«Constrangimentos laborais» são falsa justificação da Soflusa

SU­PRESSÃO Alegar «cons­tran­gi­mentos la­bo­rais» para a eli­mi­nação de car­reiras é uma ten­ta­tiva des­ca­rada de imputar aos tra­ba­lha­dores uma si­tu­ação pela qual estes não são de todo res­pon­sá­veis.

Em 2018 foram con­ta­bi­li­zadas quatro mil horas de tra­balho extra

«A si­tu­ação caó­tica na So­flusa não se deve a cons­tran­gi­mentos la­bo­rais», de­clarou no sá­bado, dia 11, a Fe­de­ração dos Sin­di­catos de Trans­portes e Co­mu­ni­ca­ções (Fec­trans/​CGTP-IN), re­pro­du­zindo um co­mu­ni­cado do Sin­di­cato dos Trans­portes Flu­viais, Cos­teiros e da Ma­rinha Mer­cante, seu fi­liado, sobre a si­tu­ação na em­presa.
Esta re­acção sin­dical foi sus­ci­tada pelo facto de a ad­mi­nis­tração ter re­fe­rido, em co­mu­ni­cados ao pú­blico utente, que «cons­tran­gi­mentos la­bo­rais» po­de­riam afectar o ser­viço.
Num pri­meiro aviso, a 9 de Maio, a em­presa es­creveu que, «por cons­tran­gi­mentos la­bo­rais, podem ocorrer per­tur­ba­ções» na li­gação flu­vial entre Bar­reiro e Lisboa, si­tu­ação que «pode im­plicar a su­pressão de car­reiras e a ir­re­gu­la­ri­dade de ho­rá­rios, em al­guns pe­ríodos».
No dia se­guinte, foi anun­ciada, ale­gando o mesmo mo­tivo, a su­pressão de 33 car­reiras nos dias 10 a 17, numa ja­nela ho­rária que, con­forme os dias, va­riava entre as 23h30 e as 7h15. No dia 11, foram co­mu­ni­cadas mais seis su­pres­sões para o dia se­guinte, do­mingo.

«Desde 2015 as or­ga­ni­za­ções re­pre­sen­ta­tivas andam a alertar para a ne­ces­si­dade ur­gente de con­tra­tação de novos tra­ba­lha­dores», co­meça por es­cla­recer o sin­di­cato, in­di­cando de­pois nú­meros ilus­tra­tivos da falta de pes­soal, no­me­a­da­mente:

– nos úl­timos cinco anos, saíram para a re­forma vá­rios tra­ba­lha­dores (prin­ci­pal­mente mes­tres e ma­ri­nheiros), sem qual­quer subs­ti­tuição;
– no ano pas­sado foram efec­tu­adas 4000 horas ex­tra­or­di­ná­rias por estes pro­fis­si­o­nais, o que levou a uma exaustão fí­sica e psi­co­ló­gica;
– foi feita a ad­missão de cinco tra­ba­lha­dores (dois ma­qui­nistas de 1.ª, dois ma­ri­nheiros e um au­xi­liar de terra), mas prevê-se neste tri­mestre a saída de três para a re­forma (um mestre e dois ma­ri­nheiros);
– apesar das ad­mis­sões, con­ti­nuam a faltar quatro mes­tres e quatro ma­ri­nheiros (além de me­didas para subs­ti­tuição de tra­ba­lha­dores que estão de baixa mé­dica, com pro­blemas graves).

«As ad­mis­sões não chegam para as saídas, por isso não en­ten­demos o co­mu­ni­cado do con­selho de ad­mi­nis­tração da So­flusa sobre os cons­tran­gi­mentos la­bo­rais, ten­ta­tiva des­ca­rada de im­plicar aos tra­ba­lha­dores esta si­tu­ação», afirma o sin­di­cato, con­cluindo que «os acon­te­ci­mentos ocor­ridos não podem ser im­pu­tados aos tra­ba­lha­dores, que nos úl­timos anos têm tido brio e de­di­cação pro­fis­si­onal, não dei­xando de cum­prir as suas obri­ga­ções, muitas vezes em de­tri­mento do seu des­canso, bem como do acom­pa­nha­mento fa­mi­liar».

Greve... nem co­meçou

Já na noite de terça-feira, a Lusa deu conta de que a So­flusa, em res­posta es­crita a per­guntas co­lo­cadas pela agência no­ti­ciosa, ad­mitiu que «não pode prever a re­po­sição da nor­ma­li­dade ope­ra­ci­onal». A no­tícia re­feria que es­tarão a faltar 24 mes­tres para as­se­gurar a to­ta­li­dade das car­reiras e que «os mes­tres estão em greve às horas ex­tra­or­di­ná­rias, de­pois do pré-aviso de greve» do Sin­di­cato dos Flu­viais.
No en­tanto, «a greve dos mes­tres só vai co­meçar no dia 23», es­cla­receu Carlos Costa. Em de­cla­ra­ções ao Avante! ontem de manhã, o di­ri­gente do sin­di­cato ex­plicou que, na re­a­li­dade, o que su­cede é que «o pes­soal está can­sado, com tanto tra­balho ex­tra­or­di­nário, e não aceita ser­viços», sendo na pro­fissão de mes­tres que recai a maior so­bre­carga.
Quanto ao nú­mero de pro­fis­si­o­nais em falta, Carlos Costa es­cla­receu que 24 é o nú­mero total de lu­gares de mestre no quadro de pes­soal da So­flusa. Há quatro lu­gares em falta (para os quais abriu an­te­ontem con­curso) e três mes­tres estão em si­tu­ação de baixa. Faltam ainda quatro ma­ri­nheiros.
O di­ri­gente lem­brou que a úl­tima greve, de três horas por turno, ocorreu a 22 e 23 de Abril. No final de 2018 e início deste ano fi­zeram greve os agentes co­mer­ciais, mas o im­pacto na mo­vi­men­tação de na­vios só se fez sentir no Natal e Ano Novo.

Au­mento sem res­posta

A ad­mi­nis­tração con­junta da Trans­tejo e So­flusa re­gistou um au­mento de 8,3 por cento e 130 mil pas­sa­geiros, na com­pa­ração da uti­li­zação das li­ga­ções flu­viais nos meses de Abril de 2018 e 2019. Mas, como re­feria ontem o Diário de No­tí­cias, a em­presa não vai re­forçar a oferta de trans­porte.
Já na Fer­tagus, se­gundo uma fonte ofi­cial ci­tada pelo DN, a res­posta ao au­mento de pas­sa­geiros após a en­trada em vigor dos novos passes in­ter­mo­dais vai re­flectir-se na co­mo­di­dade do trans­porte fer­ro­viário entre Lisboa e Se­túbal, pela Ponte 25 de Abril: vão ser re­mo­vidos bancos nas car­ru­a­gens, para au­mentar o nú­mero de lu­gares em pé.

 



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