Obras de Cândido Portinari em Portugal

Manuel Augusto Araújo

A obra Café, uma das mais mí­ticas do pintor bra­si­leiro, po­derá ser vista em Vila Franca de Xira entre 20 de Ou­tubro e 3 de Março de 2019

Na ce­le­bração do seu 11.º ani­ver­sário, o Museu do Neo-Re­a­lismo em Vila Franca de Xira apre­senta a ex­po­sição Cân­dido Por­ti­nari em Por­tugal.

O prin­cipal des­taque desta ex­po­sição é sem dú­vida a mí­tica obra Café, ce­dida pelo Museu Na­ci­onal de Belas Artes do Rio de Ja­neiro, que re­gressa ao nosso País 78 anos de­pois de estar ex­posta pela pri­meira vez, em 1940, no Pa­vi­lhão do Brasil na Ex­po­sição do Mundo Por­tu­guês.

Por­ti­nari teve uma enorme in­fluência nas artes vi­suais em Por­tugal, no mo­vi­mento neo-re­a­lista. É de re­cordar que a Ex­po­sição do Mundo Por­tu­guês foi uma ex­po­sição de ca­rácter emi­nen­te­mente fas­cista, «um olhar lan­çado sobre o pas­sado não terá um ca­rácter ex­clu­si­va­mente eru­dito e muito menos ar­que­o­ló­gico. De­verá ser, ao con­trário, uma lição de energia, uma pers­pec­tiva do génio por­tu­guês através de todos os es­tí­mulos de gran­deza, um ba­lanço de forças es­pi­ri­tuais» (An­tónio Ferro), onde entra um ines­pe­rado e muito menos de­se­jado Ca­valo de Tróia.

No Pa­vi­lhão do Brasil, pro­jecto de Raul Lino, o mais tra­di­ci­o­na­lista dos ar­qui­tectos que tra­ba­lharam na Ex­po­sição, que «ex­primia o glo­rioso pro­lon­ga­mento da nossa ci­vi­li­zação atlân­tica», a pin­tura que do­mi­nava um con­junto de­sin­te­res­sante de pin­turas aca­dé­micas era Café, de Por­ti­nari, uma grande tela de 1,30 por 2,00 me­tros de de­núncia das con­di­ções de ex­plo­ração dos tra­ba­lha­dores bra­çais ne­gros e mes­tiços co­lhendo e car­re­gando sacos de café, na época a prin­cipal ex­por­tação do Brasil.

Os jo­vens ar­tistas que se opu­nham ao fas­cismo sa­la­za­rista in­te­grando o mo­vi­mento de uni­dade de­mo­crá­tica, ani­mado pelo Par­tido Co­mu­nista Por­tu­guês, ti­veram a pos­si­bi­li­dade de ver, sem ser me­diado por re­pro­du­ções, uma obra re­pre­sen­ta­tiva do re­a­lismo re­vo­lu­ci­o­nário que se pra­ti­cava nas Amé­ricas do centro-sul.

A in­fluência de Por­ti­nari mais se re­for­çará com as duas en­tre­vistas que Mário Di­o­nísio lhe faz, não era ele «o grande pintor que amá­vamos há tantos anos?», e sobre quem mais tarde pu­bli­cará um livro, Por­ti­nari. A in­fluência do pintor bra­si­leiro e dos mu­ra­listas me­xi­canos, com des­taque para Orozco, que Ce­sa­riny afirma ser «um homem que des­do­brava os ca­mi­nhos do fu­turo» e Pomar «um dos pre­cur­sores da cul­tura vin­doura» nos pin­tores neo-re­a­listas é bem vi­sível so­bre­tudo nos mais des­ta­cados Pomar e Ves­peira.

É esta pin­tura que agora se pode no­va­mente ver nesta ex­po­sição, or­ga­ni­zada por Ra­quel Hen­ri­ques da Silva, di­rec­tora ci­en­tí­fica do Museu, e Luísa Du­arte Santos, que apre­senta todas as obras de Cân­dido Por­ti­nari que existem em Por­tugal e que, à volta de Café, per­mi­tirão ce­le­brar esse re­le­vante pintor numa ex­po­sição de grande qua­li­dade e de di­mensão in­ter­na­ci­onal, com pin­turas e de­se­nhos ce­didos pelo Museu Na­ci­onal de Arte Con­tem­po­rânea do Chiado (Lisboa), Museu Na­ci­onal So­ares dos Reis (Porto), Museu Ca­louste Gul­ben­kian (Lisboa), Casa da Achada – Centro Mário Di­o­nísio (Lisboa), Museu Fer­reira de Castro (Sintra) e Fun­dação Mil­len­nium BCP (Lisboa), para além de im­por­tantes fundos do­cu­men­tais do pró­prio Museu do Neo-Re­a­lismo.

A ex­po­sição é inau­gu­rada no dia 20 de Ou­tubro e pode ser vi­si­tada até 3 Março de 2019.




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