Glifosato: por uma abordagem responsável e sensata

Vladimiro Vale

PCP apresentou propostas na AR

A notícia da condenação da Monsanto-Bayer por um tribunal de S. Francisco(EUA)considerando «haver evidências claras» que o glifosato foi causador de cancro num manuseador habitual do produto, e que a multinacional escondeu riscos para a saúde da utilização do herbicida, que não deve ser desligada dos desenvolvimentos no sector da agroindústria, em particular a compra da Monsanto (Americana) pela Bayer (Alemã) por 60 mil milhões de euros, veio colocar a questão, de novo, na ordem do dia.

A utilização de herbicidas e pesticidas seja na agricultura, seja em jardins e espaços públicos em geral tem suscitado do PCP uma posição não apenas de preocupação mas também de proposta para dar uma resposta alargada a este problema. Não ignorando os múltiplos estudos existentes quanto aos impactos do herbicida glifosato sobre o ambiente e a saúde humana, o PCP tem optado por uma abordagem responsável fugindo à tentação de explorar, com objectivos meramente políticos e partidários, um clima de alarme que se tem procurado criar em torno do tema.

A Monsanto produziu o Roundup (glifosato) durante décadas,vendendo também as respectivas sementes tolerantes ao químico, o que lhe permitiu dominar uma fatia importante da agroindústria e da produção de alimentos. A patente do glifosato expirou em 2001, o que permitiu que fosse possível produzir e utilizar glifosato com custos muito menores, sendo que a Bayer tem vindo a colocar no mercado o Liberty, um substituto do glifosato (único substituto eficaz, segundo a marca). Tendo isto em conta, qualquer campanha que se foque apenas neste produto específico, pode vir a fazer da Bayer a grande beneficiária,criando condições para afirmar outros produtos mais lucrativos.

Foi tendo estes elementos em consideração que o PCP apresentou na Assembleia da República, um Projecto de Resolução propondo a constituição uma comissão multidisciplinar permanente, dotada de capacidade técnica e científica e envolvendo entidades públicas com responsabilidades nas áreas da saúde, ambiente, agricultura, trabalho e economia, com o objectivo de apreciar,em conformidade com a informação científica e técnica disponível, a adequação das condições de utilização de produtos contendo glifosato, propondo as medidas adequadas, e que estabeleça, após compilação e análise da informação científica e técnica necessária, a indicação quanto à possibilidade ou interdição da utilização de produtos contendo glifosato e, ainda, que assuma funções de acompanhamento da toxicidade dos produtos fito farmacêuticos utilizados em Portugal.

O projecto do PCP recomendava ainda o estabelecimento de um calendário para criação de uma lista de coformulantes a interditar em fito-fármacos, a promoçãoe o estímulo à investigação sobre o controlo de plantas infestantes nos espaços públicos e nas culturas agrícolas, e que se reforcem e promovam as medidas de protecção e produção integradas na actividade agrícola.

A utilização do glifosato ou de outros produtos similares, bem como de pesticidas, a promoção e cultivo de variedades transgénicas, o fomento da agricultura intensiva e super intensiva com a sobre-exploração da terra e da água, o ataque à pequena e média agricultura são, pois, aspectos a que, de forma integrada, é preciso continuar a dar toda a atenção, pelo que significam de domínio pelos monopólios do agronegócio da produção agrícola mundial e, em consequência disso, da sua sujeição à voragem pelos lucros imediatos.

Tal como o PCP tem vindo a referir: «A seriedade do problema e a natureza da relação do ser humano com os ecossistemas onde se insere, obrigam a grande racionalidade, sensatez e serenidade na abordagem a matérias com este nível de complexidade.» A proposta, o compromisso e a abordagem que o PCP tem vindo a propor vão no sentido de dar um contríbuto sério na apreciação desta problemática.




Mais artigos de: Argumentos

Forte de Peniche – um exemplo de salvaguarda do património

No Museu de Arte Popular, em Belém, pode ver até dia 16 de Setembro, os trabalhos concorrentes ao Concurso da Fortaleza de Peniche que foi ganho pelo Atelier AR4, coordenado pelo arquitecto João Barros Matos, tendo sido atribuídos o segundo lugar à proposta do atelier FSSMGN Arquitectos, Lda,...

Agosto

Tem sido o pleno mês de Agosto, a chamada «silly season» em português contemporâneo, e as redacções dos diversos canais de TV dão sinais de dificuldade para encontrar conteúdos. Por vezes chegam-lhes apoios, digamos assim: morre um sujeito muito rico, o que, porque o era, promove o falecimento a notícia prolongada, ou um...