Largarde e Vítor Gaspar promovidos a ambientalistas

Vladimiro Vale

O capitalismo não é nem será «verde»

Os problemas ambientais, criados pelo modo de produção capitalista, são reais e graves. Face à maior disputa económica, política e geoestratégica entre potências e à finitude de recursos, o capital tudo faz para aproveitar estes problemas para aprofundar os mecanismos de exploração e de acumulação de riqueza.

No dia 3 de Maio, Christine Lagarde e Vítor Gaspar (esse mesmo) publicaram um artigo no site do FMI a jurar fidelidade à «defesa do clima» e a defender a «precificação do carbono, ou seja, cobrar pelo conteúdo de carbono dos combustíveis fósseis ou de suas emissões». Segundo as duas personagens, este é o «instrumento de mitigação mais eficaz. Ela oferece incentivos em muitas vertentes para reduzir o consumo de energia, usar combustíveis mais limpos e mobilizar financiamento privado». No artigo afirmam que um «preço consideravelmente inferior a 35 dólares por tonelada seria suficiente para cumprir os compromissos dos países do G20».

As declarações sobre a «luta climática» de personagens como Lagarde, Guterres, Juncker, sucedem-se e quase todos já se encontraram com a jovem sueca Greta Thunberg. Estes encontros e, por exemplo, a forma como Macron utilizou as questões ambientais para justificar medidas antipopulares em França, mas também a forma como as utilizou para justificar medidas que condicionam o desenvolvimento de países africanos, numa atitude claramente neocolonial, ajudam a compreender as intenções por detrás de toda esta ofensiva.

Promove-se um falso conflito entre gerações, procurando criar aceitação (ao nível de massas) de que os problemas ambientais se resolvem exclusivamente com recurso à tecnologia, a mecanismos financeiros e especulativos e à taxação dos comportamentos individuais a mercados e consumo verdes, sem contestar as responsabilidades do modo de produção capitalista.

Uma questão de sistema

Os movimentos em defesa do meio ambiente podem ser forças que se opõem, resistem e que, reforçando-se, ajudem a impedir que o imperialismo alcance o objectivo de se impor como pensamento único e sistema final. Podem, ainda, constituir um entrave às decisões dos países mais ricos, que visam alargar o seu poder. Mas para isso é fundamental não deixar que a criação de um clima de catástrofe iminente seja usado para pressionar e fomentar a aceitação, à escala de massas, de mecanismos que os centros de decisão do capital tencionam implementar como o mercado do carbono, que não funciona e tem efeitos perversos. O capitalismo não é nem será verde!

Em suma, tal como o PCP tem afirmado, é fundamental que, face aos problemas ambientais criados pelo modo de produção capitalista, não se legitimem mecanismos de mercantilização da Natureza nem se apaguem responsabilidades do capitalismo na sua degradação, que não se favoreçam processos de natureza colonial e nem se transfira custos para as camadas empobrecidas e para os povos do mundo.

Dito isto, é necessário: diminuir a dependência dos combustíveis fósseis com a promoção de alternativas energéticas de domínio público; promover o transporte público em detrimento de soluções que apontam para manter o paradigma do transporte individual; defender a produção local, contrariando a liberalização do comércio mundial; reduzir emissões com um normativo específico e não com atribuição de licenças transaccionáveis, que potenciam a especulação e não resolvem o problema; combater a pressão para a mercantilização da água e a desresponsabilização do Estado na defesa da Natureza e do ambiente.




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