Luta do PCP prossegue sonho de Álvaro Cunhal

HO­ME­NAGEM As­si­na­lando o 106.º ani­ver­sário de Álvaro Cu­nhal, o PCP pro­moveu, do­mingo, 10 de No­vembro, na Moita, uma sessão pú­blica in­ti­tu­lada «Al­ter­na­tiva po­lí­tica, so­be­rania e in­de­pen­dência na­ci­onal». Je­ró­nimo de Sousa, Se­cre­tário-geral do Par­tido, re­a­firmou o sonho de «cons­trução de uma so­ci­e­dade nova li­berta da ex­plo­ração e de todas as formas de opressão!».

Homem de acção e in­ter­venção re­vo­lu­ci­o­nária

No Gi­násio Atlé­tico Clube da Baixa da Ba­nheira, Moita, es­ti­veram muitas cen­tenas de pes­soas, mi­li­tantes e amigos do Par­tido. Uma banca de li­vros, logo à en­trada, des­per­tava o in­te­resse de todos. «Até amanhã, ca­ma­radas», «Ca­dernos da prisão», «A Re­vo­lução de Ou­tubro, Lé­nine e a URSS» e «O ra­di­ca­lismo pe­queno bur­guês de fa­chada so­ci­a­lista» são al­gumas das obras, de Álvaro Cu­nhal, que ali se po­diam ad­quirir e des­fo­lhar, bem como o Jornal Avante! e a Re­vista «O Mi­li­tante». Para os mais novos, do mesmo autor, «Os bar­rigas e os ma­griços» e «His­tória de um gordo chinês que es­tava de bar­riga para o ar».

A sessão ar­rancou com um bo­nito mo­mento mu­sical, pro­por­ci­o­nado pelas «Vozes da Pla­nície», for­mação que in­ter­pretou os temas «Trago o Alen­tejo na voz», o «Hino dos mi­neiros» e «Grân­dola, vila mo­rena».

De olhos postos no fu­turo, o le­gado de Álvaro Cu­nhal foi abor­dado por Je­ró­nimo de Sousa, Se­cre­tário-geral do PCP, Mar­ga­rida Bo­telho, da Co­missão Po­lí­tica, João Fer­reira, An­tónio Ro­dri­gues, do Co­mité Cen­tral (CC), e José Lou­renço, do Se­cre­ta­riado da Co­missão das Ac­ti­vi­dades Eco­nó­micas. Na­quela mesa, onde se lia «PCP: in­tervir, lutar, avançar», es­tavam, também em re­pre­sen­tação do Par­tido, José Ca­pucho, do Se­cre­ta­riado e da Co­missão Po­lí­tica, Vasco Pa­leta, do Exe­cu­tivo da Di­recção da Or­ga­ni­zação Re­gi­onal de Se­túbal, e Vanda Fi­guei­redo, da Co­missão Con­ce­lhia da Moita e do CC.

Fi­gura ímpar
Como sa­li­entou o Se­cre­tário-geral do PCP, aquela evo­cação foi «uma ho­me­nagem a uma fi­gura ímpar e re­fe­rência maior da nossa his­tória con­tem­po­rânea» e de «re­co­nhe­ci­mento do seu va­lioso e mul­ti­fa­ce­tado le­gado de di­ri­gente po­lí­tico ex­pe­ri­men­tado, es­ta­dista, ideó­logo, en­saísta, homem da cul­tura que ja­mais es­que­ce­remos e fonte de saber para os com­bates de hoje».

«Uma ini­ci­a­tiva para evocar e honrar o seu per­curso de in­can­sável mi­li­tante do PCP de uma vida in­teira, seu di­ri­gente e Se­cre­tário-geral, homem de acção e in­ter­venção re­vo­lu­ci­o­nária, por­tador de uma di­ver­si­dade e pro­funda pro­dução teó­rica, ali­cer­çada no do­mínio das te­o­rias e mé­todos de aná­lise do mar­xismo-le­ni­nismo que as­si­milou de forma cri­a­tiva para res­ponder aos pro­blemas da so­ci­e­dade por­tu­guesa, à luta pela eman­ci­pação dos tra­ba­lha­dores e dos povos e à causa do so­ci­a­lismo», disse ainda.

Sobre Álvaro Cu­nhal, Je­ró­nimo de Sousa lem­brou, de se­guida, o «pro­ta­go­nista des­ta­cado na luta do nosso povo no úl­timo sé­culo e prin­cí­pios do que agora vi­vemos, pela con­quista da li­ber­dade, da de­mo­cracia, por um pro­jecto de de­sen­vol­vi­mento ao ser­viço do País e do povo, por uma so­ci­e­dade nova e pela in­de­pen­dência na­ci­onal» de Por­tugal, com perto de mil anos de his­tória.

«Na sua vas­tís­sima obra, mas também no quadro da sua in­ter­venção e acção po­lí­tica con­cretas, o pro­blema da de­fesa e afir­mação da in­de­pen­dência e so­be­rania na­ci­o­nais as­sume-se, em es­treita ar­ti­cu­lação e co­e­rência com dé­cadas de luta do PCP em de­fesa de tais va­lores, tantas vezes traídos e ame­a­çados pelas classes do­mi­nantes neste per­curso de quase cem anos da sua exis­tência, como uma questão e pre­o­cu­pação cen­trais», des­tacou o Se­cre­tário-geral, ci­tando o livro «As lutas de classes em Por­tugal no fim da Idade Média», onde está pre­sente uma «abun­dante aná­lise e es­tudos do evo­luir da re­a­li­dade na­ci­onal de todo o sé­culo XX e no li­miar do sé­culo XXI».

Re­vo­lução de Abril
Na in­ter­venção foi igual­mente des­ta­cada «A re­vo­lução por­tu­guesa – o pas­sado e o fu­turo», obra de Álvaro Cu­nhal que ana­lisa as im­por­tantes e pro­fundas trans­for­ma­ções re­vo­lu­ci­o­ná­rias (na­ci­o­na­li­za­ções, Re­forma Agrária, con­cre­ti­zação de di­reitos po­lí­ticos e so­ciais, que tor­naram pos­sível «es­boçar um pro­jecto de fu­turo de de­sen­vol­vi­mento au­tó­nomo e de afir­mação da in­de­pen­dência e da so­be­rania na­ci­onal que a Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa (CRP) ha­veria de con­sa­grar e que as forças da contra-re­vo­lução não tar­da­riam a pôr em causa».

Ini­ciava-se «um pro­cesso de li­qui­dação e in­versão das trans­for­ma­ções ope­radas», através da «acção de su­ces­sivos go­vernos de di­reita de PS, PSD e CDS com a en­trega das ala­vancas ne­ces­sá­rias e im­pres­cin­dí­veis ao de­sen­vol­vi­mento do País aos grupos eco­nó­micos na­ci­o­nais e es­tran­geiros».

De «se­guida e em si­mul­tâneo», con­ti­nuou Je­ró­nimo de Sousa, Por­tugal foi amar­rado, «de forma cres­cente, ao co­lete-de-forças de um pro­jecto de sub­missão e in­te­gração ca­pi­ta­lista usur­pador de cres­centes fa­tias de so­be­rania dos Es­tados, hoje União Eu­ro­peia (UE), co­man­dado pelos países mais ricos e po­de­rosos ao ser­viço do grande ca­pital, ao mesmo tempo que se punha em marcha uma po­lí­tica de en­feu­da­mento à es­tra­tégia da glo­ba­li­zação im­pe­ri­a­lista e à sua cru­zada de re­co­lo­ni­zação pla­ne­tária».

In­de­pen­dência na­ci­onal
A este res­peito, o Se­cre­tário-geral do PCP re­cordou o En­contro, re­a­li­zado em 1990, sobre a In­de­pen­dência Na­ci­onal, que Álvaro Cu­nhal en­cerrou, tendo iden­ti­fi­cado os «reais pe­rigos para a in­de­pen­dência e so­be­rania na­ci­o­nais» e ins­crito «uma ori­en­tação para os es­con­jurar»: alargar a «co­o­pe­ração in­ter­na­ci­onal do País em todos os do­mí­nios».

«Uma co­o­pe­ração em que as de­ci­sões in­ter­na­ci­o­nais fossem ob­tidas em pé de igual­dade, com re­ci­pro­ci­dade de van­ta­gens, com res­peito pela in­de­pen­dência e so­be­rania dos Es­tados e povos, e não com as so­lu­ções que se de­se­nhavam e se es­tavam a con­cre­tizar de su­pra­na­ci­o­na­li­dade e de in­te­gração entre países que sob a capa de uma falsa in­ter­de­pen­dência se tra­du­ziam em novos ins­tru­mentos de do­mínio de uns Es­tados sobre ou­tros Es­tados e fonte de novas e mais pro­fundas de­si­gual­dades», cri­ticou Je­ró­nimo de Sousa.

Avançou com ou­tros ob­jec­tivos do Par­tido: «a li­ber­dade, a de­mo­cracia, os in­te­resses dos tra­ba­lha­dores e do povo em geral, o de­sen­vol­vi­mento eco­nó­mico, a me­lhoria das con­di­ções de vida».

 



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FU­TURO A po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda que o PCP de­fende «parte da ideia cen­tral de que a so­be­rania na­ci­onal não se ne­go­ceia, vende ou cede, re­side no povo e é a ele que per­tence a de­cisão do seu pre­sente e fu­turo co­lec­tivos», afirmou Je­ró­nimo de Sousa, na Moita.