«O PCE aposta na máxima unidade da esquerda transformadora»
ENTREVISTA Presente na Festa do Avante! em representação do Partido Comunista de Espanha (PCE), Yolanda Rodriguez Gonzalez, do secretariado do PCE e responsável pela área da convergência e unidade popular, concedeu ao Avante! uma entrevista em que explica objectivos e princípios do partido no actual contexto político-social.
«Estamos a trabalhar na constituição de uma frente que represente a maioria social»
Como avalias a situação em Espanha com a substituição do governo do PP pelo do PSOE?
Quando ocorreram as eleições [legislativas], o PCE indicou a necessidade de através de uma aliança de governo impedir a continuação da direita corrupta, representada no Partido Popular e Mariano Rajoy e seus aliados, designadamente o Ciudadanos. Nesse momento, tal objectivo não foi alcançado.
Só quando eclodiu um novo caso gravíssimo de corrupção [envolvendo o PP], o PSOE se manifestou disponível para apresentar uma moção de censura. Os comunistas apoiaram essa decisão e, consequentemente, a moção de censura.
Evidentemente, não entrámos para o governo. Este é um governo do PSOE e a vida está a mostrar que continua a representar as posições da troika e a implementar as políticas económicas que afectam a maioria social – os trabalhadores e as trabalhadoras. Aplicam uma «política de gestos», com importantes medidas como o avanço na igualdade de género e contra a violência machista, por exemplo. Contudo, isso não altera que, no fundamental, este governo prossegue as orientações da troika.
Nesse contexto, que objectivos tem o PCE com a sua intervenção própria?
Procurar, no imediato, que os orçamentos do Estado contenham medidas que favoreçam as classes laboriosas, bem como abolir a reforma da legislação laboral, cujo efeito foi o agravamento da precariedade e a proliferação da miséria para a maioria.
Basta ver que nos últimos anos os ricos de entre os mais ricos, ou seja, com fortunas superiores a 300 milhões de euros, passaram de 300 pessoas a mil. Pelo contrário, a maioria dos trabalhadores e das trabalhadoras estão cada vez mais precarizados e cresce o número dos trabalhadores e das trabalhadoras pobres, isto é, daqueles que estando ocupados e remunerados não se conseguem sustentar um mês inteiro com o respectivo salário.
Entre estes tem crescido o número de mulheres.
Dados da Cáritas, organização que ninguém se atreve a dizer que é «bolchevique», indicam que em Espanha subsistem pelo menos oito milhões de pessoas pobres.
As questões nacionais estão sempre na ordem do dia em Espanha. Estão porém agora mais vivas com o desenrolar do processo na Catalunha. Como avaliam a situação e que abordagem defendem para as questões nacionais?
O PCE considera que quer o PP quer o PSOE cometeram um equívoco ao aplicarem o Artigo 155 [o qual faculta a intervenção da administração central caso esta considere que as autoridades de uma determinada região violam os preceitos constitucionais ou legais e o interesse geral]. O PCE sempre defendeu o direito dos povos à autodeterminação, para a Catalunha como para todas as demais chamadas «nacionalidades históricas». Para além desta posição de princípio, também sempre defendemos a unidade de todas as comunidades numa república federal.
O que resulta claro é que a intervenção da administração central na Catalunha não serviu para nada. Só trouxe mais confronto e o aprofundamento do extremar de posições. Indiscutivelmente teve o efeito contrário ao pretendido, isto é, acabou por promover o sentimento independentista na Catalunha.
Dito isto, importa esclarecer que o PCE não advoga os partidos independentistas em Espanha. Consideramos que os problemas que, no caso, os catalães enfrentam são iguais aos que enfrentam todos os outros. A reforma da legislação laboral e a sua aplicação, como as políticas da troika, são impostas de igual forma e com igual violência quer na Catalunha quer no restante território.
O direito dos povos a decidir é um princípio inalterável, mas o que defendemos é a união numa república federal.
Hoje, nós, PCE, colocamos muito em causa o processo de transição [com o fim da ditadura franquista]. Por isso entendemos igualmente que é necessário um novo processo constituinte, em cujo texto fundamental passe a ter no seu centro as pessoas.
No próximo ano vão ocorrer eleições para o Parlamento Europeu. Com que objectivos vai o PCE abordar esse sufrágio?
O PCE aposta na máxima unidade da esquerda transformadora. Nesse sentido, estamos a trabalhar na constituição de uma frente que represente a maioria social. Estamos num processo de negociação com as distintas forças políticas e acreditamos que no próximo mês de Dezembro, existirão já condições para apresentar uma proposta de programa social.
Com que impressão ficaste da Festa do Avante!?
Esta é a expressão de um partido organizado, muito enraizado no povo e que, por isso, promove uma iniciativa de conteúdos contrários aos do neoliberalismo. Fez-me recordar muito as primeiras festas organizadas pelo PCE.
Quando o povo se organiza, quando o partido comunista se organiza, há futuro.