França continua mobilizada contra alteração das reformas
SINDICATOS As organizações sindicais em luta mantêm a oposição à proposta de alteração do sistema de reformas, apesar da promessa do governo de suspender «temporariamente» a idade de referência de 64 anos.
Governo francês quer limitar gastos com pensões de reforma
As greves e manifestações que tiveram início há mais de 40 dias prosseguem em França, exigindo a eliminação do projecto de lei governamental que pretende alterar o sistema de cálculo de pensões de reformas, alegadamente para garantir o seu «equilíbrio financeiro».
O sindicato reformista Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT) aplaudiu o anúncio governamental de suspender a mudança da idade de reforma, dos actuais 62 para 64 anos, mas quase todas as outras organizações sindicais insistem na exigência da eliminação completa da proposta.
«Temos a impressão de que para o governo só conta a CFDT mas há oito centrais sindicais e a maioria está contra a reforma», advertiu Philippe Martinez, secretário-geral da Confederação Geral do Trabalho (CGT), que lidera o movimento grevista e de contestação, iniciado a 5 de Dezembro.
De igual modo, as forças políticas de esquerda como o Partido Comunista Francês (PCF) mantêm a posição de que a única solução é a retirada da proposta governamental. «Este anúncio não faz nada para resolver o problema de fundo, porque nos próximos anos aumentará o número de reformados mas o governo quer limitar o gasto em pensões de reforma a 14 por cento do Produto Interno Bruto», defendem os comunistas. Além disso, acusa o PCF, o governo não quer que as empresas, apesar dos seus enormes lucros, aumentem a sua contribuição para financiar o sistema de pensões de reformas.
No sábado, 12, numa carta dirigida aos sindicatos, o primeiro-ministro Édouard Philippe anunciou a retirada provisória da idade de referência de 64 anos, para abrir caminho a outras propostas de financiamento do projecto governamental, que sairiam de uma conferência prevista para Abril. Mas não há sinal de que o presidente Emmanuel Macron e o seu governo queiram desistir de avançar com o seu plano de alterar o sistema de reformas, o que iria prejudicar os reformados.
A CGT fez as contas e denunciou que, caso o governo consiga impor o sistema de reformas por pontos, as pensões diminuirão cerca de 25 por cento. A central sindical propõe, como alternativa, vincular as futuras pensões ao salário mínimo e encontrar novas medidas de financiamento, como a eliminação das actuais isenções aos empregadores das quotizações à segurança social, que somam 20 mil milhões de euros, ou a criação de uma contribuição social sobre os rendimentos financeiros, que poderia chegar aos 30 mil milhões de euros.
Mobilização continua
Exigindo a eliminação da proposta governamental de alteração das reformas, dezenas de milhares de pessoas desfilaram em Paris, no sábado, 11, trigésimo oitavo dia da greve convocada pelos sindicatos contra essa medida.
Empunhando cartazes, bandeiras e balões gigantes, com música e palavras de ordem, os manifestantes concentraram-se na Praça da Nação antes de desfilar várias avenidas e ruas parisienses, em mais uma mobilização encabeçada pela CGT.
Também em outras cidades francesas realizaram-se concentrações e marchas contra a proposta governamental, tendo havido alguns incidentes em Nantes, onde a polícia utilizou gás lacrimogéneo contra os manifestantes.
Antes, no dia 9, pela quarta vez nas últimas semanas, dezenas e milhares de franceses saíram de novo às ruas em Paris e noutras cidades do país contestando a proposta governamental sobre as pensões de reforma.
Na capital, uma maré multicolor partiu da Praça da República para a Praça Saint-Augustin, repetindo as mobilizações de 5, 10 e 17 de Dezembro, em que participaram mais de um milhão de pessoas. Também houve manifestações em Marselha, Lyon, Rennes, Bordéus, Lille, Montpellier e outras cidades francesas.