da velocidade de transmissão das ligações à rede. O QuickTime, criado em 1991 pela Apple, foi pensado com o propósito de permitir a exibição e manipulação de imagens em movimento, numa etapa em que essas funcionalidades não estavam ainda disponíveis nos computadores pessoais e esta foi a primeira ferramenta capaz de integrar áudio e vídeo num ambiente de texto.

Embora num âmbito algo restrito, de forma alguma comparável com as atuais plataformas de partilha de vídeos, o Cinema Web granjeou popularidade e, logo desde o seu início, constituiu-se um conjunto de pequenas comunidades onde os utilizadores mostravam os seus filmes. Entre estas, destacaram-se pela sua notoriedade a iFilm, a AtomFilms ou Bit Screen.

Para alguns utilizadores e analistas daquelas plataformas, as mesmas foram apenas ferramentas de circulação de cinema através da Internet. Eillen Elsey e Andrew Kelly, no seu livro de 2002 In Short: A Guide to Short Film-Making in the Digital Age, discutem o Cinema Web na sua relação com a produção e distribuição de curtas-metragens para concluir que nada aí havia de específico. De modo oposto, outros autores associaram ao advento do Cinema Web a possibilidade de constituição de uma nova forma de arte. Neste quadro, dois manifestos, o The Pluginmanifesto, criado por Ana Kronschnabl, do website Plugin, e o Dogma 2001: The New Rules for Internet Cinema, da autoria do website Neocinema, foram redigidos anunciando e apresentando as regras e motivações associadas a este tipo de produção cinemática e a sua promessa de criação de uma nova forma de cinema.

Para os que perspetivaram o Cinema Web como uma nova forma de escrita fílmica, este era entendido como um cinema especificamente construído para a Internet e cujas características estilísticas e narrativas derivavam das limitações associadas ao seu medium, na época do seu desenvolvimento. Como traços fundamentais dos seus objectos audiovisuais, destacavam-se a curta duração, a baixa resolução e um estilo de narrativa minimalista. O seu progresso foi interrompido a partir do alargamento do acesso à Internet de banda larga e do aparecimento de equipamentos de registo e edição de elevada qualidade, que retiraram sentido às suas especificidades.




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