Comunistas do Alentejo pelo progresso da região
PROPOSTA A 5.ª Assembleia Regional do Alentejo do PCP, realizada no sábado, 17, em Santiago do Cacém, aprovou um conjunto de propostas visando o desenvolvimento integrado da região. A sua concretização necessita da luta dos trabalhadores e das populações e do reforço da organização e intervenção do Partido.
Os cerca de 280 delegados que participaram na Assembleia, vindos das quatro sub-regiões (distritos de Beja, Évora e Portalegre e Litoral Alentejano), aprovaram por unanimidade, no final dos trabalhos, a Resolução Política, onde se faz um rigoroso retrato da região e se aponta as políticas necessárias ao seu desenvolvimento. Neste documento, como na «Caracterização Económica e Social do Alentejo», que serviu de suporte aos delegados, revela-se uma região plena de potencialidades.
Com seis classificações da UNESCO, o Alentejo representa um terço do território continental de Portugal, estendendo-se das praias do litoral a Espanha e da serra algarvia às margens do Tejo: a terra, o mar, os minérios e o sol são apenas algumas das suas riquezas, com múltiplas e diversificadas utilizações. O que leva, então, a que o seu PIB represente apenas 4,6 por cento do total do País e que tenha perdido mais de 30 mil habitantes em seis anos?
A resposta, constante nos documentos, foi dada logo no início da assembleia pelo responsável na Comissão Política do Comité Central pela Direcção Regional do Alentejo, João Dias Coelho, para quem esta é uma região «votada ao abandono pelos sucessivos governos da política de direita, onde se inclui o PS». Aliás, acrescentou, sempre que este partido esteve no governo (só ou acompanhado por PSD ou CDS) o Alentejo «não andou para a frente», mas «estagnou ou regrediu».
Exemplos reveladores
Tal como fizeram durante todo o dia vários delegados à assembleia, João Dias Coelho deu, na sua intervenção, vários exemplos de como as potencialidades da região têm sido desaproveitadas. No caso da terra, uma das principais riquezas do Alentejo, ela é frequentemente olhada «não na perspectiva da sua função social, mas como fonte de lucro rápido», afirmou. O acelerado processo de concentração fundiária e a «entrada em força do capitalismo na terra», denunciou, são responsáveis pela degradação ambiental, a destruição de milhares de pequenas explorações e a sobre-exploração dos trabalhadores, muitos dos quais imigrantes.
Se é certo que hoje existe o Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva, o qual carece ainda de um plano estratégico, ele só foi construído «depois de PS, PSD e CDS destruírem pela violência a Reforma Agrária, lançando milhares de trabalhadores no desemprego» e impondo o regresso do latifúndio e a «entrada na terra do capital financeiro, aliado ao capital agrário». Assim, este equipamento contribuiu para o aumento da área de regadio, ao mesmo tempo que favoreceu a concentração fundiária e a introdução de monoculturas intensivas.
Tal como na agricultura, em que a transformação dos produtos é feita essencialmente noutras regiões do País ou no estrangeiro, também as riquezas minerais do subsolo – o zinco e o cobre – contribuem muito menos do que deviam para o desenvolvimento do Alentejo. Estes minerais não só são extraídos por mineiros «altamente explorados» como são enviados para transformação fora do País, acrescentou o membro da Comissão Política.
A redução do investimento público no Alentejo é outra marca dos últimos anos, visível na carência ou mau estado de estradas, vias férreas, hospitais e escolas, e no insuficiente aproveitamento de equipamentos como o Porto de Sines (o maior porto de águas profundas da Europa) e o Aeroporto de Beja e da produção de energia fotovoltaica.
Questões estratégicas
Para além do retrato da situação e da apresentação de propostas (ver texto nestas páginas), a 5.ª Assembleia Regional do Alentejo tratou de outras questões estratégicas: a luta dos trabalhadores e das populações e o reforço do PCP. Pela tribuna passaram relatos de lutas laborais pelo aumento de salários e a valorização de direitos (como na Somincor, Almina, Complexo Industrial de Sines ou Centro de Contacto da Fidelidade em Évora) e protestos populares contra o encerramento de estações de Correios, em defesa de serviços de saúde ou pela reabertura de ligações ferroviárias.
Ao nível do reforço da organização e intervenção partidárias falou-se de novas células, de recrutamentos e, sobretudo, das imensas possibilidades existentes de levar mais longe a acção partidária. As orientações para alcançar este objectivo estão plasmadas nas decisões assumidas pelas assembleias de cada uma das quatro organizações regionais do PCP no Alentejo. Naquela assembleia assumiu-se a necessidade de «prosseguir e melhorar o trabalho de superação de insuficiências, de coordenação e de colaboração entre as quatro organizações».
Os delegados aprovaram por unanimidade três moções – Poder Local e Regionalização; Valorizar os Trabalhadores; Desenvolvimento e Infra-estruturas – e a composição da nova Direcção Regional do Alentejo. O presidente da Câmara Municipal de Santiago do Cacém, Álvaro Beijinha, saudou os participantes na Assembleia, valorizando o espaço democrático que é a CDU e o seu projecto de progresso e participação.
Projecto integrado
de desenvolvimento regional
Da Resolução Política aprovada na 5.ª Assembleia Regional do Alentejo do PCP sobressai um valioso e coerente conjunto de propostas para o desenvolvimento integrado da região. São elementos principais deste projecto: a dotação e cobertura da região por um sistema de infra-estruturas (sociais, económicas, logísticas e ambientais) que o potencie; a diversificação e desenvolvimento da base económica regional; a melhoria da qualidade de vida das populações; a preservação do património ambiental; a utilização eficiente dos recursos naturais.
Os comunistas defendem a elaboração de um Plano Estratégico de Desenvolvimento para o Alentejo, considerando-o um «instrumento fundamental de política pública» para a região. Deste plano constam outros instrumentos, como um Plano de Apoio à Base Económica; um Programa de Infra-estruturas Públicas; um Plano Estratégico para Alqueva; e uma política urbana e de desenvolvimento rural.
Quanto à base económica, o PCP quer valorizar o sector produtivo, nomeadamente nos sectores agrícola e agro-alimentar, pescas, indústria extractiva, rochas ornamentais e em novos sectores, como as indústrias eléctricas, as energias renováveis ou a aeronáutica. Na agricultura, defende uma Reforma Agrária «que ponha fim ao latifúndio e entregue a terra a quem a trabalha», a criação de uma reserva estratégica de terras, a intervenção sobre o preço de factores de produção (combustíveis, electricidade, etc.) e a transformação na região «de parte ou de toda a produção agro-pecuária».
Ao nível das infra-estruturas, o PCP exige que se invista nas acessibilidade rodo-ferroviárias, com destaque para a concretização da ligação do IP8 entre Sines e Vila Verde de Ficalho em perfil de auto-estrada sem portagens, e para a requalificação e electrificação da totalidade das linhas ferroviárias Elvas-Caia e Casa Branca-Ourique. A criação de uma plataforma logística junto ao aeroporto de Beja e de uma rede de infra-estruturas hidráulicas com gestão pública – com prioridade para a construção da Barragem do Pisão e da ligação de Alqueva ao Monte da Rocha – são outros projectos urgentes.
O investimento nos serviços públicos (sobretudo aos níveis da saúde, educação e apoio à infância e terceira idade) e a promoção da coesão territorial são outros eixos do projecto do Partido para o Alentejo. A Assembleia reafirmou a defesa da regionalização, com a criação da Região Administrativa do Alentejo, «sem uma capital, com carácter polinucleado». Até lá, o caminho não é o da «democratização» da CCDR – como alguns sectores propõem – mas o da criação, como «passo intermédio», da Comunidade Regional do Alentejo.
A valorização do poder local democrático, reforçando meios e capacidade de intervenção e rejeitando a «transferência de competências» cozinhada por Governo e PSD, foi outro dos aspectos em destaque na assembleia.
Factos e números
Nos documentos da Assembleia e nas intervenções proferidas foram sublinhados diversos factos e números reveladores da situação económica e social da região:
com um terço do território, o Alentejo tinha, em 2016, 4,6 por cento da população do País;
nos últimos seis anos, a região perdeu mais de 30 mil habitantes; segundo projecções oficiais, até 2021 a redução demográfica será de 9,5 por cento;
80 por cento dos fundos comunitários foram aplicados no litoral do País;
mais de 250 mil reformados e pensionistas alentejanos auferem prestações iguais ou inferiores a 300 euros;
o Alentejo é responsável por 22,6 por cento da produção energética do País (dados de 2016);
desde 2011 o número de estabelecimentos turísticos aumentou, na região, 216 por cento, passando de 158 para 499.
«Portugal tem de produzir mais»,
afirma Jerónimo de Sousa no Alentejo
Encerrando a 5.ª Assembleia Regional do Alentejo do PCP, Jerónimo de Sousa valorizou as conclusões consagradas na Resolução Política aprovada momentos antes. Nela encontra-se, realçou, um «amplo e aprofundado leque de propostas e soluções que se enquadram nos grandes eixos da política alternativa, patriótica e de esquerda, e que, é inquestionável, bem poderiam ser a base de partida para a elaboração do Plano Estratégico de Desenvolvimento do Alentejo que o PCP defende».
Neste Plano, destacou o Secretário-geral do Partido, incluem-se o «avançado Plano de Apoio à Base Económica, o Programa de Infra-estruturas Públicas e o Plano Estratégico para a zona de influência do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva», que o PCP há muito defende e cujos eixos centrais estão consagrados de forma desenvolvida no documento aprovado pelos delegados. As conclusões da Assembleia constituem, assim, uma «valiosa contribuição dos comunistas desta vasta região do Alentejo para a solução dos problemas do seu desenvolvimento».
Défices inaceitáveis
Para além de sublinhar o conjunto de matérias particularmente relevantes que esteve em destaque na Assembleia dos comunistas de todo o Alentejo, o dirigente do Partido debruçou-se sobre a natureza e objectivos da alternativa patriótica e de esquerda que o PCP defende e da ruptura política que a sua concretização exige. Particular destaque foi dado à proposta estratégica de desenvolvimento da produção nacional visando o pleno emprego e a substituição de importações: «Portugal tem de produzir mais. E isso não é apenas uma necessidade, como é uma possibilidade real».
O caso do Alentejo é revelador desta realidade, adiantou: o défice da balança de cereais «é dos mais graves que temos em Portugal», ao mesmo tempo que milhares de hectares de terras estão em pousio ou pura e simplesmente sub-exploradas. No trigo, o que se produz no País «chega apenas para os primeiros 15 dias de Janeiro».
Urge, ainda, a adopção de uma política capaz de ultrapassar os «graves problemas» que enfrentam os serviços públicos», valorizar o trabalho e os trabalhadores, defender o meio ambiente e o ordenamento do território e promover um efectivo desenvolvimento regional.
Libertar recursos
afirmar a soberania
As prioridades da política patriótica e de esquerda atrás referidas requerem de meios para a sua concretização. Estes, como realçou Jerónimo de Sousa, podem ser encontrados na renegociação da dívida, capaz de libertar recursos e pôr fim a «este mecanismo gigantesco e permanente de roubo da riqueza nacional». Nos últimos dez anos e nos próximos cinco serão 100 mil milhões de euros pagos pelo País só em juros, o que levou o Secretário-geral do Partido a questionar: «o que não se poderia fazer para dar resposta ao desenvolvimento do País com estas dezenas de milhares de milhões de euros, que vão direitos ao bolso dos especuladores e do grande capital financeiro?»
O dirigente comunista avançou ainda que a política alternativa que o PCP propõe enfrentaria, «sem hesitações, os condicionamentos da União Europeia e os seus instrumentos de usurpação da soberania», assumiria a recuperação da soberania monetária, com a libertação do País da subordinação ao euro, e poria termo à «drástica redução do investimento público».