Tentativa de golpe na Etiópia
Falhou na Etiópia o que foi descrito pelas autoridades como uma tentativa de golpe de Estado. Há poucas informações sobre o sucedido e, a meio da semana, mantinham-se medidas de segurança extraordinárias e o acesso à Internet continuava interrompido.
A presidente Sahle-Work Zewde e o primeiro-ministro Abiy Ahmed, entre outras entidades civis, militares e religiosas, assistiram na terça-feira, em Adis-Abeba, a uma cerimónia de homenagem ao general Seare Mekonnen, chefe do estado-maior das forças armadas, assassinado no sábado, 22.
Mekonnen e um outro general, Gezai Abera, foram mortos na capital por guarda-costas quando dirigiam as operações para conter uma revolta ocorrida a 500 quilómetros, no Estado de Amhara, no norte da federação etíope. Em Bahir Dar, a capital estadual, um grupo armado matou o presidente da região, Ambachew Mekonnen, um seu assessor, Ezez Wasie, e o procurador-geral regional, Migbaru Kebede.
O oficial que terá encabeçado o golpe, general de brigada Asamnew Tsige, chefe dos serviços de segurança do Estado de Amhara, fugiu mas foi mais tarde abatido na cidade de Gondar, num tiroteio com tropas federais, que controlam a situação.
Tsige fora libertado no ano passado e reintegrado, depois de ter passado 10 anos na prisão, acusado de uma conspiração em 2009 e condenado a prisão perpétua. Beneficiou em 2018 de um amplo processo de amnistia iniciado pelo anterior primeiro-ministro, Hailemariam Desalegn, e continuado pelo seu sucessor, o actual chefe do governo. Era conhecido, segundo a imprensa, pela sua «inflamada retórica étnica» e, ultimamente, apelava publicamente à criação de milícias regionais.
República federal, com nove estados regionais dotados de grande autonomia, a Etiópia, com 105 milhões de habitantes de mais de 80 etnias, é o segundo país mais populoso da África e uma das economias mais dinâmicas do continente. Apesar disso, é um dos países em todo o mundo com maior número de deslocados internos, segundo a ONU mais de dois milhões, devido a dificuldades económicas e à violência entre diferentes comunidades, algumas delas enfrentando problemas graves de pobreza.
O primeiro-ministro Abiy Ahmed, na chefia da Frente Democrática Revolucionária do Povo Etíope e do governo desde Abril de 2018 – depois de dois anos de tensões e conflitos em diversas regiões, como Oromia e Amhara –, tem levado a cabo reformas profundas, que lhe valeram inimizades.
Ahmed, de 42 anos, remodelou os serviços de segurança, afastou militares acusados de abusos, promoveu a reconciliação com grupos separatistas, mandou libertar presos. No plano externo, estabeleceu relações com a vizinha Eritreia, tem defendido uma política de paz no Corno de África, procurou facilitar o diálogo entre militares golpistas e forças democráticas no Sudão.
No seguimento dos acontecimentos do fim-de-semana, diversos países africanos, como a Eritreia e a Somália, e outros, como a Rússia e a Turquia, condenaram a tentativa de golpe. As Nações Unidas apelaram à contenção de qualquer forma de violência e apoiaram a continuação das reformas. A União Europeia, através da alta representante para a política estrangeira, Federica Mogherini, pediu «moderação» aos dirigentes na Etiópia e instou o governo a prosseguir as «reformas pacíficas e democráticas».