PCP lembrou 105.º aniversário de Álvaro Cunhal realçando o legado de Marx na sua intervenção
EVOCAÇÃO O aniversário do nascimento de Álvaro Cunhal foi assinalado, dia10,com uma sessão que incorporou as comemorações do II Centenário de Karl Marx e, por isso, nela se sublinhou o legado do fundador do socialismo científico na prática e teoria revolucionária do dirigente comunista português.
«Para Álvaro Cunhal, Marx, Engels e Lénine eram inseparáveis», salientou Jerónimo de Sousa
No dia em que cumpriria 105 anos, o PCP lembrou Álvaro Cunhal na cidade onde nasceu, Coimbra. Foi no sábado à tarde, no auditório da Casa Municipal da Cultura, numa iniciativa que homenageou o «incansável militante, dirigente e Secretário-geral do PCP, homem de acção e intervenção revolucionárias» que teve «uma correcta compreensão do legado de Karl Marx», como frisou Jerónimo de Sousa no encerramento da sessão.
Para além do Secretário-geral do Partido, usaram da palavra Manuel Rodrigues (ver caixa) e Vladimiro Vale, membros da Comissão Política do Comité Central. Este último, lembrou, a propósito, que «Álvaro Cunhal considerava como característica fundamental de um Partido Comunista “ser portador de uma teoria revolucionária, o marxismo-leninismo, que não só torna possível explicar o mundo, como indica o caminho para transformá-lo”».
Para Álvaro Cunhal, acrescentou Vladimiro Vale, eram igualmente características fundamentais de um Partido Comunista «a ligação à classe operária e às vastas massas populares; a defesa dos seus interesses e direitos; o objectivo de construção da sociedade socialista; a firmeza ideológica; a solidariedade internacionalista, tendo como raiz o internacionalismo proletário, e também o respeito pela verdade, convicção, confiança e coragem».
Antes das intervenções, houve ainda tempo para um apontamento cultural protagonizado por Vasco Nogueira (viola), Joana Dourado (voz) e Manuel Pires da Rocha (violino e adufe), no qual este último lembrou que «a luta de classes [que Karl Marx desvendou ser o motor da história] também se faz de canções».
Teórico genial
Coube contudo a Jerónimo de Sousa salientar que a cabal compreensão do marxismo-leninismo por parte de Álvaro Cunhal – «sim, o marxismo-leninismo, pois para Álvaro Cunhal, Marx, Engels e Lénine eram inseparáveis», disse — levou-o a definir a ideologia como «uma ciência ligada à vida e às condições de lugar e de tempo, que se enriquece com novas experiências e novos conhecimentos».
É munido desta assimilação dos «princípios teóricos», da «orientação geral» e das ricas experiências para resolvermos os problemas políticos», fornecidos pelos «mestres do comunismo», mas ciente de que não se trata de «receitas para cada situação difícil», que Álvaro Cunhal desenvolve, enriquece e aplica os fundamentos do socialismo científico à análise da realidade portuguesa e à luta pela sua transformação, não se limitando à «descrição e denúncia conjuntural do fascismo», mas apreendendo o «processo estrutural de desenvolvimento do capitalismo em Portugal» e dotando «o Partido de uma orientação objectivamente fundamentada para levar a cabo as tarefas revolucionárias a que se propunha».
O programa para a Revolução Democrática e Nacional, «constituindo a construção de um Estado Democrático comoo objectivo primeiro da revolução», tinha na «liquidação do poder dos monopólios e do imperialismo a eles associado o seu correlato necessário e condição da sua viabilidade e sobrevivência». Consubstanciava, pois, para aquela etapa, uma «revolução que, pelas suas determinantes estruturais, teria que ir além de uma revolução democrática-burguesa», uma vez que incorporava profundas transformações económicas e sociais que, no processo da sua realização e dado o papel determinante das vastas massas populares, criariam condições para a revolução socialista», explicou também Jerónimo de Sousa.
Sagaz revolucionário
«As conquistas que viriam a ser alcançadas com o 25 de Abril, como Álvaro Cunhal mostra em A Revolução Portuguesa. O Passado e o Futuro, pelo papel determinante que nelas teve a iniciativa das massas populares, pelo seu carácter de emergência para cortar o passo e pôr fim às manobras contra-revolucionárias, pelo seu alcance, criando um sector determinante não capitalista na economia que apontava para o socialismo – vieram demonstrar, dez anos depois de Rumo à Vitória, a correcta apreensão da dialéctica objectiva da dinâmica do desenvolvimento do capitalismo em Portugal e o acerto da teoria revolucionária nela alicerçada, orientadora do rumo a imprimir à acção revolucionária».
«Tal apreensão e tal acerto revelam que Álvaro Cunhal soube — e sabe-lo-ia ao longo de toda a sua vida a par e passo com o desenrolar do acontecer histórico — aplicar de forma criativa o socialismo científico de Marx, Engels e Lénine, que estudou em profundidade, à realidade histórica do capitalismo português, em conjugação com a experiência prática da luta revolucionária da classe operária e de todos os trabalhadores».
«É verdade, como salientava também Álvaro Cunhal que “a Revolução trouxe surpresas e originalidades”», prosseguiu Jerónimo de Sousa, detalhando as singularidades observadas quanto à via para o derrubamento do fascismo ou quanto à defesa da Revolução de Abril contida nos processos de nacionalizações e da Reforma Agrária, desde logo porque «foram primeiro concretizadas na prática e só posteriormente legitimadas pelo poder».
Porém, «o domínio da política como ciência e a arte da direcção da luta revolucionária» que, em Álvaro Cunhal, «transparece com toda a evidência na resposta aos complexos e originais problemas que a Revolução colocou desde o seu primeiro momento», são igualmente notáveis «na resposta a essa questão central em cada revolução – a questão do poder político – e que a Revolução Portuguesa também haveria de confirmar como uma regularidade de todas as revoluções».
De facto, verifica-se a tese de Álvaro Cunhal a respeito do «poder dual», «fragilidade explorada pela contra-revolução, com o apoio da social-democracia sua aliada e por todos aqueles que haveriam de liderar posteriormente, através dos seus governos, o processo de recuperação capitalista e recuperação monopolista a partir de 1976 – o PSD, o CDS e o PS», para «interromper o processo revolucionário sem que importantes objectivos definidos para a etapa da Revolução Democrática e Nacional fossem realizados».
«Governos de política de direita e restauração monopolista que permitiram que novos e velhos grupos económicos e financeiros passassem a dominar de novo a economia e o País, num processo de crescente subordinação do poder político ao poder económico com graves e brutais consequências económicas, sociais e políticas.
A luta continua
«É num contexto de uma Revolução inacabada e de uma brutal ofensiva de anos contra as suas conquistas; uma Revolução que não conseguiu libertar Portugal em definitivo do domínio monopolista e da submissão ao estrangeiro, num agravado quadro de integração capitalista na União Europeia, que Álvaro Cunhal e o PCP, ancorados no saber solidamente fundamentado e actualizado projectam a acção e intervenção futura a partir da realidade transformada pela Revolução de Abril e para responder aos novos e complexos problemas colocados pela evolução da situação nacional e internacional», acrescentou o Secretário-geral do PCP.
É «um saber e uma aplicação que estão presentes na elaboração e definição dos elementos estruturantes do Programa de Democracia Avançada proposto pelo PCP aos portugueses, hoje denominado: «Uma Democracia Avançada – Os valores de Abril no futuro de Portugal».
«Um programa para inequivocamente retomar o caminho de Abril, proceder a realizações progressistas de carácter não capitalista, libertando o País em definitivo do domínio do capital monopolista e da submissão ao estrangeiro e inverter o rumo de uma política que conduziu o País a uma profunda dependência. Um programa estratégico para a concretização do desenvolvimento do País na actual etapa histórica, parte integrante e constitutiva da luta pelo socialismo e cuja realização é igualmente indissociável da luta que hoje travamos pela concretização da ruptura com a política de direita e da materialização de uma política patriótica e de esquerda», explicitou.
«Esse combate que hoje travamos, nesta nova fase da vida política nacional, combinando uma exigente luta pela afirmação e concretização da política alternativa patriótica e de esquerda – questão central e decisiva para dar resposta aos graves e persistentes problemas nacionais que permanecem adiados –, com um combate quotidiano sustentado na acção e luta das massas pela defesa, reposição e conquista de direitos e rendimentos, visando a elevação das condições de vida dos trabalhadores e povo», concluiu Jerónimo de Sousa.
A história dá-nos razão
Detendo-se em particular na notável e permanente articulação, por parte de Álvaro Cunhal, da «tese de Marx e Lénine (e que Álvaro aplicaria e desenvolveria também com mestria em O Partido com Paredes de Vidro)», no qual se indica que «os deveres e responsabilidades nacionais [dos comunistas] não só são inteiramente compatíveis com os deveres e responsabilidades internacionais como são complementares e inseparáveis», Jerónimo de Sousa lembrou que «muitas das análises do PCP, para as quais Álvaro Cunhal deu uma contribuição determinante, foram já confirmadas pela História e mantêm uma notável actualidade. No quadro da fortíssima batalha ideológica no final dos anos 80 e inícios dos anos 90 do século passado, o PCP foi muito claro ao afirmar que o fim da URSS e a alteração da correlação de forças daí decorrente não alterava a natureza do capitalismo».
«Afirmámos, igualmente, que “as transformações operadas no sistema capitalista mostram que a sua natureza exploradora e agressiva se mantém e que a tendência não é para a superação das suas contradições internas mas para a sua agudização”», dai, considerou o Secretário-geral do PCP, «é de facto notável como a História veio dar razão ao PCP».
Mas, tal como Marx, também Álvaro Cunhal teve uma imensa capacidade para ler nas contradições do capitalismo as oportunidades para o desenvolvimento da luta revolucionária. Elas existem e estão aí. Apesar do seu brutal silenciamento, o mundo é percorrido por muitas lutas corajosas e persistente» e «não está condenado à guerra e ao fascismo».
«Neste dia de aniversário [de Álvaro Cunhal] e comemoração do segundo centenário de Marx, mais uma vez reafirmamos a nossa inquebrantável determinação de continuar a perseguir aquele sonho milenar ao qual Karl Marx e Álvaro Cunhal entregaram toda a sua vida de combatentes revolucionários: o da construção de uma sociedade liberta da exploração do homem pelo outro homem», concluiu o dirigente comunista.
O marxismo-leninismo é válido e actual
Usando da palavra na sessão intitulada «Álvaro Cunhal e o legado de Karl Marx», Manuel Rodrigues, da Comissão Política, aproveitou a ocasião para dar conta do extenso e diversificado conjunto de iniciativas que o PCP promoveu este ano para assinalar o II Centenário do Nascimento de Karl Marx, as quais, sob a consigna «Legado, intervenção e luta. Transformar o Mundo», permitiram «afirmar a validade e actualidade dos princípios fundamentais do marxismo-leninismo, a validade e actualidade do ideal e do projecto comunista».
«Afrontando, assim, a gigantesca ofensiva ideológica, na base da falsificação da histórica, da mentira e da calúnia, que tendo assumido grandes proporções durante as comemorações do centenário da Revolução de Outubro, continuou, sob outras expressões, ao longo de 2018, procurando apagar, deturpar ou caricaturar o legado, intervenção e luta de Karl Marx, a teoria marxista-leninista e aqueles que a assumem na sua acção transformadora, nomeadamente o Partido Comunista Português», disse o também director do Avante!.
«Com estas comemorações, criámos melhores condições para as lutas do presente e do futuro, saímos delas mais conscientes da importância da luta organizada na transformação da realidade», afirmou ainda Manuel Rodrigues, para quem, «duzentos anos decorridos sobre o nascimento de Karl Marx, continua válido e actual o apelo do Manifesto do Partido Comunista: “Proletários de todos os países, uni-vos!”», e para quem, «por mais que o capitalismo proclame o fim da história, a história não termina aqui. Como estas comemorações confirmaram, como a acção deste Partido todos os dias o demonstra, como a luta dos trabalhadores e dos povos o garante, o socialismo é exigência da actualidade e do futuro».