Militares e organizações civis acordam transição no Sudão
VITÓRIA O Conselho Militar de Transição (CMT), representando os militares no poder no Sudão, e as Forças para a Liberdade e a Mudança (FLM), aliança das organizações civis na oposição, chegaram a acordo.
Desde Abril que as forças democráticas exigem um poder civil
O acordo foi alcançado na semana passada, após dois dias de conversações em Cartum, mediadas pela União Africana (UA) e Etiópia. Prevê um Conselho Soberano, provisório, integrado por cinco militares, cinco civis e uma figura independente escolhida em conjunto pelas duas partes, a qual dirigirá o Sudão nos próximos três anos, com presidência rotativa – dos militares nos primeiros 21 meses e dos civis no último ano e meio. Um dirigente da FLM, Omar al-Degair, declarou à imprensa que o acordo alcançado significa uma abertura para a formação das instituições da autoridade de transição, o início de uma nova era no Sudão.
Dando mais pormenores sobre o acordo, Mohamed Hassan Lebatt, representante da UA para o Sudão, indicou que os negociadores do CMT e da aliança de partidos, sindicatos e organizações civis acordaram em adiar o estabelecimento de um Conselho Legislativo. Este órgão não será criado enquanto funcionar o Conselho Soberano e outras estruturas governativas.
Libertar centenas de cidadãos detidos, restabelecer no país o serviço de Internet e investigar a repressão de forças militares a mando do CMT contra manifestantes – foram outros pontos acordados.
Desde Dezembro de 2018 que o Sudão foi palco de grandes manifestações e greves contra a carestia de vida e por direitos sociais, laborais e políticos. A contestação, apesar de reprimida ferozmente, intensificou-se e a ditadura do presidente Omar al-Bashir, no poder desde 1989, foi derrubada a 11 de Abril passado por um golpe militar. O levantamento popular prosseguiu e exigiu aos generais a transferência do poder para organizações democráticas civis.
Tanto as Nações Unidas e vários governos expressaram apoio ao processo de transição acordado entre os militares e a aliança que defende a liberdade e a mudança no Sudão.