EUA não mudam política para África
Os Estados Unidos anunciaram uma «nova» política para África. Coube ao conselheiro de segurança nacional John Bolton, conhecido pelas suas posições reaccionárias e agressivas, destapar as linhas da estratégia de Washington para o continente africano, aprovada a 12 de Dezembro pelo presidente Donald Trump.
Falando na Heritage Foundation, uma organização de direita, Bolton definiu três prioridades: reforçar os laços comerciais com os países africanos através de acordos que beneficiem ambas as partes («pedimos reciprocidade, não subserviência»); conter a «ameaça do terrorismo islâmico (designadamente «o Estado Islâmico, a Al-Qaeda e suas filiais, que atacam cidadãos e alvos americanos»); assegurar que a «ajuda» norte-americana seja eficiente e efectiva, de acordo com os interesses dos EUA (pondo fim ao auxílio «improdutivo», incluindo a missões de paz das Nações Unidas. E mais: «Os países que repetidamente votam contra os EUA nos fóruns internacionais ou praticam acções contra os interesses dos EUA não devem receber a generosa ajuda americana»).
Contrariar e se possível impedir as boas relações de cooperação da China e Rússia com os países africanos é o principal alvo da estratégia estado-unidense. Segundo Bolton, aqueles «grandes concorrentes [dos EUA] estendem rapidamente a sua influência financeira e política em África» e «orientam deliberadamente e de uma maneira agressiva os seus investimentos na região para terem uma vantagem competitiva em relação aos EUA».
No essencial, não há qualquer mudança de estratégia. Mas o discurso de Bolton suscita apreensão pela ameaça de reconfigurar ou pôr fim ao financiamento das oito missões da ONU em África, que contribuem para a procura da paz e a resolução de conflitos e guerras no Sudão, Sudão do Sul, Mali, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Saara Ocidental e Somália.
Muitos destes conflitos e guerras, aliás, foram provocados pela ingerência dos EUA e seus aliados. A pretexto da luta contra o terrorismo, o Pentágono mantém, sob o comando do Africom, diversas bases militares, do Djibuti ao Níger, e cerca de 7.200 efectivos em «missões de assessoria» em diversos países africanos.
Bolton prometeu agora que Washington vai reduzir em 10 por cento o número de tropas estacionadas em África e instou os países do continente a assumir a sua própria defesa. O conselheiro da Casa Branca abordou também a eventual transferência para solo africano do comando militar dos EUA para África (Africom), que desde a sua criação, em 2007, tem o quartel-general na Alemanha.
Uma resposta ao anúncio da «nova política africana» dos EUA veio do presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, falando em Viena, durante o fórum Europa-África. Lembrou ele que «os investidores têm os seus interesses, nós temos os nossos, sabemos melhor do que ninguém com quem devemos fazer comércio e cooperar».
Com velhas ou novas roupagens, no quadro da sua estratégia de domínio mundial, a política dos EUA em relação a África não muda e continuará a ser feita de ingerências, intervenções militares e exploração das riquezas do continente. Política que enfrenta uma crescente resistência e oposição dos povos africanos – que continuam a lutar pela sua completa emancipação.