AR condena criação de «museu» Salazar
«Uma afronta à democracia, aos valores democráticos consagrados na Constituição da República e uma ofensa à memória das vítimas da ditadura», assim classifica a Assembleia da República a anunciada criação de um «museu» em Santa Comba Dão dedicado à memória do ditador Oliveira Salazar.
Esta posição do Parlamento foi assumida, dia 11, com a aprovação de um voto apresentado pelo PCP de condenação pela referida intenção de criar esse espaço, segundo anúncio nesse sentido feito pelo presidente da Câmara Municipal daquele concelho do distrito de Viseu. No voto de condenação, aprovado com os votos favoráveis de PS, PCP, PEV e BE, e a abstenção de PSD e CDS, a AR apela simultaneamente aos promotores de tal «museu» para que «reconsiderem a sua posição e a todas as entidades, públicas e privadas, para que não apoiem, directa ou indirectamente essa iniciativa».
«Ainda que autodenominado de “centro interpretativo” e criado sob o pretexto de um projeto académico, mas com um espólio baseado em objetos pessoais do ditador, tal instalação, desprovida de elementos de denúncia real da natureza da ditadura fascista que durante quase meio século oprimiu o povo português, liquidou as mais elementares liberdades, condenou o nosso país ao atraso e à miséria, reprimiu, torturou e assassinou, mais não seria, a ser concretizada, do que um local de romaria de antigos saudosistas da ditadura e de novos apoiantes de uma extrema-direita que se pretende assumir cada vez mais como ameaça à democracia», lê-se no texto, onde se recorda ainda que a intenção subjacente à iniciativa «não é nova», já em 2007 houve uma de natureza idêntica, tendo, então, sido alvo de forte contestação e repúdio.
A mesma onda de indignação e repúdio que voltou a erguer-se perante a iniciativa da criação do «museu» dedicado a Salazar, como foi o caso da tomada de posição de mais de 200 antigos presos políticos e apoiada por um abaixo-assinado subscrito por mais de 16 000 cidadãos, lembra, por fim, o voto de condenação aprovado pelo Parlamento.