Julius Fucik, cantor e construtor da liberdade e da paz
Reportagem sob a Forca é um hino à vida e à Humanidade
A longa luta dos explorados pela sua emancipação e libertação gerou muitos mártires e heróis. Com origens, percursos e latitudes diferenciadas, inseridos sempre num combate mais geral, une-os uma mesma dedicação sem limites à causa da abolição da exploração e da opressão e um profundo amor aos povos.
Um desses heróis é Julius Fucik, enforcado com apenas 40 anos na prisão da Gestapo em Praga. Pagou com a vida a dignidade de se opor corajosa e organizadamente, nas fileiras do Partido Comunista, à ocupação nazi-fascista da sua pátria. Em tempo de traição generalizada – quando os governos britânico e francês, chefiados respectivamente por Chamberlain e Daladier, aceitaram desmembrar a Checoslováquia e entregá-la a Hitler, no tristemente célebre Pacto de Munique –, Fucik e os seus camaradas optaram pela via mais dura, a da resistência clandestina. Muitos, como ele, caíram nas garras da Gestapo, que como o próprio Fucik escreveu em Reportagem sob a Forca, significava «o fim».
O governador do então chamado Protectorado da Boémia e Morávia, Reinhard Heydrich, pertencia ao núcleo duro do nazi-fascismo alemão e foi um dos teóricos da Solução Final para o Problema Judaico, designação burocrática do Holocausto. Na Checoslováquia, entre muitos outros crimes, ordenou o massacre na aldeia de Lídice, em Junho de 1942: os homens com mais de 15 anos foram fuzilados, as mulheres e crianças enviadas para campos de concentração e todos os edifícios arrasados com explosivos.
A resistência, essa, nunca cessou. E o Partido Comunista, a cujo Comité Central Julius Fucik pertencia quando foi preso, foi sempre o seu mais destacado motor.
Amar a vida
Reportagem sob a Forca é a mais famosa obra de Julius Fucik. Escrita na prisão em folhas soltas, foi mais tarde compilada e editada pela sua companheira, Gusta Fucikova, que no prefácio à edição portuguesa, de 1975 (publicada pelas Edições Avante!), realçou que a obra «reconfortava tanto os combatentes do Vietname como os de Cuba e da América Latina».
A obra é, de facto, notável. Denuncia o terror e a opressão nazi-fascistas e o quotidiano de violência prisional que, como muitos outros, o próprio autor conheceu. Recorda camaradas corajosos e dedicados e «figurinhas» que servil e cobardemente serviram os novos senhores. Descreve uma e outra vez o confronto com a morte e o sofrimento de não saber o destino da mulher amada. Porém, escreve, «podem tirar-nos a vida, não é verdade, Gustina? Mas nunca a nossa honra e o nosso amor».
O que mais impressiona em Reportagem sob a Forca é precisamente os valores e sentimentos que dela sobressaem. Escrito em condições inimagináveis, é um hino de confiança na Humanidade e uma ode à vida – que Julius Fucik amava e desejava «livre e bela». Contudo, «mesmo mortos, viveremos num cantinho da vossa felicidade, porque por essa felicidade demos a nossa vida».
Heroísmo simples
A vida e as circunstâncias da sua morte, a coragem e sensibilidade que demonstrou até nos momentos mais difíceis e os notáveis textos que deixou fizeram justamente de Julius Fucik um herói da luta antifascista e pela paz e um exemplo de militante comunista.
Pablo Neruda dedicou-lhe um poema e, da tribuna do Segundo Congresso Mundial da Paz, realizado em Varsóvia no final de 1950, afirmou: «vivemos na época que amanhã se chamará a época de Fucik, época do heroísmo simples… Em Fucik há o sentido não só de um cantor da liberdade mas de um construtor da liberdade e da paz».
O Conselho Mundial da Paz homenageou-o a título póstumo nesse mesmo congresso com o Prémio Internacional da Paz e a Organização Internacional de Jornalistas teve como máxima distinção a Medalha de Honra Julius Fucik. As Nações Unidas instituíram o 8 de Setembro, data do seu assassinato, como Dia Internacional do Jornalista.