Rentrée atribulada

Filipe Diniz

Abertura do ano lectivo. Saúde. Ferrovia. Táxis. Podiam citar-se outros sectores, mas o essencial é isto: a rentrée do governo minoritário do PS está a ser francamente atribulada. E duas coisas que impressionam particularmente. Uma, a vã tentativa de contornar problemas com propaganda e promessas. Outra, o fazer de conta que não se passa nada, como sucede com a luta dos taxistas (e aqui a questão não toca só o governo central, toca também o governo municipal do PS em Lisboa).

O que estes problemas acumulados têm em comum é elementar. Eram completamente previsíveis e resultam de opções políticas do PS, associado ou dando seguimento ao que PSD e CDS fizeram anteriormente. Prosseguimento dos cortes no financiamento e no investimento público, para «bem do défice das contas públicas» e para mal de tudo o resto, em particular os trabalhadores e as populações.

Prosseguimento dos favores aos privados e às multinacionais, como é flagrante nos casos da UBER e da Cabify. Com um historial de rejeição em todos os continentes, da Austrália ao Alasca, essas multinacionais tiveram força para, por duas vezes, verem aprovada na AR legislação a seu favor. A rejeição dessas plataformas não é uma questão que diga apenas respeito ao sector dos táxis. Elas são uma das expressões mais acabadas de uma área de actividade em que uma multinacional pode arrecadar chorudos lucros praticamente sem trabalhadores a si vinculados e sem qualquer espécie de responsabilidade social. De uma multinacional que funciona sobre a precariedade e a concorrência sem regras. Porquê? Porque PS, PSD e CDS a deixam, e porque tem à sua disposição, como de costume, um colossal e indefeso exército de reserva.

A Uber, Cabify e outras são muito mais do que apps: são o «exército de reserva» ao volante.




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