Continua no Chile a luta contra o neoliberalismo
LUTA No Chile, prosseguem as manifestações populares que começaram por protestos contra a subida dos preços dos transportes e transformaram-se na contestação ao governo e na rejeição das políticas neoliberais.
As batalhas de hoje «darão frutos em dias já não tão longe»
Continuam no Chile manifestações envolvendo milhares de pessoas que exigem transformações profundas e não só mudanças de rostos no governo. Na segunda-feira, 28, o presidente Sebastian Piñera, com uma quota de popularidade de apenas 14 por cento, deu posse a oito novos ministros, numa remodelação governamental recebida com cepticismo nos meios políticos e sociais e ao mesmo tempo que mais protestos populares eram reprimidos violentamente pelas forças especiais da polícia.
No Congresso, as bancadas da oposição anunciaram para breve a apresentação de assinaturas suficientes para uma acusação constitucional contra o presidente Piñera, numa iniciativa impulsionada pelo Partido Comunista do Chile e pelo Partido Humanista, com apoio da Frente Ampla, de ecologistas e de outras forças. O Partido Socialista não se comprometeu a assinar o documento mas prometeu apoiar a medida se fosse a votos na Câmara de Deputados.
Ao mesmo tempo, senadores de todas as bancadas da oposição apresentaram um projecto de reforma constitucional no sentido de os cidadãos decidirem através de plebiscito se querem avançar para uma nova Constituição. A actual foi aprovada nos tempos da ditadura de Augusto Pinochet e criou as bases legais para o modelo neoliberal que hoje é rejeitado nas ruas pela maioria dos chilenos. Os dinamizadores da iniciativa acreditam numa rápida aprovação desta medida, que poderia implicar fazer um plebiscito em Dezembro.
Evocando Jara e Allende
Mais de dois milhões de pessoas manifestaram-se no centro de Santiago do Chile na sexta-feira, 25, enquanto nas províncias, até em localidades pequenas, se registavam os protestos mais entusiásticos e massivos da história do Chile.
«É a imensa maioria do povo chileno que está em luta protestando contra o essencial: contra a manutenção do modelo económico e social privatizador e explorador dos direitos fundamentais da cidadania imposto pela ditadura de Pinochet sobre milhares e milhares de assassinados, de detidos, desaparecidos, torturados, prisioneiros, exilados, a partir de Setembro de 1973. Um modelo que todos os governos anteriores, embora democraticamente eleitos, não mudaram no essencial», considera Eduardo Contreras, responsável internacional do Partido Comunista do Chile.
Em sua opinião, não é por acaso que o grito central das manifestações – «o povo unido jamais será vencido» – é o mesmo de há várias dezenas de anos e desde antes da ditadura. Isso significa que, apesar das mudanças geracionais, «há princípios unitários que continuam a orientar o clamor popular».
Lembrando a exigência do «direito a viver em paz», cantada pelo grande Victor Jara, e as palavras de Salvador Allende («mais cedo que tarde se abrirão grandes alamedas para que passe o homem livre para construir uma sociedade melhor»), o dirigente comunista assegura que as batalhas em curso no Chile «darão os seus frutos em dias já não tão longe». E que «a unidade e a combatividade que hoje temos veio para ficar e com esses valores e a solidariedade internacional tudo é possível. Agora ou muito em breve.»