O levantamento operário de 18 de Janeiro de 1934
O levantamento foi brutalmente esmagado, mas o heróico exemplo dos operários permaneceu
A primeira metade dos anos 30 do século XX foi, em Portugal, um tempo de chumbo. A ditadura militar instaurada com o golpe de 28 de Maio de 1926 cedo começou a dar lugar ao fascismo. À supressão das liberdades e direitos fundamentais – associação, reunião, manifestação, greve, imprensa, etc. – seguiu-se a construção do edifício institucional fascista: em 1930, foi instituído o Acto Colonial, impondo o trabalho forçado obrigatório, e criada a União Nacional, o partido único da ditadura; em 1932 foi reorganizada a polícia política, sob o nome de Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE) e formulada por Salazar a doutrina do Estado forte; no ano seguinte foi proclamada a Constituição e, em 1934, entrava em vigor o Estatuto do Trabalho Nacional, peça central do corporativismo, que impunha a fascização dos sindicatos.
Foi precisamente para travar este golpe fatal no sindicalismo livre que a jornada de 18 de Janeiro foi convocada por todas as estruturas sindicais então existentes: Comissão Inter-sindical (comunista), Confederação Geral do Trabalho (anarquista), Federação das Associações Operárias (socialista) e os Sindicatos Autónomos, unidos pela primeira vez numa Frente Única contra o fascismo. Também pela primeira vez desde a instauração da ditadura, a classe operária intervinha de forma autónoma em defesa dos seus interesses específicos, ao mesmo tempo que assumia o papel determinante na luta do povo português pela liberdade e a democracia.
A jornada não atingiu os seus objectivos (nem podia ter atingido, tão desequilibradas eram as forças e tão desajustados os propósitos proclamados) e foi derrotada. À excepção da Marinha Grande, onde os operários tomaram o poder durante algumas horas, instituindo um soviete na vila, a greve geral revolucionária ficou-se por actos de sabotagem e manifestações e foi brutalmente reprimida. Nada apaga, contudo, a ousadia e heroísmo dos seus protagonistas, independentemente das suas convicções e filiações políticas e ideológicas, que permaneceram vivos até ao derrube do fascismo e de então até aos dias de hoje.
Lições e experiências
Para os revolucionários, as derrotas (como as vitórias) constituem sempre fonte de ensinamentos e experiências para a luta que prossegue. A jornada de 18 de Janeiro de 1934 não foi excepção, pondo em evidência que a insurreição, para triunfar, necessita de muito mais do que um punhado de revolucionários destemidos e corajosos e que a avaliação das forças em presença e das contradições, a participação das massas e a organização, assumem um papel determinante em qualquer acção de luta.
Aliás, não é um acaso que tenha sido na Marinha Grande que o movimento assumiu maior expressão, pois a classe operária era aí numerosa e experimentada, contando com um combativo Sindicato Vidreiro e um forte Comité Local do PCP, no qual pontificavam militantes como José Gregório e António Guerra. Tudo isto explica que o levantamento operário tenha contado, ali, com forte adesão dos trabalhadores.
A proibição dos sindicatos livres e a criação dos Sindicatos Nacionais, subordinados ao Estado fascista, forçou os revolucionários a alterar profundamente os seus métodos de organização e luta: a intervenção nos sindicatos fascistas e a unidade da classe operária foram linhas concretizadas desde a reorganização de 1940/41, consagradas no III e IV congressos do PCP e implementadas até ao derrube do fascismo, em Abril de 1974, para o qual contribuíram os valentes operários de Janeiro de 1934.